Lembram-se de como era gostoso se sentar à mesa para poder compartilhar a excelente refeição de domingo preparada por nossas mães ou avós? Quantos de nós ainda guardamos esse hábito tão essencial para a preservação da família? E não me refiro apenas a macarronada com almôndegas ou acompanhada de um bom frango assado servida nos finais de semana, penso que é fundamental resgatar as refeições e muitos outros hábitos importantíssimos para que possamos ajudar na reestruturação das famílias em nosso país.
Prof. Dr. João Luiz de Almeida Machado
Esses encontros já não fazem parte da realidade de uma grande parte das crianças e adolescentes da atual geração de brasileiros. Nossos filhos, sobrinhos e alunos vivem mais próximos de terceiros ou, às vezes dos avós, do que de seus pais e responsáveis diretos...
E o pior é constatar que nos momentos em que nos encontramos com nossas crianças não são poucas as vezes em que, cansados pela maratona de compromissos, tentamos distanciá-los ainda mais oferecendo-lhes como contrapartida a televisão, o computador ou seus jogos eletrônicos.
Não dá para desprezar as necessidades e cobranças do mundo adulto e profissional. Todos precisam trabalhar e conseguir ganhar o pão de cada dia com o suor de seus rostos. No entanto, temos que refletir acerca das implicações desses nossos atos para a formação de nossos filhos e as futuras conseqüências dessa nossa distância para o futuro dos mesmos.
E quando paramos para pensar nisso acabamos, muitas vezes, descobrindo os motivos para atitudes rebeldes ou desobediências a que somos submetidos por nossos filhos.
Piercings ou cabelos pintados podem ser simplesmente elementos de adesão aos modismos das novas gerações, mas também podem ser motivados por insatisfações em relação às respostas que temos dados aos nossos herdeiros (e não há, de modo algum, restrições ou preconceitos em relação à utilização desses adereços ou modismos pelos jovens).
O problema é imaginar que de situações corriqueiras e aparentemente sob controle, como as que mencionei acima, os problemas podem aumentar para crises de complexa resolução ou ainda praticamente insolúveis. O abalo das estruturas nervosas, a entrada no mundo das drogas, a insegurança, a solidão, o medo de tudo e de todos, a busca de estabilidade e identidade em pessoas perigosas, a agressividade ou a queda de rendimento e aproveitamento na escola são indicativos de situações decorrentes desse distanciamento dos pais em relação a seus filhos.
Não adianta tentar suprir as horas que passamos longe de nossos filhos com presentes, idas a restaurantes e lanchonetes ou ainda com passeios e viagens nas férias. A constância de nossos comportamentos e práticas em relação aos filhos é o que ajuda realmente a reduzir os problemas da ausência motivada pelos compromissos.
Quando falo em constância me refiro a necessidade de vivenciarmos de forma integral e plena a nossa presença em casa com os filhos. Se chegamos tarde, depois de um exaustivo dia de trabalho, mesmo assim precisamos dispor de tempo para conversar, brincar, ler, perguntar sobre os acontecimentos da escola, programar atividades, jogar e também saborear uma deliciosa refeição juntamente com os membros de nossas famílias.
Perdemos um pouco a noção do porto seguro que deve simbolizar o retorno para nossas casas e famílias. Já não notamos o quanto é importante colocar os pés em terra firme, amarrar as cordas ao píer, andar com segurança sobre as tábuas do deck e, depois de uma longa e tempestuosa jornada de pesca, sentar-se à mesa para degustar o delicioso jantar preparado por nossas famílias.
Temos que, inclusive, convidar as crianças a participar do processo de produção de nossos alimentos. Inicialmente arrumando a mesa, pegando ingredientes ou até mesmo auxiliando com a louça a ser lavada. Numa etapa posterior seria muito agradável ensiná-los a preparar algumas receitas simples e ajudá-los a definir temperos e sabores...
O espírito cooperativo das crianças é despertado e estimulado quando dividimos funções e responsabilidades com os pequenos. Ajudar a arrumar a mesa, lavar a louça ou ainda a preparar alimentos é uma forma de aproximar as crianças, dar-lhes gosto e satisfação por participarem e estreitar os laços de companheirismo.
Crescemos e nos reforçamos como família não apenas quando nos sentamos juntos numa mesma mesa para compartilhar nossos alimentos. A unidade e segurança decorrem da interação, do auxílio que prestamos uns aos outros, da presença de alma e espírito, do diálogo necessário e fundamental, do bom humor e também da capacidade de compreensão e amor que devemos devotar aos nossos mais próximos e estimados entes.
Falo das refeições apenas como uma representação de um todo que deve incluir a inserção das crianças nos planos e projetos de nossas vidas. Quando digo isso não me refiro ao fato de que eles também serão afetados por nossos movimentos futuros, mas que também sejam comunicados e consultados quanto a isso. Suas opiniões devem ser escutadas e levadas em consideração. Desde cedo os pequenos devem saber que a vida depende de decisões, planos, diálogo e entendimento.
Temos que aumentar a nossa convivência com os filhos de forma simples e sincera. Para fazer isso podemos participar de suas brincadeiras, leituras, compromissos, amizades, hobbies, cardápios, músicas, opções de roupas...
Há muitos pais que não sabem com quem andam seus filhos. Há tantos outros que nem desconfiam por onde andam as crianças. Não adianta dar telefones celulares para tentar monitorar, isso não indica realmente onde e com quem estão as crianças. Nossa segurança (e principalmente a deles) depende da educação e dos valores que trabalhamos em nossos lares e que devemos cobrar da escola.
Se falamos a verdade, pregamos a sinceridade, a decência, a honestidade e outros bons princípios a tendência é que nossos filhos também vivenciem essas práticas e idéias. Vale ressaltar que não basta falar, é necessário ser coerente e agir de forma a consolidar tal ética e filosofia de vida. De que adianta reiterarmos que não se devem falar palavrões ou que fumar faz mal para a saúde se a todo o momento utilizamos palavras de baixo calão ou se fumamos um cigarro atrás do outro?
Sejam criativos na relação com seus filhos: Resgatem os bons e velhos jogos de tabuleiro; Ensinem as crianças a fazer palavras cruzadas; Leiam as fábulas ou outras histórias destinadas aos pequenos dando alma e sabor as tramas; Façam deliciosos sanduíches (de preferência naturais, com bastante salada); assistam juntos a um bom desenho e depois conversem sobre o que viram; joguem bola ou andem de bicicleta...
Esse companheirismo será o melhor e mais lembrado presente que vocês poderão dar a seus filhos. Criar-se-á uma relação estável, gostosa, interessante e perene que trará grande satisfação para todos. Estaremos estimulando o surgimento de pessoas saudáveis tanto física quanto emocional e intelectualmente. Estaremos dando exemplos que firmarão solidez para as famílias de nossos filhos e, que consequentemente, ajudarão as novas gerações a viverem mais harmoniosamente. Além do mais, não há nada tão gostoso quanto o temperinho caseiro...
Prof. Dr. João Luiz de Almeida Machado
é articulista e membro da Academia Caçapavense de Letras
3 comentários:
Professor João Luiz, alio-me aos seus pensamentos e peço ao Todo Poderoso que faça que isto um dia seja a realidade em todas nossas famílias.
Parabéns ao Professor João Luís e à Academia Caçapavense de Letras por tê-lo como membro.
Estes ensinamentos do Professor João Luís Almeida Machado deveriam ser impressos e distribuídos em escolas, praças e residencias para que todos tomassem conhecimento de quão simples é mudar este mundo violento e adverso em que vivemos. Gestos simples mas carregados de afeto, amor e compreensão, que são os ingredientes necessários para as mudanças que reclamamos.
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