Taiadablog: Os primeiros voos de um copiloto !!!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Os primeiros voos de um copiloto !!!

A experiência exigida pelas empresas aéreas para a contratação de novos copilotos pode variar. Alguns podem vir com mais horas de vôo, portanto, com mais experiência. Outros podem ter pouquíssima experiência, sem ter sequer trabalhado como piloto, com somente 300 horas de voo.

Para quem já possui experiência, a adaptação em uma empresa aérea será certamente mais fácil, embora na fase de instrução o importante seja a vontade de aprender e a dedicacão aos estudos. Não raro os mais jovens possuem mais facilidade para assimilar ensinamentos. Independente do “background” do piloto, o seu primeiro voo em uma companhia aérea é sempre um grande acontecimento.


Antes deste primeiro voo, já admitido na empresa, ele tem pelo menos dois meses de curso com aulas teóricas e em seguida um programa de treinamento em simulador de vôos. Assim, embora a expectativa seja grande, ao chegar ao aeroporto nem tudo será novidade.

A tripulação se apresenta para o voo uma hora antes da decolagem, mas nosso amigo que vestiu pela primeira vez o uniforme de copiloto da empresa, certamente chegará com uma antecedência maior. Terá olhado todos os boletins meteorológicos, lido os informativos referentes ao voo a ser realizado e estará ansioso à procura da tripulação do voo.
O comandante do voo, com quem voará por cerca de três ou quatro meses, será seu instrutor e por isso há uma torcida mútua para que ambos se dêem bem.


Neste primeiro voo o aluno compõe a tripulação na condição de "observador", ou seja, há um copiloto titular do voo para que o aluno não precise ocupar o assento de pilotagem. Ele irá apenas acompanhar o voo na cabine de comando, observando e se familiarizando com a rotina do dia-a-dia. Ele está ávido por aprender e quer receber o máximo de informações e dicas.
Alguns aspectos da rotina ele percebe que é bem mais fácil de serem realizadas, pois em sala de aula há sempre certo mistério. Mas também ele descobre que em voo o relógio está correndo, não há tempo a perder! O copiloto titular do voo quer ajudar e bombardeia o jovem aprendiz com tantas informações que neste momento chega a atrapalhar.


O período de “observador” leva em média 15 dias, ou 30 horas de voo. Na primeira etapa o aluno vai ajudar nos preparativos pré-voo, acompanhando o copiloto na inspeção externa e executando tarefas simples. Na etapa seguinte ele poderá ocupar o assento do copiloto durante o voo de cruzeiro.
Na próxima ele ainda estará observando durante a decolagem, mas ao cruzar 10.000 pés na subida ele vai assumir o assento da direita até pouco antes do pouso, quando volta a ser um observador. Se o instrutor sentir firmeza, a próxima etapa terá o aluno assumindo o lugar do copiloto, enquanto que o titular fica sentado no assento do observador, atento e pronto para alertar e ajudar se necessário.

O comandante é quem decola e pousa, enquanto seu aluno, sentado ao seu lado, o assessora ao mesmo tempo em que se familiariza com a “mecânica” de decolagem e pouso específicas daquela aeronave.

 Mais algumas horas de voo e já esta chegando a hora de deixar que o aluno finalmente efetue, ele mesmo, a decolagem e o pouso. Para isso o instrutor escolhe não apenas pistas longas, mas também boas condições climáticas. Para esta primeira decolagem e principalmente para o pouso, o instrutor esta “arisco” e pronto para assumir os comandos.


A decolagem é mais simples, mas não raro o comandante tem que interferir através de comandos verbais, ou mesmo atuando diretamente nos comandos. O primeiro pouso provavelmente será feito a quatro mãos e com muitas instruções por parte do instrutor durante a aproximação. Em breve, conforme a evolução do aluno, ele deixara de ser “observador” para ser o copiloto titular do voo.

Até o fim da instrução, bons e maus pousos virão. Pistas longas e pistas curtas, decolagens com sol na cara e pousos na madrugada. O instrutor acompanha o progresso do aluno efetuando briefings e debriefings relativos aos diversos tipos de operações. A parte teórica também é importante e todos os sistemas do avião serão discutidos com o aluno. Regulamentos, performance, técnicas de pilotagem, voo em condições adversas e situações de emergência serão abordados ao longo do treinamento.

Ao final da instrução o copiloto-aluno já deve ser capaz de assumir plenamente o voo no caso de uma incapacitação do comandante. Para se certificar que o aluno está “safo” e que pode dar conta do recado, na última fase da instrução haverá alguns voos em que o comandante fará o mínimo necessário, deixando que seu aluno se vire! Este tipo de treinamento é conhecido por “pilot incapacitation”, e é um momento de verdadeira gloria para o aluno que se sente capaz e pronto. Estando o aluno afiado ele estará liberado para os vôos de avaliação.


Tanto o instrutor quanto o aluno estão contentes. O aluno, ainda que tenha gostado de seu instrutor, quer se livrar dele para poder conhecer outros comandantes, e seguir em frente em sua carreira, aprendendo e se aprimorando.

O instrutor também esta contente, pois acompanhou a evolução do seu aluno e voltará a voar com copilotos mais antigos e tarimbados.

Até que um dia, em um futuro não muito distante, aquele comandante-instrutor, ao se apresentar para voar, vai se reencontrar com seu ex-aluno, agora um experiente e competente piloto. E ambos vão descobrir que naquela programação há dois copilotos escalados para o mesmo voo!

É um novo aluno, que chegou cedo ao aeroporto e está ansioso para o primeiro voo.

*Nestas fotos eu ainda era aluno, voando o Embraer Bandeirante em 1985, e o Airbus A-300 em 1988
Comandante Beto Carvalho é aviador e piloto dos grandes jatos
http://betocarva.blogspot.com/

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante sua história... eu estou terminando o curso PP, tenho 24 anos de idade, me chamo Saullo Martins, moro em Santa Catarina, quero um dia chegar a onde vc chegou, e vendo seus relatos... me deixa mais direcionado no que pretendo chegar.... Obrigado por passar sua experiência..