Minha programação naquela noite não poderia ser mais simples: apenas uma etapa de Congonhas para Brasília com decolagem as 20 h para no dia seguinte regressar a São Paulo. Apesar de ser uma programação fácil, dei uma cochilada após o almoço, afinal, nunca se sabe quando vai ocorrer uma mudança nos planos.
Eram quatro horas da tarde quando recebi um telefonema da “escala de voos” com uma solicitação para alteração na programação. Um avião que deveria ter pousado em Caracas/Venezuela teve que seguir para o aeroporto de alternativa, gerando com isso uma grande mudança na programação dos tripulantes que estavam no hotel em Caracas. Uma tripulação completa deveria ser deslocada imediatamente para lá com a finalidade de trazer o voo para o Brasil na noite seguinte.
Verifiquei a minha mala e chequei o passaporte para seguir para a terra de Hugo Chávez. A viagem até Caracas seria na condição de passageiro, voando TAM, com decolagem a meia noite. Em termos de remuneração foi uma mudança fantástica, pois ao viajar a serviço, ainda que na condição de passageiro, recebe-se o valor das horas extras/noturnas na mesma proporção que receberia se estivesse tripulando. Dinheiro fácil! O problema é que a idéia de estar na cabine de passageiros de um Airbus da TAM me deixou apreensivo. Explico: a TAM, pelo seu histórico de acidentes e a aeronave Airbus, pelo excesso de automatismo, que em minha opinião foi fator contribuinte para vários acidentes já ocorridos.
Em Guarulhos me encontrei com os demais tripulantes e seguimos para efetuar o check-in, onde recebi a reconfortante informação de que o voo seria realizado com um Boeing 767! Devo dizer que toda a viagem, do check-in ao desembarque em Caracas, foi perfeita.
Fomos bem recebidos pela tripulação da TAM, inclusive pelo Comandante, que ao saber de nossa presença, fez questão de nos dar as boas vindas pessoalmente. O 767, embora com com bons anos de uso, estava com o interior bem conservado e todo o atendimento e serviço de bordo foi impecável, até parecia a Varig dos bons tempos. Um tripulante nunca é um passageiro normal, pois ele está sempre muito atento, e acaba sendo muito crítico. A aproximação final para pouso em Caracas se deu com muita turbulência e variações bruscas e constantes na aceleração dos motores. Mais uma vez eu fiquei feliz por estar em viajando em um Boeing! No desembarque, elogiei e agradeci ao Comandante pela viagem. Parabéns para a TAM!
Caracas é, em minha opinião, o pior pernoite de todos. A cidade não é bonita e nem agradável, o risco de ser assaltado nas ruas não é pequeno, não há nada de bom para comprar e o valor da diária de alimentação que recebemos para o pernoite não pode ser trocado por dólares. Outra aspecto que é muito "bizarro" na Venezuela é o fuso horário. A diferença de horas para São Paulo é de menos 02:30 hs.
Duas horas e MEIA? Que maluquice! Coisa do Chávez! Há um passeio de teleférico que só vale à pena quando ele termina! É que o percurso montanha acima é muuuuito longo e em alguns trechos você reza para que a manutenção dos cabos, gôndolas e postes esteja em ordem, já que em caso de acidente a queda seria grande. Lá em cima há uma vista linda que em dias de céu claro pode se avistar o mar do Caribe. O passeio é bom, mas eu não recomendaria a um amigo.
Mas nem tudo está perdido no pernoite de Caracas! O hotel é excelente. Como o tempo estava ruim e ficamos apenas 15 horas no hotel, aproveitei para descansar bastante. Descansar da noite mal dormida por ocasião da viagem de SP para Caracas e me preparar para mais uma noite acordado, já que a decolagem na volta foi às onze da noite. Pousei em Guarulhos às seis da manhã, e pouco depois eu já estava em casa.
Contudo, entre mortos e feridos, foi bom para Caracas!
Comandante Beto Carvalho é aviador e piloto dos grandes jatos
Nenhum comentário:
Postar um comentário