Pelos dados da Pnad-2010, o salário médio de um professor da educação básica é 40% menor que o de um trabalhador com o mesmo nível de escolaridade. No rico Estado de São Paulo, por exemplo, a remuneração média de um professor é de R$ 1.905 e a de um profissional de outra ocupação, R$ 3.306. Neste caso, a equação está feita: melhores cursos de formação dos docentes + remuneração adequada + capacitação continuada = bons professores, que ensinarão mais e melhor. [O futuro do Brasil depende da educação. artigo de Miguel Jorge, publicado pelo jornal "O Estado de São Paulo", em 19/07/11]
Analise a questão acima exposta da seguinte forma: Você estuda, faz seu curso universitário, se forma, ingressa no mercado de trabalho, acumula alguns anos de experiência conforme demandam os contratantes, faz especializações e, ainda assim, ganha 40% a menos que um profissional com igual nível de qualificação.
Pode-se argumentar que há professores sobrando no mercado e que isso é fruto da lei de oferta e procura. Será? Os dados indicam que não. Há uma carência de profissionais da educação, com maior necessidade em disciplinas como física, matemática, geografia, língua estrangeira... Bom, basicamente em todas as áreas do conhecimento há algum déficit.
E se pensarmos na equação proposta pelo articulista (melhores cursos de formação dos docentes + remuneração adequada + capacitação continuada = bons professores), passamos para um outro ponto, ou seja, aquele que se refere a qualidade dos profissionais que estão trabalhando e que, por conta da formação deficiente, da baixa remuneração, dos benefícios que não são equivalentes aos de profissionais de outras áreas e, mesmo, da inversão de valores que assola a sociedade, com os professores sendo acuados por pais e alunos por conta de resultados ruins na escola, percebemos que o buraco é ainda mais fundo...
Quem quer ser professor e enfrentar uma rotina de trabalho que inclui, para composição de renda, trabalhar em 2 ou mais estabelecimentos de ensino, com salários reduzidos, sofrendo com a indisciplina, sendo ameaçados física e juridicamente por pais e alunos, tendo dificuldades com recursos de trabalho e todas as demais dificuldades percebidas pelos docentes?
Vamos fazer outro cálculo, mais rasteiro, mas igualmente importante: uma manicure ou cabeleireira, que fez alguns cursos para aprender as técnicas de seu trabalho e que as executa de forma competente tendo, por isso, boa clientela. Cobra entre 10 e 30 reais para pintar as unhas de suas clientes ou cortar seus cabelos. Levando-se em conta que os dois trabalhos realizados levem aproximadamente 1 hora (corte e pintura de unhas) e que, por esta ação, a remuneração total seja de R$40,00 (quarenta reais).
Se esta profissional trabalhar 8 horas por dia, num mesmo local de trabalho, de terça a sábado (5 dias por semana), faturando este montante por hora, resultará em R$ 320,00 (trezentos e vinte reais) por dia, R$ 1.600,00 (mil e seiscentos reais por semana) e aproximadamente R$ 6.500,00 (seis mil e quinhentos reais) por mês. Se estiver regularizada pagará impostos, água, luz, telefone, talvez um aluguel... Ainda assim, considerando-se descontos, ganhará mais que um professor... E não terá que corrigir provas, planejar ou preparar aulas a noite e nos finais de semana... Além disso, a velocidade de trabalho é variável, o que pode lhe render ainda mais rendimentos ao final do mês...
A qualidade da educação depende de profissionais atualizados, estimulados, pesquisando e lendo o tempo todo, sintonizados com o mundo, atuando profissionalmente como parceiros da comunidade que atendem, bem remunerados, caso contrário, continuaremos caminhando para o apagão de mão de obra previsto pelos economistas e especialistas para os próximos anos. Como receber eventos como a Copa do Mundo de 2014 ou as Olimpíadas de 2016 sem pessoas qualificadas? Como manter o ritmo de crescimento do país sem trabalhadores especializados? Como fazer tudo isso sem uma educação de qualidade.
Uma das conclusões do estudo do pesquisador Ricardo Paes de Barros, do Ipea (Caminhos para melhorar o aprendizado), a partir dos resultados de 165 estudos acadêmicos brasileiros e estrangeiros sobre educação, é que um aluno que estuda com os melhores professores da rede pública aprende 68% mais que a média dos estudantes. Mais: além de nível de escolaridade, formação profissional e experiência, o sucesso do professor depende também de características como liderança, motivação e persistência. [O futuro do Brasil depende da educação. artigo de Miguel Jorge, publicado pelo jornal "O Estado de São Paulo", em 19/07/11]
Professores bem remunerados e estimulados buscam aperfeiçoamento e são cobrados pelas escolas neste sentido. Fazem cursos de pós-graduação, realizam estudos e leituras em suas áreas e em pedagogia, frequentam cinemas e teatros, participam de eventos culturais, estão sempre propondo alternativas de trabalho que dinamizem suas aulas, desafiam seus alunos e obtém, com isso, rendimento melhor no trabalho com seus alunos, como indicam as pesquisas.
E estes profissionais, sendo assim tão qualificados, são disputados no mercado, demandam mais reconhecimento e benefícios. Isso é um estímulo aos professores para que estudem e empreendam mais e deve ser, igualmente, um alerta para as redes de ensino e seus gestores, públicos ou privados, para que melhorem o holerite de seus profissionais vislumbrando maiores benefícios, melhor rendimento e lucratividade em seus horizontes.
Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado
Membro da Academia Caçapavense de Letras
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