NATAL EM ROMA
Um dos prestigiosos órgãos de imprensa italiana traz, nestes dias, uma nota de L´Observatore Romano, onde o jornal oficioso da Santa Sé comenta o uso largamente espalhado nos lares, como nas lojas e negócios romanos, da árvore de natal. Invenção importada dos países nórdicos e que desvirtua o sentido do Natal cristão, afiança aquele órgão vaticano.
Se é, pois, verdade, leitor, que Roma sente atrativos por um produto importado e sem um lídimo significado religioso, nenhum daqueles que teve, uma vez, a ventura de passar o Natal na Cidade Eterna, poderá negar-lhe o privilégio de contar com os mais belos e artísticos presépios da cristandade.
Todas as igrejas da Urbe, destacando-se as primitivas e medievais, parecem querer entrar em concorrência umas com as outras para apresentar o presépio de maiores atrações. Assim, os presépios de Aracoeli, à qual se é levado por uma escadaria colossal; de Santa Maria Maggiore, que presume conservar relíquias da manjedoura onde for reclinado o Menino recém-nascido; de Trinitá dei Monti, para não citar que esses, procuram retratar com arte e encantadora poesia cristã o sagrado mistério da Natividade, usando de todos os recursos da imaginação e da técnica.
Aqui é o Bambino que abre e fecha os divinos olhinhos, felicidade das crianças romanas, que o fitam extasiadas. Ali os anjos, que se reúnem intermitentemente junto à santa gruta, para celebrar e anunciar o advento do Deus Menino. Acolá é a lua, deslocando-se vagarosamente no céu azul e estrelado, como a querer emprestar um pouco de seu brilho à noite venturosa.
São os pastores outra nota característica do natal romano. A cada canto da cidade, junto aos presépios, rodeados de pequenos e grandes, fazem a alegria de quantos ouvem as suas flautas a desatar as notas melodiosas do: "Tu scendi dalle stelle / Ò Rè Del cielo / E vieni in una grotta/ al freddo al gelo ("Tu desces das estrelas / Ó Rei do céu / E vens em uma gruta / ao frio, ao gelo").
Nas noites do natal, a Piazza Navona, uma das mais belas obras do gênio de Michelangelo, regorgita de risos infantis, de barracas cheinhas de toda sorte de ameixas, nozes, pannetone, doces e muita luz, música e festas. É o paraíso das crianças, que, acompanhadas de seus pais, enchem seus corações da alegria pura das festas natalícias.
Mas, falar de Roma, de Roma no Natal, e esquecer aquele que lhe dá alma, que lhe é luz, calor e energia, seria, da parte de um cronista, falta imperdoável
As festas romanas do Natal são marcadas pela presença do Papa. Radiomensagem natalícia, recepção dos embaixadores e cardeais, missa de manhãzinha e às 10hs, na Basílica de São Pedro, alocução no saguão da Basílica, com as colunatas de Bernini abraçando a multidão de fiéis, seguidas da benção Urbi et Orbi, tudo isto destaca a presença do Papa nesse ambiente natalício, revelando-se como uma das mais expressivas características do Natal Romano.
Geraldo Ferreira Lanfredi
É membro da Academia Caçapavense de Letras
3 comentários:
Enternecedor o texto do Acadêmico Geraldo Lanfredi. Que nos sirva de exemplo e no dia 25 comemoremos bem o aniversariante, pedindo que Ele no dê suas bençãos e proteção. Parabéns ao Doutor Geraldo e ao Taiadablog
Ótimo este texto do Dr. Geraldo Lanfredi, especialmente por estarmos vivendo este período de natal, que deveria ser mais espiritual que comercial, como ocorre. Que o menino-Deus abençoe a todos.
Usando o pleonasmo, vi com meus próprios olhos, o Natal em Roma é tudo isso em 'beleza', dos presépios, cada um com a sua história e originalidade. Os cânticos natalinos, com muita influência, dos antigos trovadores medievais completam a delicadeza e a maneira singela com que os romanos esperam o Jesus bambino. Muito bonita, e feliz a narração do colega Acadêmico Geraldo Lanfredi. Salve. Cleópatra - ACL.
Postar um comentário