Taiadablog: Conto, poema e trovas de Élbea Priscila Souza e Silva

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Conto, poema e trovas de Élbea Priscila Souza e Silva


RAÍZES  
 Pés esparramados, gretados, acostumados aos maus tratos da terra e das pedras.
Enxada ao ombro. Dia comprido e cumprido.
Descansa a enxada na entrada do casebre, abre a porta destrancada.
Sopra as brasas do fogão, acesas ainda sob as cinzas e a chama se faz rubra e bonita.
Reaquece as sobras da marmita, come e cisma.
Sorri ao pensar em sua roça: um milharal pequeno, já embonecado, em feijões subindo pelos pés.
Sente saudade dela, daquela que partira, iludida por vida mais agitada na cidade.
_ Isso aqui é um marasmo, dizia!
E ele desconhecia o significado da palavra, mas sabia plenamente da intenção da mulher.
Ele ficara porque ali criara raízes e se a lida era dura, como explicar a ela sobre a relva úmida da manhã a lhe refrescar os pés gretados e esparramados?
Haveria um modo dela entender o bem que lhe fazia aquela algazarra de bem-te-vis, acordando-o, sem falar no murmurar do regato a lhe embalar o sono à noitinha!
Era a sua terra, era a sua roça. Ele era parte delas.
Lava os pés na velha bacia de alumínio, deita-se em sua catre, apaga a chama do encardido lampião a querosene e dorme.
Dorme e sonha... e sonha com ela.
A porta permanece destrancada.

SONS E LUZ

Sobre o piano, pequena vela,
fraco sol da noite, tênue lume,
de cera, da cor da morte,
derrete-se toda
em formas disformes,
esculpidas formas
por fogo e ar...

Os dedos ágeis,
pálidos dedos,
correm as teclas
pretas e brancas.
Acordes vibrantes
acordam a noite...

E os sons se avolumam
e a vela se exaure,
a dona dos dedos
se exaure também;
gorinha escorrem
da fronte de cera...

A vela agoniza,
acordes finais,
apagam-se os sons
e a luz silencia...
Nas trevas silentes,
a moça tão nívea,
fantasma da noite,
levita... e se vai...

Trovas 

O escravo dorme... e a dor cessa,
cala a chibata medolha,
não há nada mais que o impeça
de ser livre enquanto sonha...

_ Só tu, penumbra, que invades
meu quarto sem cerimônia
sabes de quantas saudades
se compõe a minha insônia...
Élbea Priscila Souza e Silva
É membro da Academia Caçapavense de Letras
Uma das mais talentosas literatas valeparaibanas, seja na prosa ou no verso.
Trovadora respeitadíssima nos quatro cantos do país. 

4 comentários:

Brasilino Neto disse...

Poetisa Élbea belissimos textos que encantam, dão alento e alegram os corações. Num mundo atribulado como este ver contos, poemas e trovas falando de paz e amor, com certeza o torna melhor

Maria Inês Campos disse...

Poetisa Elbea que encanto seus textos, conmo diz o Brasilino, dão alento à alma e tornam o mundo mais ameno. O Raízes é enternecedor. Parabéns continuarei participando deste projeto.

Cleopatra disse...

belíssima apresentação da poetisa e trovadora Élbea.Muita sinceridade e presença romântica encantadora....
Cleopatra.Parabéns.

Mistérios do Vale disse...

Gostaria de entrar em contato com a escritora Élbea, podem me ajudar?
Sônia Gabriel