RAÍZES
Pés esparramados, gretados, acostumados aos maus tratos da terra e das pedras.
Enxada ao ombro. Dia comprido e cumprido.
Descansa a enxada na entrada do casebre, abre a porta destrancada.
Sopra as brasas do fogão, acesas ainda sob as cinzas e a chama se faz rubra e bonita.
Reaquece as sobras da marmita, come e cisma.
Sorri ao pensar em sua roça: um milharal pequeno, já embonecado, em feijões subindo pelos pés.
Sente saudade dela, daquela que partira, iludida por vida mais agitada na cidade.
_ Isso aqui é um marasmo, dizia!
E ele desconhecia o significado da palavra, mas sabia plenamente da intenção da mulher.
Ele ficara porque ali criara raízes e se a lida era dura, como explicar a ela sobre a relva úmida da manhã a lhe refrescar os pés gretados e esparramados?
Haveria um modo dela entender o bem que lhe fazia aquela algazarra de bem-te-vis, acordando-o, sem falar no murmurar do regato a lhe embalar o sono à noitinha!
Era a sua terra, era a sua roça. Ele era parte delas.
Lava os pés na velha bacia de alumínio, deita-se em sua catre, apaga a chama do encardido lampião a querosene e dorme.
Dorme e sonha... e sonha com ela.
A porta permanece destrancada.
SONS E LUZ
Sobre o piano, pequena vela,
fraco sol da noite, tênue lume,
de cera, da cor da morte,
derrete-se toda
em formas disformes,
esculpidas formas
por fogo e ar...
Os dedos ágeis,
pálidos dedos,
correm as teclas
pretas e brancas.
Acordes vibrantes
acordam a noite...
E os sons se avolumam
e a vela se exaure,
a dona dos dedos
se exaure também;
gorinha escorrem
da fronte de cera...
A vela agoniza,
acordes finais,
apagam-se os sons
e a luz silencia...
Nas trevas silentes,
a moça tão nívea,
fantasma da noite,
levita... e se vai...
Trovas
O escravo dorme... e a dor cessa,
cala a chibata medolha,
não há nada mais que o impeça
de ser livre enquanto sonha...
_ Só tu, penumbra, que invades
meu quarto sem cerimônia
sabes de quantas saudades
se compõe a minha insônia...
Pés esparramados, gretados, acostumados aos maus tratos da terra e das pedras.
Enxada ao ombro. Dia comprido e cumprido.
Descansa a enxada na entrada do casebre, abre a porta destrancada.
Sopra as brasas do fogão, acesas ainda sob as cinzas e a chama se faz rubra e bonita.
Reaquece as sobras da marmita, come e cisma.
Sorri ao pensar em sua roça: um milharal pequeno, já embonecado, em feijões subindo pelos pés.
Sente saudade dela, daquela que partira, iludida por vida mais agitada na cidade.
_ Isso aqui é um marasmo, dizia!
E ele desconhecia o significado da palavra, mas sabia plenamente da intenção da mulher.
Ele ficara porque ali criara raízes e se a lida era dura, como explicar a ela sobre a relva úmida da manhã a lhe refrescar os pés gretados e esparramados?
Haveria um modo dela entender o bem que lhe fazia aquela algazarra de bem-te-vis, acordando-o, sem falar no murmurar do regato a lhe embalar o sono à noitinha!
Era a sua terra, era a sua roça. Ele era parte delas.
Lava os pés na velha bacia de alumínio, deita-se em sua catre, apaga a chama do encardido lampião a querosene e dorme.
Dorme e sonha... e sonha com ela.
A porta permanece destrancada.
SONS E LUZ
Sobre o piano, pequena vela,
fraco sol da noite, tênue lume,
de cera, da cor da morte,
derrete-se toda
em formas disformes,
esculpidas formas
por fogo e ar...
Os dedos ágeis,
pálidos dedos,
correm as teclas
pretas e brancas.
Acordes vibrantes
acordam a noite...
E os sons se avolumam
e a vela se exaure,
a dona dos dedos
se exaure também;
gorinha escorrem
da fronte de cera...
A vela agoniza,
acordes finais,
apagam-se os sons
e a luz silencia...
Nas trevas silentes,
a moça tão nívea,
fantasma da noite,
levita... e se vai...
Trovas
O escravo dorme... e a dor cessa,
cala a chibata medolha,
não há nada mais que o impeça
de ser livre enquanto sonha...
_ Só tu, penumbra, que invades
meu quarto sem cerimônia
sabes de quantas saudades
se compõe a minha insônia...
Élbea Priscila Souza e Silva
É membro da Academia Caçapavense de Letras
Uma das mais talentosas literatas valeparaibanas, seja na prosa ou no verso.
Trovadora respeitadíssima nos quatro cantos do país.
4 comentários:
Poetisa Élbea belissimos textos que encantam, dão alento e alegram os corações. Num mundo atribulado como este ver contos, poemas e trovas falando de paz e amor, com certeza o torna melhor
Poetisa Elbea que encanto seus textos, conmo diz o Brasilino, dão alento à alma e tornam o mundo mais ameno. O Raízes é enternecedor. Parabéns continuarei participando deste projeto.
belíssima apresentação da poetisa e trovadora Élbea.Muita sinceridade e presença romântica encantadora....
Cleopatra.Parabéns.
Gostaria de entrar em contato com a escritora Élbea, podem me ajudar?
Sônia Gabriel
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