Taiadablog: O mundo está de braços abertos para o vinho brasileiro !!!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O mundo está de braços abertos para o vinho brasileiro !!!


Quem garante é o Master of Wine Dirceu Vianna Junior, paranaense que vive na Inglaterra há duas décadas e coordenou uma inédita degustação comparativa com vinhos da uva merlot de onze países. Entre os dez que obtiveram as melhores notas, oito são brasileiros. De Londres, ele falou sobre a importância desse estudo para valorizar a imagem do Brasil no mercado mundial de vinhos

P - O que o motivou a fazer um estudo específico sobre a qualidade dos vinhos nacionais da variedade merlot?
DVJ – Esse estudo foi minha tese que conclui o curso do Institute of Masters of Wine. Devido à reputação do Instituto, inevitavelmente trabalhos como esse geram interesse por parte da indústria do vinho e da mídia internacional. Optei por não aceitar ajuda de nehuma instituição e fazer algo com recursos próprios, com o objetivo de ajudar a indústria brasileira. Em relação ao tema, escolhi os vinhos da variedade merlot por entender que o consumidor brasileiro parece ter preferência por vinhos tintos – e também pelo fato de vinhos tintos apresentam melhores benefícios para a saúde. Espero que os produtores levem em consideração as recomendações técnicas para que no futuro tenhamos melhores vinhos produzidos em nosso país.

P – Como foi feito o estudo?
DVJ – O estudo levou cerca de 9 meses e foi dividido em três partes. Primeiramente, foi feita uma comparação qualitativa entre vinhos brasileiros e vinhos da mesma variedade de 10 das principais regiões produtoras do mundo. Participaram desse projeto 40 degustadores europeus de alto padrão, incluindo vários jornalistas e 15 Masters of Wine. Paralelamente a esse estudo foi feita uma degustação com um painel de enólogos de várias partes do mundo e Masters of Wine para estabelecer o que deve ser feito tecnicamente para melhorar o nível de qualidade dos vinhos brasileiros. A terceira parte do projeto teve como objetivo principal estabelecer o nível de interesse do mercado internacional para com vinhos brasileiros.

P – Quais os resultados e em que medida eles foram surpreendentes?
DVJ – Por um lado, os resultados foram positivamente surpreendentes para os vinhos brasileiros: dos 10 vinhos com melhores pontuações, 8 são nacionais. Vale a pena salientar que entre os bons produtores brasileiros havia vinícolas renomadas, de grande porte, como também pequenos produtores. Isso parece indicar que, para fazer um bom vinho, o importante é a paixão, força de vontade, disciplina e atenção ao detalhes. Por outro lado, a maioria dos 10 últimos colocados também eram vinhos brasileiros, demonstrando que ainda existe muito trabalho para ser feito até que a região apresente uma certa consistência. A parte do estudo que tratou do lado técnico desvendou defeitos que devem ser corrigidos. Alguns deles são fáceis de corrigir, basta conhecimento. Outros necessitam de investimento de longo prazo, principalmente para melhorar as condições dos vinhedos. Finalmente, o estudo demonstrou que o consumidor internacional está de braços abertos para receber vinhos brasileiros. Mais de 85% dos entrevistados disseram associar o Brasil a uma imagem positiva. Isso será uma grande vantagem na hora de fazer um trabalho de marketing do nosso vinho.

P – Para interpretar corretamente os resultados dessa degustação, é preciso, antes de mais nada, fazer uma diferenciação entre os vinhos do Novo e do Velho mundo, certo?
DVJ – Não foi feita uma distinção entre vinhos do Novo ou do Velho mundo. Respeitando leis internacionais, foram aceitos vinhos com 85% da variedade ou mais. Essa lei governa a maioria dos paises produtores do mundo. Um vinho pode conter o nome da variedade no rótulo mesmo que 15% do corte seja feito com outro tipo de uva. A avaliação foi simplesmente feita através da análise do que estava sendo apresentado na taça, não importando a origem ou estilo. Logicamente foram usados parâmetros para que a comparação fosse feita de maneira justa. Por exemplo, os vinhos foram divididos em certas faixas de preço. Caso contrário, logicamente que um grande vinho francês de St. Emilion ou Pomerol (duas regiões que produzem excelentes merlot) levariam vantagem. Seria uma falsa generalização e um erro grosseiro dizer que os vinhos brasileiros são os melhores do mundo. O que pode-se concluir e que em safras boas e respeitando um certa faixa de preco os vinhos brasileiros têm condições de ser tão bons ou melhores que vários importados.

P – Qual a abrangência da amostragem, em termos de faixa de preço?
DVJ – A degustação abrangeu amostras desde £5 até £15 (o equivalente a R$ 15 e R$ 45), considerando o preço pelo qual os vinhos são vendidos no atacado na Inglaterra.

P – Há uma razão específica para a uva merlot ter se adaptado tão bem no Vale dos Vinhedos?
DVJ – A variedade se dá bem no Vale dos Vinhedos porque amadurece mais cedo que o Cabernet Sauvignon, portando corre menos riscos associados às chuvas no final do período de amadurecimento. Podemos dizer que bons vinhos da variedade merlot ja estão sendo feitos nessa região. Foram necessários séculos para que os monges da Idade Média se certificassem de que a pinot noir era realmente a melhor uva para a região da Borgonha. Apesar da tecnologia atual, que pode nos ajudar a acelerar esse processo, ainda levará um bom tempo para que possamos afirmar com certeza que a merlot é a melhor uva para o Vale dosd Vinhedos. Talvez a conclusão será de que, devido a fatores climáticos, os melhores e mais consistentes produtos elaborados nessa região serão os vinhos espumantes. Só o tempo vai nos ajudar a desvendar esse mistério.

P – O Vale dos Vinhedos pretende ser uma região de Denominação de Origem Controlada (DOC) de uva merlot. O que é preciso para isso?
DVJ – O Vale dos Vinhedos pode ser uma região DOC e eu acho importante que os produtores caminhem juntos em busca disso, mas recomendo que tenham cuidado e aprendam com os erros de países produtores como a França, que sente-se restringida pela legislação e gradualmente busca flexibilidade para conseguir competir. Por outro lado, devemos olhar para países como a Austrália, que sempre teve flexibilidade, e hoje busca maneiras de demonstrar que seus vinhos podem ser diferentes e individuais. O que é necessário para que isso aconteça é que todos os produtores da região estejam de acordo. Parece fácil, mas na prática é muito dificil. Todos deverão concordar em reduzir a escala de produção para obter um produto de boa qualidade. No momento, a legislação estipula um rendimento por hectare ridiculamente alto (150 hectolitros por hectare). Na minha opinião, para se fazer um vinho de qualidade, o rendimento deverá ser reduzido para, no máximo, 60 hectolitros por hectare.

P – A cepa merlot foi execrada no filme Sideways, que mostrava dois amantes do vinho em uma jornada por vinícolas da Califórnia. Você acredita que o filme possa ter contribuído para criar um certo preconceito em relação a essa uva?
DVJ – Não resta dúvida nenhuma que houve um impacto no comportamento do consumidor, principalmente norte-americano. Inicialmente, as vendas de vinhos merlot caíram bastante, ao mesmo tempo que a venda de pinot noir cresceram exponencialmente. Com o tempo ainda nota-se o "efeito Sideways", entretanto o impacto negativo sobre os vinhos com a uva merlot já foi quase esquecido.

P – Gostaria que explicasse o significado do titulo de Master of Wine e que autoridade ele confere.
DVJ – O Instituto promove a excelência profissional. O título demonstra que o indivíduo tem um conhecimento profundo e global em todos os aspectos ligados à indústria, desde viticultura, enologia, marketing e comercialização, até a parte relacionada a degustações e análises técnicas. O exame é rigoroso e o indice de aprovação continua sendo bastante baixo desde a década de 1950. Milhares de pessoas tentaram e hoje existem somente 280 pessoas com esse título. Os Masters of Wine, aqui na Europa, são figuras disputadas por empresas que se preocupam demonstrar aos seus clientes que levam a sério o que fazem e buscam excelência. No Brasil ainda existe pouco conhecimento a respeito do que significa ser um Master of Wine, mas como a indústria brasileira parece estar se desenvolvendo rapidamente eu tenho certeza de que logo se darão conta de que um brasileiro simples, de uma pequena cidade do Paraná, conseguiu atingir. Outros deverão seguir o mesmo caminho, espero.

Um comentário:

Laudemir disse...

Os vinhos nacionais, já há algum tempo, dão mostras que podem competir, de cara lavada, com qualquer vinho do mundo, com boas chances de sair vencedor.
O que estraga, é a política de preços do produtor nacional, que muda a toda hora, conforme o interesse do fabricante. Ninguém segue leis de mercado!