Este vídeo é longo, quase uma hora. Mas
fundamental para que todos tenhamos uma ideia do que nos espera no
futuro. E de como esse futuro foi traçado um século atrás, na Revolução
Industrial. Trata, o documentário, de algo conhecido como Obsolescência
Planejada.
É um conceito autoexplicativo e simples de resumir em poucas
palavras. Com o advento dos meios de produção em massa, cada vez mais
produtos passaram a ser produzidos em menos tempo, e cada vez mais
passou a ser necessário gente para consumi-los. Mas isso jamais
funcionaria se os produtos fossem duráveis, tão duráveis a ponto de as
pessoas não precisarem comprá-los mais. Sendo assim, o que fazer com a
produção cada vez maior e mais rápida? Onde arrumar gente para comprar
as coisas, se elas já teriam essas coisas?
A partir do caso de um rapaz em Barcelona que ficou puto quando sua
impressora travou e ele descobriu que seria muito mais barato comprar
outra do que mandar consertar, os autores do filme voltaram no tempo e
chegaram a um sinistro conluio de fabricantes de lâmpadas no início do
século passado que concluíram que se seus produtos fossem cada vez
melhores — as lâmpadas durassem cada vez mais — estariam dando um tiro
no pé. É uma lógica simples de compreender.
Àquela altura, Philips,
Osram e outras já eram capazes de fabricar lâmpadas que aguentavam 2.500
horas de funcionamento. E os caras decidiram estabelecer um novo limite
de vida útil: mil horas e não se fala mais nisso. O acordo, conhecido
como Phoebus, previa até multas para os fabricantes que desrespeitassem a
norma. Precisavam que as lâmpadas queimassem mais rapidamente, para que
as pessoas comprassem, comprassem e comprassem.
O documentário usa para ilustrar como os fabricantes foram filhos da
puta o exemplo de uma atração turística da pequena cidade de Livermore,
na Califórnia, onde uma lâmpada fabricada em 1901 e instalada no pequeno
quartel do Corpo de Bombeiros continua acesa até hoje. Foi pauta de
várias reportagens no ano passado, quando a tal lâmpada completou 110 anos de bons serviços.
O exemplo das lâmpadas foi seguido pela indústria em geral, e é assim
até hoje. As coisas não podem durar muito, porque se durarem ninguém
compra outras coisas e a economia trava. Dê uma olhada em volta. Quantos
celulares você comprou nos últimos anos? E laptops? E monitores para
seu computador? E TVs? Geladeiras? Máquinas de lavar roupas? Carros?
Consumismo desenfreado é o que move o mundo. Não, não é novidade para
ninguém. Mas nem sempre a gente pensa nisso.
Só que essa maluquice tem um preço. Os moradores de Agbogloshie, um
subúrbio de Acra, capital de Gana, sabem bem qual é. Diariamente chegam
ao país toneladas de sucata eletrônica em contêiners, que são jogados
num imenso lixão tecnológico. As imagens são impressionantes.
Os restos vêm do mundo inteiro. Dos países industrializados e
desenvolvidos, descartados por consumidores enlouquecidos de tudo que
aparece nos comerciais de TV, nas promoções das grandes lojas, na
garagem do vizinho, na baia do colega de trabalho que troca de iPhone e
de iPad a cada seis meses, de tudo que sai das esteiras movidas por
engrenagens que a gente nem sabe mais onde começam a girar, mas que vão,
claro, levar este planeta a um fim inglório.
Um dos entrevistados no vídeo acima defende uma revolução cultural,
uma mudança de mentalidade, o “decrescimento”. Serge Latouche é seu
nome, um filósofo e economista francês. Latouche prega um freio na
loucura da superprodução, do superconsumo. “Liberar o tempo para
desenvolver outras formas de riqueza, como a amizade e o conhecimento.
Se a felicidade dependesse do nível de consumo, deveríamos ser
absolutamente felizes”, ele diz.
Somos?
Latouche vai além, contrapondo o argumento de que tal revolução
brecaria a economia e nos levaria de volta aos tempos do Homem de
Neandertal. Decrescer, reduzir, não significaria voltar à Idade da
Pedra. Usando a França como parâmetro, ele diz que viver numa terra
razoavelmente sustentável, que produz mais ou menos o que é necessário
para que as pessoas vivam bem e não gera toneladas de resíduos cujo
destino, cedo ou tarde, será destruir o planeta, seria como viver
naquilo que era seu país nos anos 60.
Os anos 60. Não por acaso, depois deles quase não se fez nada que
preste no mundo nas artes, na música, na literatura, no design, na
arquitetura, no cinema, na política… Passamos a nos preocupar com
irrelevâncias, apenas. Somos um planeta cada vez mais irrelevante.
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