Taiadablog: Os Cem anos de Mazzaropi, o Jeca do Cinema Brasileiro !!!

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os Cem anos de Mazzaropi, o Jeca do Cinema Brasileiro !!!


Durante um certo tempo as pessoas tiveram um certo receio de revelar sua origem caipira, interiorana. Tinham vergonha do “r” bem puxado pronunciado em praticamente todo o interior de São Paulo. Marca registrada de um povo que vivia da forma simples, próximo a terra, plantando café, cana, laranja ou fazendo surgir as primeiras indústrias, as grandes ferrovias, as importantes e prósperas cidades paulistas que fizeram o Brasil crescer como nunca. 

Mazzaropi era um desses paulistas do interior. Caipira que abriu portas, realizou grandes negócios, promoveu a sétima arte nacional e, sempre teve orgulho de se afirmar interiorano de Taubaté (apesar de ter nascido na cidade de São Paulo, firmou raízes na cidade de Taubaté, onde fundou a PAN Filmes e realizou a maior parte de suas produções cinematográficas). Conheço algumas histórias das filmagens de Mazzaropi por morar e ser originário da igualmente caipira e interiorana Caçapava (vizinha de Taubaté e de São José dos Campos). Meus pais e tios foram a alguns sets de filmagem. Um dos que mais me falaram a respeito foi “A Tristeza do Jeca”, considerado um dos melhores filmes de Mazzaropi. Sempre mencionaram essas situações com orgulho, prezando a dignidade de sermos conterrâneos do cineasta e ator (somos valeparaibanos). 

Poucas pessoas estimadas no circuito cultural brasileiro até a década de 1970 levaram Mazzaropi realmente a sério. Muitas foram às críticas e restrições sofridas pelo ator e diretor ao longo de toda a sua carreira. Especialmente por parte de uma elite intelectualizada que dominava a crônica cultural paulista e carioca. 

Era inadmissível que personagens toscos e produções simplórias pudessem fazer o sucesso que fizeram. A ponto de, em diversas cidades do interior de São Paulo, depois da morte de Mazzaropi, serem realizados ciclos de filmes do artista, reprises que eram disputadíssimas, com grandes filas de espera e sessões duplas ou até mesmo, triplas. 


Eram justas tais críticas? Se levarmos em consideração as dificuldades e o atraso técnico vivido pelo cinema nacional até recentemente, poderíamos dizer que eram injustas. Não havia grandes especialistas. Apesar de termos vivido momento de grande empolgação na indústria cinematográfica nacional com a Vera Cruz e com a Atlântida (grandes companhias que se estabeleceram entre os anos 1940 e 1960 e que pautaram suas produções no modelo norte-americano), vimos o sonho de uma poderosa indústria cinematográfica brasileira ruir com a falência das mesmas. 

O fracasso dessas companhias e as dificuldades que se seguiram para produzir filmes no Brasil só poderiam ser superadas caso surgissem produtores e realizadores que conseguissem recriar elos entre os filmes e o grande público. O temor aumentava ainda mais com o crescimento da televisão. Somente histórias e artistas que possuíssem carisma e proximidade com o povo brasileiro poderiam superar a crise e manter um certo vigor no cinema nacional. 

Mazzaropi era, portanto, representante digno dessa estirpe de atores, que tem uma empatia grandiosa com o público espectador. Não gostava de meio-termo, usava um vocabulário simples, direto, objetivo, como o povo que ia aos cinemas tinha interesse em escutar. Não sentia embaraço ou vergonha de admitir suas raízes caipiras, taubateanas. Conterrâneo de Monteiro Lobato deu vida a um dos maiores sucessos da produção do escritor ao personificar o Jeca. 

Brasileiríssimo é o termo utilizado para qualificá-lo na abertura da página web do Museu Mazzaropi. Termo adequado se o comparamos com a vida simples e rústica do interior do país. Mais fácil de entender seu sucesso se notamos que, somente a partir da década de 1960, deixamos de ser um país onde a maior parte da população vivia no campo, na zona rural. Mesmo a partir de então, em busca das melhores oportunidades da cidade, o cidadão que se deslocou da roça para a zona urbana não abandonou por completo suas origens e seus hábitos. 


Mazzaropi ousou desafiar a norma culta, a alta cultura, a linguagem acadêmica e a pompa e circunstância exigidas pelos críticos e falar a língua do povo. Sobreviveu, resistiu, ganhou a queda de braço e obteve o apoio dos que se sentiram muito mais parecidos com ele que com os intelectuais, superou as barreiras do tempo e da morte e continua vivo, através de seus filmes, depoimentos, fotos e entrevistas. Quer revê-lo ou conhecê-lo? Vá a uma locadora ou visite o Museu Mazzaropi, em Taubaté (SP) que está na também na internet, no site www.museumazzaropi.com.br.  

O resgate da cultura nacional e regional é dever de todos aqueles que lidam com educação e cultura. Buscamos obras, fotos, cartas, documentos, desenhos e filmes que nos falem a respeito de nós mesmos. Vamos atrás de nossas origens, de nossas raízes. Ao descobrirmos Mazzaropi, Monteiro Lobato, Cassiano Ricardo, João do Pulo, Renato Teixeira e tantos outros expoentes de nossa rica cultura regional valeparaibana, celebramos alegremente nossa tradição caipira, tão rica e valiosa quanto nossa brasilidade... 

O desafio dessa busca deve se estender a todos os brasileiros e regiões. A busca por músicos, literatos, atletas, cineastas, políticos, artistas plásticos e a celebração de suas memórias é o que podemos fazer de melhor para consolidar suas obras e firmar a idéia que temos de nós mesmos... 

Obs. Aproveito para reproduzir mensagem que recebi do Museu Mazzaropi: "Um bom caminho para conhecer a história de Amacio Mazzaropi, o imortal Jeca do cinema nacional, é o Instituto Mazzaropi www.institutomazzaropi.org.br, responsável pela administração do Museu Mazzaropi e por outros projetos como a biografia “Sai da Frente! A vida e a obra de Mazzaropi”, de autoria de Marcela Matos, entre outros. São quase 20 anos de pesquisas, coleta de dados, fotografias e documentos. Um acervo valioso para quem quer conhecer mais detalhes da carreira, da história e do sucesso de Mazzaropi. Mais no www.centenariomazzaropi.org.br". 

Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado 
Membro da Academia Caçapavense de Letras

Nenhum comentário: