No final de 1987, quando eu comecei a voar o Airbus A-300, uma coisa me chamou a atenção nos comandantes: todos eles me pareciam neuróticos quando se queixavam do excesso de barulho dentro da cabine de comando.
Eles pediam para eu deixar o volume dos rádios no mínimo possível e, percebendo que eu parecia achar aquilo um exagero, afirmavam que um dia, após muitos anos de trabalho dentro de um aviao, eu iria finalmente dar razão a eles. Eles tinham mais de 55 anos, e eu vinte e poucos.
Eles pediam para eu deixar o volume dos rádios no mínimo possível e, percebendo que eu parecia achar aquilo um exagero, afirmavam que um dia, após muitos anos de trabalho dentro de um aviao, eu iria finalmente dar razão a eles. Eles tinham mais de 55 anos, e eu vinte e poucos.
Os anos se passaram e não é que, muito antes do que eu poderia supor, hoje o neurótico sou eu? É claro que não dá para eliminar os ruídos por completo, mas parte deles, principalmente quando ainda em solo, e possível diminuir bastante.
O sistema de ar condicionado provoca muito ruído na cabine, e evidentemente não pode ser desligado em vôo, mas em solo, antes que os passageiros embarquem, e se a temperatura no interior do avião não estiver muito quente ou fria, desligando-o, reduz-se incrivelmente o barulho. Outra fonte de barulho na cabine de comando são as saídas de ar, conhecidas por “gasper”. A menos que esteja muito abafado, eu as fecho rapidinho!
O sistema de ar condicionado provoca muito ruído na cabine, e evidentemente não pode ser desligado em vôo, mas em solo, antes que os passageiros embarquem, e se a temperatura no interior do avião não estiver muito quente ou fria, desligando-o, reduz-se incrivelmente o barulho. Outra fonte de barulho na cabine de comando são as saídas de ar, conhecidas por “gasper”. A menos que esteja muito abafado, eu as fecho rapidinho!
Enquanto estamos estacionados no pátio, durante o processo de embarque ou desembarque dos passageiros, além de nos mantermos na escuta da empresa através do rádio-comunicação, também temos que ficar na escuta da torre de controle do aeroporto. Além disso, há também a necessidade de manter contato com o pessoal da manutenção, especialmente nos momentos em que a aeronave está sendo abastecida de combustível.
Ao ficar ouvindo a manutenção, automaticamente estamos na escuta do interfone de comunicação dos comissários. Tem certos momentos que, sentado na cabine de comando, me sinto num manicômio, pois todos estão falando ao mesmo tempo!
A manutenção pede para que seja confirmada a quantidade total de combustível a ser abastecida, a empresa nos fornece pelo rádio os dados da navegação para a etapa seguinte enquanto a torre pergunta se estamos prontos para anotar a autorização do plano de voo.
Neste instante é possível ouvir o comissário efetuando um “speech” aos passageiros com as instruções para o período de reabastecimento, além da comunicação entre eles a respeito de material embarcado para o serviço de bordo. Com todo este “falatório” nos rádios, entra na cabine um despachante de voo com uma documentação de carga para que o comandante assine! É uma loucura!
Outro barulho que parece pequeno mas que ao longo do voo acaba incomodando é aquele gerado pelo vibrador do altímetro auxiliar. Além dos dois altímetros principais, um para cada piloto, há um reserva. Este reserva nem sempre é digital, portanto possui ponteiros. Para que o ponteiro não trave ou gire “aos trancos” há um pequeno vibrador embutido no altímetro que garante uma indicação precisa durante as subidas e descidas. Acontece que em alguns aviões, este vibrador, que parece um martelinho ou um pica-pau incansável, faz um barulho muito chato. Os pilotos devem suportar mais este ruído, mas a verdade é que muitos acabam por desligar este vibrador! Puxando um CB, ou circuit- breaker, que é uma espécie de fusível, o vibrador do altímetro é desligado.
Sempre que o comandante decide por este procedimento, o copiloto dá aquele olhar de aprovação pela iniciativa. O ponteiro do altímetro reserva gira com alguns pulos, é verdade, mas em absoluto silêncio. Apesar de não afetar a segurança, este truque não deve ser feito, por isso se me perguntarem se eu já fiz, eu digo que nunca, aliás, eu adoro aquele “martelinho” nos meus ouvidos!
Quando as portas se fecham e o voo inicia, tudo vai melhorando. A manutenção já foi liberada, e em voo, além da freqüência dos órgãos de controle de tráfego, basta manter a escuta de uma segunda freqüência que por ser usada pelas aeronaves apenas em situações de emergência, quase não se ouve nada nela.
Mesmo assim há bastante ruído na cabine. Barulho do ar condicionado e do próprio vento de encontro ao nariz do avião. Quanto mais veloz voamos, maior será o barulho. Aliás, minha mulher, que é comissária de bordo, comenta que durante o serviço de bordo, se o passageiro falar baixo, dificulta muito a comunicação.
É imprescindível olhar para o rosto da pessoa, efetuando uma verdadeira leitura labial para compreender o passageiro.
O sossego termina quando após o pouso estacionamos a aeronave para o desembarque. Novamente vem a manutenção, a empresa, o despachante e etc.
Aos que acham que eu estou neurótico (assim como eu achei que estavam os meus comandantes quando eu era mais jovem), e principalmente aos que estão começando na aviação, digo para poupar seus ouvidos e afirmo que um dia estarão todos como eu, procurando eliminar qualquer ruído desnecessário.
Comandante Beto Carvalho é aviador e piloto dos grandes jatos
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