Caminhando para casa, final de expediente, movimento intenso de carros na avenida. Ao longo dessa jornada consigo perceber com maior nível de detalhes a bela vegetação que cobre o entorno do bairro em que resido. Muitas árvores dão um frescor e uma beleza natural que torna muito agradável a vida por aqui. Mais que aquilo que é possível ver, sinto o cheiro de eucaliptos, que me faz voltar no tempo, lembrar da adolescência na fazenda, da vida sempre tendo por perto este tipo de paisagem.
A pressa, por outro lado, é a tônica dos carros que passam por mim. Sinto o vento que fazem quando cruzam com a minha figura solitária. Na contramão há alguns pedestres e ciclistas, aproveitando o final do dia para entrar em forma, se divertir um pouco, relaxar das preocupações do dia. São poucos, mas me animam a pensar que felizmente há pessoas preocupadas com mais coisas além do trabalho e de correr atrás do dinheiro...
Os pensamentos que passam por minha cabeça neste momento me direcionam para aquilo que significa valor hoje em minha vida. Não consigo pensar em nada além da família, dos amigos, deste contato feliz com a natureza, do valor das coisas simples, de sua beleza inconteste. Talvez tenha sido assim durante toda a minha existência, com algumas interrupções ou lapsos.
Percebo que as vezes subvertemos os valores. Olhamos para nossos filhos pensando em seu bem-estar e transformamos isso numa desenfreada correria por mais ou melhores bens materiais. Traduzimos isso como sendo conforto, uma bela casa, carros novos, computadores, videogames, viagens e tudo o que o dinheiro nos permite comprar. Não nego a necessidade material que temos. Me pergunto apenas se precisamos de tudo isso e de quantidades tão grandes daquilo que compramos ou consumimos. Se é realmente preciso renovar tão frequentemente nossos pertences. Se não é possível prosseguir por alguns anos com alguns dos recursos que possuímos.
Vejo que ao olharmos tanto para estas questões materiais e financeiras, deixamos de lado a questão humana. E não dá para fechar os olhos para as carências que se acumulam. As pessoas estão precisando de carinho, de atenção, de conversa, de parceria, de amizade, de amor. Não dá para trocar tudo isso por qualquer bem material, ainda que isso nos iluda durante algum tempo. Repito que não sou louco de dizer que dá para viver, neste mundo, neste sistema, sem dinheiro, bens ou conforto material. Apenas reitero que este não pode ser o fim maior, o objetivo final.
Ninguém, em sã consciência, assume tal objetivo materialista como foco maior de sua vida, a não ser alguns workaholics ou players do mercado financeiro. É certo que somente os loucos rasgam ou queimam dinheiro (será mesmo que eles são loucos? Ou serão eles as pessoas sãs?). Quando alguém fala sobre as maiores alegrias normalmente relaciona ao amor de sua vida, aos pais, aos filhos, aos irmãos, aos amigos...
Mas o quanto disso realmente estamos vivendo com intensidade, digo, de nossas relações, de nossas maiores alegrias? É claro que também há a paixão pelo trabalho, por aquilo que realizamos, concebemos, fazemos e que gera não só dinheiro, mas também outra riqueza, a do serviço ou produto que ajuda alguém. Quem trabalha num hospital, numa ONG, no serviço público, numa fábrica de chocolates ou colchões (entre outras tantas que fazem a alegria de alguém) ou numa escola, sabe muito bem do que estou falando.
Mas estamos vendo tantos quadros de depressão, ansiedade, stress, úlceras e tantas outras enfermidades físicas ou psicológicas, provenientes destas carências emocionais que devemos rever nossos passos, refazer nossas trilhas, abrir os sentidos e também os braços para acolher estas pessoas que são tão importantes para nós ao mesmo tempo em que sentimos seus abraços, beijos, carinho e ternura.
Não há como negar, sabemos que estamos precisando muito disso. Precisamos fazer alguma coisa quanto a isto. O primeiro passo a ser dado é perceber, se dar conta e querer mudar o quadro. Dê-se o tempo para viver estas emoções tão imprescindíveis a vida humana. Vá ao encontro das pessoas que fazem sua vida valer a pena!
Prof. Dr. João Luiz de Almeida Machado
é articulista e membro da Academia Caçapavense de Letras
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