Taiadablog: Comandante Niltinho: O sonho perdido !!!

domingo, 4 de setembro de 2011

Comandante Niltinho: O sonho perdido !!!

Convencido que, da maneira que estava vivendo na casa do meus primos, não ia levar-me a nada (maconha, bebida, mulheres bonitas, sexo, etc.), tratei logo de arregaçar as mangas e ir à luta, afinal, o que é que eu vim fazer na America? No Brasil, já estavam imaginando que havia morrido, e o Muca não parava de ligar:
“ – Niltinho, cadê o meu avião? Seu filho de uma égua!”
Cocei a cabeça, (quando fico nervoso, as raízes do meu cabelo provocam coceira, não sei porque) e resolvi ir conversar com um mestiço, puro meio sangue (50%cubano 50%americano), que eu havia conhecido no aeroporto de Tamiami! O cara foi tão legal que me deixou fazer um voozinho em cima de Miami com seu Skyline (claro que fui à direita, medo de alguma trombada, de tanto avião):
“ - Olha aqui comandante, se fosse você, iria procurar dois grandes dillers da aviação, um da Califórnia e outro de Nova York! Estes dois são capazes de fornecer as “specifications” das aeronaves e os aviões que você necessita.

- Caramba, tinha que ser assim, um tão longe um do outro? Afinal um na costa do pacifico outro na costa do atlântico, quanto é que não vai ficar esta brincadeira?
- Business is business (Negócios são negócios)!” respondeu o mestiço.
The Spirit of the Saint Louis, pendurado no teto de um shopping
Cansei de implorar para que meu primo fosse comigo, imaginem o sufoco que eu ia passar? E o “fresco”, novamente veio com aquele lance do “use o help”, só que desta vez ensinou-me a acrescentar a palavra “please”, dizendo que daria mais ênfase!
Na despedida, meu primo ainda me descolou um farto almoço em um restaurante americano muito chique, dizendo que iria me dar umas dicas a respeito das comidas que eu deveria pedir e aquelas que eu não deveria nem passar por perto, pois dariam aquela diarréia!
Custou uma merreca este almoço, me regalei todo, experimentei uma porção de molhos diferentes, foi uma delicia, só que o “fresco” não me avisou da periculosidade da abundancia de molhos!
Embarquei lá pelas duas da tarde para San Francisco, com escala em Saint Louis, ainda fazendo aquela paradinha no alto da escada e repeti aquele aceno de mãos, que davam-me um ar de importância! (que babaquice!)

O avião deve ter demorado uns quarenta minutos para chegar na cabeceira da pista, mano, tantos eram para decolar! Era uma fila tão grande, que fiquei pensando, como dão conta de controlar aquele tráfego intenso? Imagine se fosse no Brasil, que deixa avião trombar na Amazônia?
Já estava bem instalado, vendo aquela paisagem maravilhosa do interior americano, muita lavoura de milho, laranja, quando senti algo estranho na minha barriga!
Cara poderia acontecer de tudo, menos aquele ronco que partiu de minhas entranhas, fazendo-me concluir que estava prestes a ter a tão terrível diarréia que meu primo havia dito! Logo senti um gosto amargo na boca e conclui: “Foi o molho!”
Levantei da poltrona e tratei de correr para o banheiro do avião, e qual não foi minha surpresa, quando vi que tinha uma fila com três brutamontes à minha frente! Posicionei-me atrás deles e tratei de cruzar as pernas, concluindo que, se não passasse na frente deles, o desastre aconteceria ali mesmo!
O suor começou a escorrer de minha testa! Amparava-me ora numa perna outra noutra, mantendo-as sempre cruzadas e bem arrochadas, e assim fui levando até que não aguentei mais, e pensei comigo: “Tá na hora do help, não aguento mais mesmo, seja o que Deus quiser, tomara que meu primo tenha me falado a verdade! Criei coragem, dei um cutucão no ombro do sujeito que estava na minha frente e, quando ele se virou para trás com cara de poucas conversas, deve ter visto aquele nanico todo contorcido,  com a mão na barriga e olhar de peixe morto, imaginou logo do que se tratava!
Eu comecei a balbuciar mais de uma vez, “help, help, please!” E apontava para minha barriga e apontava a porta do banheiro, e o miserável gringo nada de sair da frente! Insisti tanto no “help, help please”, que só me faltava sair lágrimas dos meus olhos!
Foi quando os dois da frente notaram aquela zoeira e resolveram me ajudar! Cara, deram dois passos para trás e me deixaram passar à frente, e logo em seguida a porta do banheiro abriu e  quase não dei tempo para o ocupante sair, entrei rapidinho e pude, enfim, aliviar-me do sufoco que passava! Foi o dia mais feliz da minha vida, e mais uma vez botei em prova a solidariedade americana, e ela passou com honra, dali para frente já defendi por muitas e muitas vezes, estes tão prestativos  “gringos”! Aquilo ficou marcado para sempre em minha memória!
Voltei para minha poltrona me sentindo outro homem, que alívio! Dali para frente não aceitaria mais nada para comer!
Quando chegamos a Saint Louis, tivemos que sobrevoar por um bom tempo o aeroporto para pousar e deu para ver a malha ferroviária! Que susto levei, ao ver tantos trilhos, vagões, locomotivas, dando a perceber perceber o quanto eles desenvolveram este setor! Nós aqui, ainda estamos na estaca zero, agora que o governo ainda construindo uma ferrovia de norte a sul (que demora!)!
Por isto mesmo é que não tenho medo da crise americana, quem tem infra-estrutura como aquela, pronta, tem tudo, é fácil voltar a crescer, e nós aqui que nem isto temos!
Fiquei babando de ver aquele aeroporto, que tem até calçada rolante para transportar você de um lado para outro! Mais impressionante ainda fiquei, quando cheguei no meio do aeroporto e olhei para cima e olha só o que vejo: o próprio avião de Charles Lindenberg amarrado no teto! Aquilo para mim valeu a viagem, imaginem ver a fragilidade do avião com o qual o famoso piloto havia atravessado o Atlântico!
Achei o avião pequeno para o tamanho da façanha, e que coragem teve o Lindenberg! Se fosse brasileiro, não tenho a menor dúvida que estaria entre nós, voando nos garimpos, fazendo as mesmas loucuras que fazíamos, sem duvidas nenhuma!
Estava andando pra lá e pra cá, vendo aqueles aviões descendo e subindo, observando toda aquela maravilha, quando encontro um brasileiro, que mora nos Estados Unidos há muitos anos, e batemos um longo papo, que muito me ajudou, inclusive a pegar o meu avião para San Francisco! Nunca me esqueço o que ele me disse, e deixou-me muito curioso: seus filhos tinham nascidos na América, nenhum deles falava o português, sobrou somente a esposa com quem ainda falava a nossa língua, para ele isto era muito triste, e aí a gente nota como uma cultura absorve a outra rapidinho! Logo na primeira geração. Engole tudo!
Novamente subi em outro Boeing e parti rumo àquele estado que é o mais desenvolvido e rico dos EUA, a Califórnia, ([moço o que é aquilo!!!!) Pousamos, e lá estava o amigo me esperando, só que, como já tinha certa prática e não era mais “manicaca” de aeroporto, dei conta sózinho de ir para o desembarque para pegar minhas malas, não vendo a hora de conhecer o mais famoso diller da América, Mr. John, o todo poderoso!
Por sorte, a filha de meu amigo Parreira morava em San Francisco há muito tempo, era casada com um brasileiro que possuía uma pizzaria. Novamente lá fui eu conhecer a bela cidade, e beber dos bons vinhos de produção local! 
Conhecer a Golden Gate, seus restaurantes à beira mar, a praça dos gays, tudo foi muito interessante! Até vi dois bigodudos trocarem beijos na boca, o que me deu uma vontade de vomitar, cara, você não sabe quem é quem naquela mistura! É um troca- troca que não dá para entender, irmão!
Passados uns tres dias, consegui marcar encontro com o famoso  rei da aviação, levantamos bem cedo e colocamos o pé na estrada, pois sua base era numa cidadezinha próxima a San Francisco!
Lá chegando, qual não foi minha surpresa, fui atendido pelo  secretário do Chefão e não por ele! Moço fiquei uma arara, imaginem eu vir de tão longe e não poder falar com o dono dos porcos?
Logo agora que o Brasil tinha um Sarney na presidência, o homem que havia criado um novo plano, o famoso plano Sarney, que iria revolucionar o país? Que iria colocar o Brasil na maior das “constelações do universo”? Isto ele tinha que saber da minha própria boca, tínhamos grandes negócios a fazer, pela frente!
Essa não, eu tinha que ficar frente a frente com o patrão, afinal, eu ia ser um “grande empresário” como ele, e que havia descoberto o maior filão da minha vida!
“ - Fale para este “babaca” aí, que só saio daqui após ser atendido pelo “capo” (o chefão, ou o dono dos porcos). Meu intérprete arregalou os olhos, e me disse:
“ - Você quer que eu fale no pé da letra?
- Como você quiser, só quero ser atendido por ele e ninguém mais!
Meu amigo iniciou uma das “batalhas” mais longas que eu já vi e por fim, ficamos combinados que ele iria atender-me na próxima semana! Sai de lá “puto” de raiva, só aguentando aquilo por ele ser dos melhores na aviação!
Voltamos para San Francisco e eu já comecei a compreender que a coisa não seria fácil, talvez por ser marinheiro da primeira viagem, e ainda não ter descoberto o caminho das pedras, porém não pense não que aquele primeiro obstáculo iria colocar-me à nocaute! Tinha muito pano para manga e iria brigar até o fim. Mas iria levar os aviões de qualquer jeito!
Aquela semana de descanso, aproveitei para passear, convidei umas brasileiras para jantar e elas me levaram para um restaurante que ficava em cima de um prédio, tão alto que precisamos tomar dois elevadores! Aquilo me deixou assustado, imaginem se San Francisco resolve ter um daqueles tremores de terra, que acontecem de vez em quando? E eu em cima daquilo, credo!
Sentamos e logo pedi um whisky, (o meu negócio era beber whisky) e as meninas me acompanharam (como enxugavam!)! Após umas boas doses, olho para o horizonte e noto que a paisagem havia mudado, a baia havia mudado de direção! Achei aquilo estranho, porra, somente aquelas poucas doses e já estava embaralhando tudo. Voltei para minha amiga e falei:
“ - Vamos mudar de whisky que este aqui não está bom, não!
- Como assim, Niltinho, este é um dos melhores.
- Não sei não, isto aqui está girando tudo!”
Dei uma olhada para a baia e novamente percebi que tinha alguma coisa errada, era eu ou já estaria começando, um daqueles tremores de terra! Levantei da mesa e gritei: “Vamos embora daqui que já começou a rodar! A baia estava ali quando sentei aqui e agora ela esta em outro lugar?”
Nisto, aquelas duas “bandidinhas” começaram a rir, e não pararam mais, uma delas me agarrou pelo braço e disse:
“ - Seu caipira! Senta aí que vamos explicar! E eu, já meio tonto, ouvi daquelas duas, a mais fantástica das explicação!
Existia uma engrenagem no sub-solo que fazia o restaurante girar devagar, dando a oportunidade de, sentado, se ter a visão de 180 graus de toda San Francisco! É muito lindo e bastante interessante.
Fiquei encantado, afinal o que aqueles americanos não inventam para ganhar dinheiro? Na verdade foi uma das noites mais maravilhosas que passei na Califórnia! Só não gostei da gozação que fizeram comigo depois!
No dia marcado, comparecemos ao compromisso com Mr. John e, quando consegui entrar em seu escritório, fiquei deslumbrado de tão chique era! Existia uma mesa que tinha uma réplica miniatura de todos os aviões produzidos nos Estados Unidos! De fazer inveja!
Só não gostei da cara do gringo, parecia que aquela conversa não ia render, tive este pressentimento! Cumprimentei, e tratei logo de pedir ao intérprete que disesse o que eu queria, quais eram os aviões que desejava, e que não deixasse de falar do Sarney, que agora havia chegado a nossa vez, o país tinha entrado em outra fase de desenvolvimento, etc e tal, e após toda esta conversa,  surpreso, notei que meu amigo, começou a se desentender com o gringo. E eu ali curioso, não entendendo nada! Estava boiando!
“ - O que está acontecendo?
- Ele está dizendo que isto não vai adiantar de nada.
- Por que ele diz isto?
- Porque somos latinos.
- Como assim?
- Que quando você voltar para o Brasil, você não vai encontrá-lo do mesmo jeito que o deixou!”
Que absurdo! O que aquele gringo estava dizendo? Imaginem se o “meu Sarney” iria deixar o barco afundar novamente?  Que nada, aquele americano estava doido! Logo agora que o país estava confiante nas mudanças feitas!
“ - Diga a ele que vou provar o quanto ele está enganado, vou voltar aqui e comprar muitos aviões dele! Diga logo, para este babaca, porra!”
E lá foi aquele “conversê” por muito tempo, o gringo falava e meu amigo respondia na bucha, acho que meu amigo não o convenceu em nada, ele se levantou da cadeira e tratou logo de nos despachar. Parece que queria ver-se livre daqueles dois latinos que não entendiam nada de economia, parecia que ele entendia mais que nós, brasileiros. Que cara doido, pensei!
Como ele havia prometido, forneceu-me toda a papelada que eu iria precisar, só que na hora da despedida, deu um sorriso. Como quem quer dizer “vocês latinos são incapazes de manter uma economia regular por muito tempo!”
“ - Vamos embora, este babaca está delirando. Imaginem se eu vou perder minha viagem? E o Sarney? Vai deixar o Brasil voltar ao que era?”
Parti para Nova York, onde fui encontrar o outro diller, junto com uns amigos que havia conhecido por lá! Fomos visitar o aeroclube que, além de ser escola, era também uma grande oficina de manutenção, e uma grande revenda de aeronaves!
Imagine se você encontra alguma coisa semelhante no Brasil? Uma escola, onde existiam muitos aviões para venda, muito serviço de manutenção, e que os alunos usavam desta infra estrutura toda!
Fiquei conhecendo ali, um Skyline retrátil nunca tinha visto um na minha vida, uma maravilha de avião! Meu colega que participava deste passeio, acabou ficando com ele. O danado era comerciante de diamantes e tinha em um só banco mais de quinhentos mil dólares guardados! E tinha que trazê-los de volta, para o Brasil!
Em Nova York, não achei nada de interessante, a não ser os passeios que fiz, e tratei de voltar para Miami. Lá sim é que vi a maior fila de aviões para decolar, você perde de vista o final da fila, é uma loucura mano!
Fiquei mais uns dias com meus primos, e tratei de pegar o avião de volta, afinal já estava munido de tudo aquilo que queria, graças ao “babaca” que havia me dito que quando eu chegasse ao meu querido Brasil, teria uma surpresa! Quanta bobagem, meu Deus!
Pousamos no Rio de Janeiro, nosso maior aeroporto, que leva o nome de Tom Jobim, onde, por sinal, a única coisa que presta, é o nome!
O resto é uma droga, comparando com os de lá. Quando você volta dos Estados Unidos, você fica crítico demais, torna-se um chato, só faz comparações, e para quem não conhece a terra dos gringos e não entende nada, acaba achando que você esta aumentando as coisas, hoje eu evito falar que estive duas vezes lá, não quero perder meus amigos latinos! É uma pena que eles não tiveram realizado, o mesmo sonho que eu tive.
Já de volta no meu querido Brasil, tratei logo de saber como iam as coisas, e como estava o meu presidente.
“ - Acho que não está bom não, respondeu meu primo! As coisas mudaram muito desde o dia que você partiu!
- Como? Perguntei, já irritado!
- É! Acho que o planinho do Sarney, está vertendo água!
- Afundando, você quer dizer?
- Eu acho que é isto mesmo!”
Cai sentado, pois não queria acreditar no que estava ouvindo! Tratei de encontrar com o meu despachante, pois queria saber se as alterações do plano, haviam comprometido as importações de aviões!
Aí que o susto foi grande porque, as atitudes do governo torraram todos os dólares do Banco Central, e não havia mais como fazer o cambio, não tinha mais dólares no Banco Central, no Banco do Brasil, enfim tinha acabado de quebrar nosso país!
Botei a mão na cabeça e fechei os olhos e adivinhe o que veio em minha mente?
Mr. John, irmãos! Não podia deixar de recordar suas palavras:
“ - Quando você retornar ao Brasil, não vai encontrá-lo do mesmo jeito que você deixou!” Só faltou mesmo prever que eu iria encontrar o país falido, quebrado, assaltado! E foi isto mesmo que  encontrei!
E os meus negócios foram tudo para o brejo, peguei os “specifications” e meti na primeira lata de lixo que encontrei e hoje tiro o chapéu para o gringo! Ele sim entende de economia latina, e não eu! Um simples pilotinho, caipira e metido a besta!
E quando vejo este mesmo homem que quebrou nosso Brasil que deu tanto prejuízo, se eleger senador e hoje presidente do senado, sem falar do babaca do Collor, outro que “voltou”, isto aqui está parecendo música do Nelson Gonçalves! Fico triste, como pode o brasileiro ser um povo tão sem memória, afinal não faz muito tempo assim, que eles foram presidente desta bagunça, somente peço para estes jovens, que aprenderam a fazer tanta pesquisa na escola, que façam também na vida daqueles em quem vão votar, porque senão nunca vai mudar nada!
Estes monstrengos tem que ser deletados, temos que mandá-los para a aposentadoria, que não querem porque a mamata é boa demais! 
Jarbas Vasconcelos disse a verdade, são difíceis de acabar, eles tem um poder de ressurreição impressionante, e só vocês, jovens, é que podem acabar com este políticos de carteirinha!
Eu já estou muito velho para isso, só peço para vocês que ajudem a mudar este Brasil. Pelo amor de deus: Mudem o Brasil!
E assim acabou o sonho do caipira que queria trazer aviões da América, sobrou apenas o sonho (que ficou perdido!).

Comandante Niltinho
é piloto de garimpo
Agora estava de novo sozinho, entregue às “traças”, olhava de um lado para outro em busca de um socorro latino e nada, só avistava gringo! Era tanto que dava para matar a pau! Seja como Deus quiser! Pensei.

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