Vale do Paraíba, hoje a região rica em cultura e tecnologia. Nesta série histórica (próximos domingos!), você vai conhecer a história desde o surgimento das pequenas vilas, conhecer o papel fundamental que as ferrovias tiveram neste desenvolvimento e porque elas foram abandonadas.
A região viveu três grandes momentos: o primeiro como caminho para o ouro; o segundo como grande região produtora de café e o terceiro como pólo tecnológico. Hoje vamos entender como surgiu a ideia de implantação da primeira ferrovia e o preço que o Brasil pagou por ela.
O Vale do Paraíba começou a ser povoado no século 16, quando surgiram as pequenas vilas. As principais, Piedade - atual cidade de Lorena - e Guaratinguetá.
Até o século 17 as únicas ligações da região com o mundo exterior eram o Rio Paraíba e o caminho que seguia de Piedade até São Paulo. Foi só a partir de um problema do governo imperial com a província de Minas Gerais que a região começou a ganhar importância, sendo a "Rota do Ouro".
O governo precisava escoar a produção de ouro do interior do país para o Rio de Janeiro. Minas Gerais era a região a ser evitada e pelo litoral era grande o risco de saques. Surgiu então um novo caminho entre Lorena e Rio de Janeiro, passando pelo território onde hoje estão as cidades de Silveiras, Arapeí e Bananal. Foi a primeira ligação entre as duas capitais, demorou 53 anos para ser concluída e povoou a área conhecida como 'Sertão Desconhecido'. Posteriormente o caminho deu origem à Rodovia dos Tropeiros, existente até hoje.
Nesta época a posição econômica do Vale era insignificante em relação ao restante do país. Estamos falando da década de 1780, quando os primeiro vilarejos recebiam os visitantes e tinham uma pequena população. Era uma região de trânsito apenas.
Mas o período entre os séculos 18 e 19 foi de mundaças para a economia nacional. O comércio do ouro sofre forte queda e a cultura do café começa a se destacar. O Vale passa de uma região de trânsito para uma região de produção.
As grandes fazendas, instaladas na região do Vale Histórico, utilizavam animais para escoar a produção. Nesta época destacava-se a cidade de Bananal, que em pouco mais de um século se tornou fundamental para a economia da nação. "Quando o vale, a partir do século 19, torna-se a maior região produtora de café do Brasil, tem que se achar uma saída para o transporte do produto que até então seguia no lombo de burro para Ubatuba, Parati e Angra dos Reis", conta o historiador Francisco Sodero Toledo.
As encomendas aumentavam e a produção também. Estamos falando do primeiro problema de logística da história da região. "Foi então que o governo imperial teve a ideia, juntamente com o interesse dos ingleses, de montar a ferrovia em direção ao Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de São Paulo", explica o historiador. A construção seria iniciada em 1855 e finalizada 22 anos depois.
A via férrea que estamos falando foi, posteriormente, batizada de Central do Brasil. É a ferrovia que liga as cidades de Rio e São Paulo, cortando toda a região. Sua construção será o tema de nossa próxima reportagem.
A construção de uma ferrovia para enviar a produção de café até o Rio de Janeiro foi uma decisão do governo imperial patrocinada pelo governo inglês. Na teoria o Brasil se tornou independente em 1822. Na prática, apenas mudava de mãos, já que economicamente não possuía recursos para sustentar o mercado e expandir a atividade.
"Os ingleses tiveram um financiamento da atividade econômica brasileira, tornando o país mais dependente. A ferrovia surgiria para transportar os produtos industriais ingleses e o café. Com isso aconteceu uma redução dos custos de produção do café e os ingleses compravam o café com um custo menor. Como a Inglaterra determinava este preço do café, eles tiveram um lucro maior", explica o economista Edson Trajano. Ou seja, os maiores beneficiários da implantação da nova ferrovia foram os ingleses e em segundo plano os cafeicultores brasileiros.
Além do que, todo o material empregado na construção das ferrovias foi importado da Europa: desde os trilhos até os tijolos utilizados nas estações.
A primeira ferrovia a ser construída foi a Estrada de Ferro Dom Pedro, que partia da Estação Central do Brasil, centro do Rio de Janeiro, até Cachoeira Paulista.
"O café revolucionou a organização social direcionando o Vale para a modernidade. A partir da ferrovia surgiram duas regiões bem distintas: aquela onde passa a ferrovia, dando um ar mais moderno, embora tenha toda a estrutura colonial com ruas pequenas, mas ganham com o advento do teatro, da passagem das pessoas que vão incentivando o desenvolvimento urbano", explica Francisco Sodero.
Espedial de R. Ferezim
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