Taiadablog: Sobre o uso consciente das tecnologias !!!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sobre o uso consciente das tecnologias !!!

 

"É impossível pensar sobre o problema dos meios sem pensar a questão do poder. O que vale dizer: os meios de comunicação não são bons nem ruins em si mesmos. Servindo-se de técnicas, eles são o resultado do avanço da tecnologia, são expressões da criatividade humana, da ciência desenvolvida pelo ser humano. o problema é perguntara serviço do quê e a serviço de quem os meios de comunicação se acham. E esta é uma questão que tem a ver com o poder e é política, portanto." [Paulo Freire em diálogo com Sérgio Guimarães, na obra "Sobre Educação - volume 2]


E os meios de comunicação, nesse ínterim já contabilizadas as tecnologias de informação e comunicação, a saber os computadores, tablets, notebooks, celulares e as plataformas que neles instaladas nos permitem a interação, a produção, a realização através da internet, são igualmente recursos através dos quais se faz a política, se realiza o jogo do poder.

A princípio todas as tecnologias são, como nos diz mestre Paulo Freire, fruto do avanço da tecnologia, da ciência e da pesquisa. Surgidas no ensejo do crescimento humano. Criadas para que as sociedades fluam e produzam mais e mais. O bem estar geral é a proposta destas ferramentas todas. Disseminar a cultura, a educação são também ensejos nelas contidos.

O sentido político de seu uso está contido em cada ser humano que delas se utiliza. O problema é saber o quanto deste trabalho é consciente e o quanto é apenas navegar sem rumo, sem objetivo. Pense numa situação bastante comum no que tange ao uso da internet por qualquer um de nós como, por exemplo, sentar a frente do computador para verificar a caixa de e-mails ou dar uma olhada nas redes sociais. De repente o que deveria ocorrer em 10 ou 15 minutos se estende por uma hora ou até duas talvez...

E o que fizemos? Confabulamos, enviamos mensagens, respondemos aos amigos ou apenas nos perdemos na imensidão da rede. Criamos? Pouco ou quase nada. Aprendemos? Como o intuito não era esse, não tivemos o foco. Lemos? Apenas superficialmente, de forma rápida, um tanto quanto automática. 

Ao percebermos este movimento fluído, rápido, despropositado, fugaz mesmo, vemos que estas horas gastas diante da tela pareciam nossas, mas que, de fato, não nos pertenceram. Jazem, acumulando-se como corpos no front de guerra, empilhados uns sobre os outros, sem que nem ao menos se tornem futuramente alimento para o solo... São horas perdidas, dispendidas e pelas quais abdicamos de tantas outras ações, relações, transformações...

Ao utilizarmos as tecnologias desta maneira estamos insones e inertes, um tanto quanto alienados diante dos monitores, cegados por seu brilho e, de fato mesmo, vegetando. Se não há norte no seu rumo, viaja-se sem destino e tanto faz aonde vamos chegar. É preciso saber o que nos move, para onde queremos ir, porque estamos ali, o que isso gera para nós e para todos os outros com que confabulamos através das redes sociais, senão somos apenas massa de manobra...

"Admirável gado novo", como na música de Zé Ramalho, vamos sendo tocados sem saber quem orienta nossos passos, para onde vamos, o que nos reserva as trilhas pelas quais caminhamos. Não serão abatedouros nos quais seremos ou já somos sacrificados?

E, de novo resgatamos as falas de Freire que abrem esta pensata e que redundam numa resposta perspicaz e inteligente de Sérgio Guimarães, a saber: "a questão de se utilizar na escola esse material rico, trazido da realidade dos meios de comunicação de massa, depende da flexibilidade que a gente tem em sala de aula. Para se fazer isso, é preciso se reconhecer que esses meios merecem ser ao menos analisados, que eles não podem ser ignorados. O problema é que uma escola que se torna escrava dos seus programas dificilmente abre seus espaços."

É justamente nesse ponto crucial que temos que chegar, ou seja, o do reconhecimento das ferramentas e plataformas, da compreensão de seu funcionamento não apenas técnico, mas de seu uso e potencial político. Da compreensão de como devemos ser altivos nesta relação e não passivos, entregues, inertes e alienados. De como isso começa com a família e passa pela escola, mas uma escola que se proponha a analisar estes meios para utilizá-los de forma coerente e consciente. Se não há esta consciência a partir da escola e da família, como esperar que nossas crianças e adolescentes compreendam o que significam estes meios para que possam utilizá-los de forma a constituir-se e a construir uma sociedade mais coesa, harmônica, ética, cidadã e crítica?

Esta reflexão foi brotando apenas a partir da ponderação da aula sobre o uso das tecnologias na educação juntamente a um grupo de alunas do curso de pedagogia e tendo por base estes dizeres de Freire e Guimarães. Somente a título de análise comparativa, o quanto estamos realmente lendo dentro e fora da internet? Precisamos nos dar o tempo da leitura e da análise, da reflexão e da discussão, da troca de ideias e da proposição, da crítica e da ação. Quando penso nisso e vejo o modo como a web tem nos cobrado velocidade e imposto esta pressa a todas as nossas outras instâncias de vida percebo o quanto estão esvaziando nosso viver, nossa percepção crítica da realidade e, por fim, pior ainda, nossa capacidade de agir, reagir, se indignar, participar opiniões contrárias, cobrar...

Por isso, concluo estas linhas, pedindo ao menos que pensemos sobre a forma como estamos lidando com as tecnologias no sentido de perceber se as utilizamos ou se apenas estamos sendo guiados por elas sabe-se lá para onde... Afinal, como você utiliza estas ferramentas?

Obs. Com isso não estou remando na maré contrária, ou seja, dizendo que devemos abdicar das tecnologias, mas fazer um uso reflexo e consciente das mesmas, tornando-as ferramentas que exponenciem nossas possibilidades e que não nos atrofiem, que sejam percebidas como meios e não como fins aos quais dedicamos mais tempo que as outras pessoas com as quais convivemos. Há nelas, certamente, grandes possibilidades, inclusive políticas, mas voltando ao início deste texto, isso só se concretiza a partir do uso que fazemos destas tecnologias. E que este uso seja coerente e consciente!

Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado
Membro da Academia Caçapavense de

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