Taiadablog: Grupão, o começo de tudo !!!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Grupão, o começo de tudo !!!


Mais um ótimo trabalho em bico de pena
de Wagner Veiga

Sete ou sete e meia, oito. Não me lembro exatamente da hora que batia o sinal, minha recordação era a tortura ambulante que eu virava no pequeno trajeto que fazia mais dormindo do que acordado pra chegar no saudoso Grupo Escolar Ruy Barbosa. Ficou registrado em primeiro plano nas minhas memórias o azul do céu contrastando com o branco dos flocos de uma enorme paineira que ficava na ala dos meninos, o cheiro às vezes enjoativo característico do local, provavelmente provocado por uma das muitas arvores ao redor, o sino da matriz, o simpático servente Jurandir, ligeiramente acima do peso, que além da sineta e outras tarefas, com seu afiado canivete apontava caprichosamente nossos lápis. Era nossa salvação quando chegávamos atrasados e era ele que estava no fatídico portão.
Agora do portão pra dentro, nossa primeira experiência fora de casa, longe dos pais, primeiras professoras e novos amigos e futuras, hoje antigas encrencas. Tudo começava com as chamadas das classes que enfileiradas paralelamente, cantavam hinos em que todos eram obrigados decorar. Primeiro ano, o uniforme: a calça curta e a camisa tipo jaqueta, que era de um tecido chamado “caqui” que é a cor “havana”, usadas pelos escoteiros e pelos soldados no deserto durante a II guerra. Para um bando de moleques na época, o Grupão não era muito diferente. Sentia uma inexplicável e estranha sensação ordeira quando uniformizado, na jaqueta havia os bolsos com tampinhas fechados com botões, nos ombros um detalhe no mesmo tecido, abotoado rente ao colarinho, para graduar a série de cada aluno, criando assim uma hierarquia, quase sempre desastrosa na hora do recreio ou na saída, que por sinal tirando esse pequeno detalhe havia as meninas, algumas lindas maravilhosas como a inesquecível Loreta que separadas por uma grade, formavam grupinhos que tricotavam com os mais atrevidos do outro lado, entre olhares piscadelas e risinhos, brotavam os primeiros e eternos sintomas instintivos da conquista, da paquera e do tradicional chaveco.
Segura a caneta com a mão direita dizia dona Lola, e eu desenhando o Zorro com a esquerda, lembrou Wagner Ranna. Nove vezes oito? Perguntava dona Carmozina  e eu desenhando uma explosão. Ela pediu como dever de casa algo sobre a importância da higiene dentária, levei um desenho com um menino escovando os dentes, refletido no espelho e no lavatório um tubo de Colgate, lembrou Palmerinha. Era comum castigos na classe, quando rolava confusão o bagunceiro ia parar na diretoria, era a situação mais temida por quase todos, pois o diretor, o professor Idefonço era enorme, sempre de terno escuro, sério misterioso e de poucas palavras, até que um dia eu ouvi suas gargalhadas conversando com meu pai, o seu Silvio do bazar.
A melhor parte de toda a história eram os desfiles comemorativos, era uma festa colorida pelos grupos temáticos, as fanfarras afinando os instrumentos, longe a banda do quartel, os retardatários passando giz nos tênis e o picolé de groselha. Quando já ia se aproximando o final, percebíamos os olhinhos ansiosos para contemplar as pernas da Sonia Amaral, hoje,  Pandeiro, na época um par de coxas era só nas capas de O Cruzeiro e Manchete, mostrando a Martha Rocha ou Adalgisa Colombo, na banca do Condino. Ela ia na frente como baliza, parecia um soldadinho de chumbo de saiote que além de bonita, era filha da dona Sara, respeitada professora do Grupão, acho que o nepotismo começou em Caçapava.


Crônica do saudosista Wagner Veiga

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