Brasil e Ucrânia deram mais um importante passo no seu intento de explorar comercialmente missões de lançamento de satélites, por meio da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). No último mês de maio, foi inaugurada na cidade de Dnepropetrovsk, a planta de testes e integração de sistemas do foguete Cyclone 4 e sua plataforma de lançamento. Em uma área situada próximo às instalações das companhias estatais Yuzhnoye, responsável pelo projeto e desenvolvimento, e Yuzhmash, especializada na fabricação e industrialização, serão feitos todos os testes de equipamentos necessários à operação do Cyclone 4, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, antes do envio para montagem e integração final no sítio brasileiro.
Como parte de seus esforços para se posicionar no mercado de lançamentos espaciais, a ACS realizou, em meados de maio, uma apresentação técnica do projeto para um grupo de empresas seguradoras. O objetivo foi mostrar o status do programa e o nível de confiabilidade dos sistemas envolvidos, uma vez que os seguros podem representar até 25% do valor total do lançamento. Assim, quanto mais confiável um lançador é, menores são os prêmios exigidos, daí a importância de se manter um estreito relacionamento com esses stakeholders.
A cooperação espacial entre o Brasil e a Ucrânia em serviços de lançamento tem origens no final da década de 1990. Mas, foi em 2003, com a assinatura do Tratado sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamento Cyclone 4 no Centro de Lançamento de Alcântara, que começaram as definições. Três anos depois, foi criada a Alcântara Cyclone Space com a finalidade de viabilizar o projeto, administrar o complexo de lançamento e explorá-lo comercialmente. A expectativa é que em 15 de novembro de 2013, levando ao espaço um pequeno satélite japonês e marcando o dia da Proclamação da República, seja registrada como a data do primeiro lançamento comercial de um satélite a partir do território nacional.ACS ameaçada
Porém, o cronograma de trabalho e aquela data podem estar ameaçados. E, diferentemente do ocorrido no primeiro ano de gestão da presidente Dilma Rousseff, em que dirigentes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação colocaram o programa binacional em xeque em razão de alegados atrasos no aporte de recursos pela parte ucraniana, o problema agora parece estar do lado brasileiro.
A ACS não tem recebido do governo brasileiro a mesma atenção dada a outras parcerias estratégicas internacionais recentemente celebradas. “Se o Brasil não repassar sua parte já aprovada em orçamento, a binacional terá que paralisar as obras das instalações em Alcântara, o que vai atrasar o programa e tornará sua retomada ainda mais custosa”, disse uma fonte à T&D. Hoje, a ACS tem uma dívida com empresas brasileiras no valor R$ 60 milhões.
Como parte de seus esforços para se posicionar no mercado de lançamentos espaciais, a ACS realizou, em meados de maio, uma apresentação técnica do projeto para um grupo de empresas seguradoras. O objetivo foi mostrar o status do programa e o nível de confiabilidade dos sistemas envolvidos, uma vez que os seguros podem representar até 25% do valor total do lançamento. Assim, quanto mais confiável um lançador é, menores são os prêmios exigidos, daí a importância de se manter um estreito relacionamento com esses stakeholders.
A cooperação espacial entre o Brasil e a Ucrânia em serviços de lançamento tem origens no final da década de 1990. Mas, foi em 2003, com a assinatura do Tratado sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamento Cyclone 4 no Centro de Lançamento de Alcântara, que começaram as definições. Três anos depois, foi criada a Alcântara Cyclone Space com a finalidade de viabilizar o projeto, administrar o complexo de lançamento e explorá-lo comercialmente. A expectativa é que em 15 de novembro de 2013, levando ao espaço um pequeno satélite japonês e marcando o dia da Proclamação da República, seja registrada como a data do primeiro lançamento comercial de um satélite a partir do território nacional.ACS ameaçada
Porém, o cronograma de trabalho e aquela data podem estar ameaçados. E, diferentemente do ocorrido no primeiro ano de gestão da presidente Dilma Rousseff, em que dirigentes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação colocaram o programa binacional em xeque em razão de alegados atrasos no aporte de recursos pela parte ucraniana, o problema agora parece estar do lado brasileiro.
A ACS não tem recebido do governo brasileiro a mesma atenção dada a outras parcerias estratégicas internacionais recentemente celebradas. “Se o Brasil não repassar sua parte já aprovada em orçamento, a binacional terá que paralisar as obras das instalações em Alcântara, o que vai atrasar o programa e tornará sua retomada ainda mais custosa”, disse uma fonte à T&D. Hoje, a ACS tem uma dívida com empresas brasileiras no valor R$ 60 milhões.
Em 2012, o Governo Federal não repassou nada dos quase R$ 49 milhões que deveria, enquanto que os sócios ucranianos integralizaram a totalidade do capital planejado para o ano, ainda no mês de abril. No início de maio, os diretores gerais da binacional, Reginaldo dos Santos e seu contraparte ucraniano, Oleksandr Serdyuk, enviaram ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, carta expondo os problemas enfrentados pela empresa.
Outra dificuldade vivida pela ACS é a ausência de um acordo de salvaguardas tecnológicas entre o Brasil e os Estados Unidos, tema polêmico e que teve grande destaque na mídia no inicio da década de 2000. Estima-se que a maioria dos satélites comerciais potencialmente acessíveis à ACS, algo em torno de 70% a 80%, contenham pelo menos um componente norte-americano protegido pelo regime ITAR (International Traffic in Arms Regulation). Assim, a exportação de tais componentes e/ou satélites para lançamento a partir do território brasileiro somente pode ser autorizada pelo Departamento do Estado, e desde que haja um acordo de salvaguardas tecnológicas (conhecido tecnicamente como TSA) em vigor entre os dois países, o que, atualmente, não é o caso. A ausência do TSA pode tornar inviável a operação da ACS e prejudicar o retorno dos investimentos feitos pelos sócios.
Resultado da visita de Barack Obama ao Brasil em 2011, foram iniciadas negociações entre os dois países visando à assinatura de um TSA. Fontes da ACS dizem que a proposta brasileira já foi submetida às autoridades de Washington, mas a empresa, embora sendo a parte mais interessada no acordo, não foi consultada durante a preparação do documento.
“É imprescindível que seja dada pelas autoridades brasileiras a prioridade quanto às negociações com as autoridades estadunidenses sobre o TSA, bem como que a ACS seja envolvida nas negociações ou consultada sobre o texto do Acordo antes de a proposta ser enviada para os Estados Unidos”, afirmou à T&D pessoa bastante familiarizada com o assunto.
O Cyclone-4 é um veículo lançador de classe média, capaz de colocar em órbita cargas de até 5.300 kg em órbita baixa (500 km), ou de 1.600 kg em órbita de transferência geoestacionário. Os principais lançadores de sua categoria incluem os norte-americanos Falcon-9 e Antares, o chinês Longa Marcha 2, os indianos PSLV e GSLV, e o russo Soyuz-2, sendo que os lançadores Soyuz e Antares são bem mais caros que o Cyclone-4 e, em princípio, não seriam muito interessantes comercialmente.
O Falcon-9 oferece um preço de tabela competitivo e é capaz de transportar mais carga útil que o Cyclone-4. Mas, nos próximos anos, o veículo terá um extenso manifesto de lançamentos a cumprir, o que gera dúvidas quanto à capacidade de fabricação acompanhar a demanda. Além disso, embora sua operadora divulgue admin/publicamente o preço de US$ 54 milhões como frete, um relatório interno da NASA, a agência espacial norte-americana, projeta um custo, em 2012, de US$ 111 milhões (trata-se de lançamento de um satélite e não da cápsula orbital).
Do lado chinês, a família Longa Marcha é confiável e de preço atraente. Contudo, somente há tentativas de comercializar os foguetes mais recentes da série 3 (3B), que são de maior capacidade (superior a 5 toneladas em órbita GTO), e, portanto, não competem com o Cyclone-4. Os lançadores da classe média (série 2), por enquanto, estão reservados para satisfazer a demanda doméstica. Outro ponto que desfavorece os foguetes chineses é que estão sujeitos às restrições impostas pelo regime ITAR.
Já os lançadores indianos (PSLV e GSLV) oferecem um preço baixo, mas enfrentam o mesmo problema do ITAR. Também, o PSLV não oferece disponibilidade imediata, uma vez que cada unidade de lançador é construída para uma missão específica, e leva muito menos carga útil que o Cyclone-4. O GSLV sofreu muitas falhas (em três dos últimos quatro lançamentos), o que, pelos critérios existentes, coloca-o fora do mercado.
No sistema Cyclone-4/ACS, o Brasil entra com a infraestrutura do CLA, sítio espacial situado numa área com excelente localização geográfica, a apenas dois graus da linha do Equador, o que permite realizar o lançamento de satélites para órbitas equatoriais e geoestacionárias com custos menores e altamente competitivos. Esta localização é estratégica e coloca Alcântara como um dos melhores pontos para a atividade no mundo. Já os ucranianos trazem o know how de quem desenvolve, fabrica e lança foguetes com sucesso há décadas, com tecnologias maduras e testadas.
Outra dificuldade vivida pela ACS é a ausência de um acordo de salvaguardas tecnológicas entre o Brasil e os Estados Unidos, tema polêmico e que teve grande destaque na mídia no inicio da década de 2000. Estima-se que a maioria dos satélites comerciais potencialmente acessíveis à ACS, algo em torno de 70% a 80%, contenham pelo menos um componente norte-americano protegido pelo regime ITAR (International Traffic in Arms Regulation). Assim, a exportação de tais componentes e/ou satélites para lançamento a partir do território brasileiro somente pode ser autorizada pelo Departamento do Estado, e desde que haja um acordo de salvaguardas tecnológicas (conhecido tecnicamente como TSA) em vigor entre os dois países, o que, atualmente, não é o caso. A ausência do TSA pode tornar inviável a operação da ACS e prejudicar o retorno dos investimentos feitos pelos sócios.
Resultado da visita de Barack Obama ao Brasil em 2011, foram iniciadas negociações entre os dois países visando à assinatura de um TSA. Fontes da ACS dizem que a proposta brasileira já foi submetida às autoridades de Washington, mas a empresa, embora sendo a parte mais interessada no acordo, não foi consultada durante a preparação do documento.
“É imprescindível que seja dada pelas autoridades brasileiras a prioridade quanto às negociações com as autoridades estadunidenses sobre o TSA, bem como que a ACS seja envolvida nas negociações ou consultada sobre o texto do Acordo antes de a proposta ser enviada para os Estados Unidos”, afirmou à T&D pessoa bastante familiarizada com o assunto.
A concorrência ao Cyclone-4: uma breve análise
O Cyclone-4 é um veículo lançador de classe média, capaz de colocar em órbita cargas de até 5.300 kg em órbita baixa (500 km), ou de 1.600 kg em órbita de transferência geoestacionário. Os principais lançadores de sua categoria incluem os norte-americanos Falcon-9 e Antares, o chinês Longa Marcha 2, os indianos PSLV e GSLV, e o russo Soyuz-2, sendo que os lançadores Soyuz e Antares são bem mais caros que o Cyclone-4 e, em princípio, não seriam muito interessantes comercialmente.
O Falcon-9 oferece um preço de tabela competitivo e é capaz de transportar mais carga útil que o Cyclone-4. Mas, nos próximos anos, o veículo terá um extenso manifesto de lançamentos a cumprir, o que gera dúvidas quanto à capacidade de fabricação acompanhar a demanda. Além disso, embora sua operadora divulgue admin/publicamente o preço de US$ 54 milhões como frete, um relatório interno da NASA, a agência espacial norte-americana, projeta um custo, em 2012, de US$ 111 milhões (trata-se de lançamento de um satélite e não da cápsula orbital).
Do lado chinês, a família Longa Marcha é confiável e de preço atraente. Contudo, somente há tentativas de comercializar os foguetes mais recentes da série 3 (3B), que são de maior capacidade (superior a 5 toneladas em órbita GTO), e, portanto, não competem com o Cyclone-4. Os lançadores da classe média (série 2), por enquanto, estão reservados para satisfazer a demanda doméstica. Outro ponto que desfavorece os foguetes chineses é que estão sujeitos às restrições impostas pelo regime ITAR.
Já os lançadores indianos (PSLV e GSLV) oferecem um preço baixo, mas enfrentam o mesmo problema do ITAR. Também, o PSLV não oferece disponibilidade imediata, uma vez que cada unidade de lançador é construída para uma missão específica, e leva muito menos carga útil que o Cyclone-4. O GSLV sofreu muitas falhas (em três dos últimos quatro lançamentos), o que, pelos critérios existentes, coloca-o fora do mercado.
Brasil e Ucrânia participam com o que tem de melhor
No sistema Cyclone-4/ACS, o Brasil entra com a infraestrutura do CLA, sítio espacial situado numa área com excelente localização geográfica, a apenas dois graus da linha do Equador, o que permite realizar o lançamento de satélites para órbitas equatoriais e geoestacionárias com custos menores e altamente competitivos. Esta localização é estratégica e coloca Alcântara como um dos melhores pontos para a atividade no mundo. Já os ucranianos trazem o know how de quem desenvolve, fabrica e lança foguetes com sucesso há décadas, com tecnologias maduras e testadas.
O Cyclone-4 é um lançador de porte médio e representa a mais recente e avançada versão da família Cyclone. Para se ter uma ideia, seu antecessor, o Cyclone-3, que esteve em operação de 1977 a 2009, realizou 115 lançamentos com sucesso. A área reservada para a carga útil do Cyclone-4 é capaz de acomodar qualquer tipo de satélite de porte médio, e ainda tem a possibilidade de lançar múltiplas cargas úteis em diferentes órbitas.
Com um potencial considerável de mercado e a proposta de lançar quatro a seis foguetes ao ano por um custo aproximado de R$ 120 milhões cada, a ACS pode colocar Brasil e Ucrânia na vanguarda das nações que exploram comercialmente a atividade espacial, levando desenvolvimento e investimentos à região de Alcântara e alavancando o desenvolvimento de uma indústria espacial no País.
Com um potencial considerável de mercado e a proposta de lançar quatro a seis foguetes ao ano por um custo aproximado de R$ 120 milhões cada, a ACS pode colocar Brasil e Ucrânia na vanguarda das nações que exploram comercialmente a atividade espacial, levando desenvolvimento e investimentos à região de Alcântara e alavancando o desenvolvimento de uma indústria espacial no País.
Enviado por Alison de Oliveira Moraes
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