Durante anos
a Varig ocupou vários pequenos prédios, casas e hangares junto ao aeroporto de
Congonhas. Áreas administrativas, diretorias, almoxarifados, refeitórios e
diversos setores da manutenção se espalhavam em “puxadinhos” cujos fundos davam
para os pátios de aviões. Dentre todas estas construções, algumas ainda do
tempo da Real Aerovias, há uma que chama a atenção; é uma barbearia com direito
a um autêntico “barber pole” na entrada.
Inaugurada em 1957, hoje está atendendo a
quarta geração de clientes! Inicialmente os barbeiros eram o Seu Carmelo, uma
verdadeira lenda, e o Odilon “Baiano”, um rádio telegrafista que, percebendo a
extinção de seu ofício a bordo das aeronaves, viu uma oportunidade em terra.
Alguns anos depois, em 1963, se juntou a eles o Isidoro, que continua até hoje
no salão.
Há anos que
eu não dava um pulo por lá, mas recentemente, aproveitando que estava numa
semana de reciclagem teórica, resolvi dar um “tapa no telhado”. Logo ao entrar
no salão o Isidoro me reconheceu dos tempos em que eu era copiloto e voava os
Electras da Ponte Aérea. Foi muito gostoso relembrar algumas estórias da velha
Varig e de pessoas que já sentaram naquela cadeira de barbeiro.
Prestes a
completar 50 anos de atividade naquele mesmo local, o Isidoro teve a
oportunidade de conhecer muita gente que fez parte da história da Varig. Ele
conheceu o Ruben Berta, que foi provavelmente o mais emblemático presidente da
Varig, cortou os cabelos do Erik de Carvalho, outro presidente que esteve à
frente da empresa de 1967 a 1979 e também do Cmte Bordini, que foi
vice-presidente da Varig e que em 1984 eu tive o privilégio de ser seu aluno em
aulas de navegação aérea durante o período que frequentei a Evaer (escola da
Varig para pilotos) em Porto Alegre.
Enquanto ele
cortava o meu cabelo, nos lembrávamos de tripulantes queridos do grupo. Ele
contou que lembra como se fosse hoje de dois jovens copilotos (provavelmente
pilotavam o Avro, um avião bimotor para quarenta passageiros que a Varig operou
de 1966 a 1976) que cortavam os cabelos
e que pareciam ser irmãos.
Eram o Fochesato e o Miguel
Arnt, que por muitos anos foram comandantes da Varig. Também falou do Cmt
Bujes, um comandante que sempre foi querido e respeitado por todos e que se
aposentou voando o Jumbo 747. No início da década de 70 o Cmt Bujes levava seus
três filhos para cortarem o cabelo e lá sentavam nas três cadeiras o Paulo, o
Fernando e o Sérgio, este último, ex-comandante da Varig e hoje voando na
Europa.
Lembramos também do Ícaro, outro comandante que era uma unanimidade,
não havia um piloto que não o conhecesse e admirasse. Com este nome ele não
poderia ter sido outra coisa senão piloto da Varig! Quando a empresa encerrou
suas atividades o Ícaro continuou Comandante, mas de seu lindo veleiro que fica
baseado nas águas de Angra dos Reis. Lembramos do Bentinho, um mecânico de voo
que era uma verdadeira figura, e que trabalhou na Varig por muitos anos, pois
havia começado com pouco mais de 14 anos como ajudante de mecânico.
Hoje, das
três cadeiras de barbeiro, duas delas estão ociosas, já que o Odilon “Baiano”
faleceu há muitos anos atrás e o Seu Carmelo teve que abandonar o ofício por problemas
de saúde. Para melhor aproveitar o salão, duas manicures atendem a clientes e
ajudam o Isidoro na manutenção do salão.
Sai de lá de
“cabeça feita” e contente pela boa prosa, foi gostoso lembrar de tantos colegas
que deixam saudade.
Comandante Beto Carvalho
é aviador e piloto dos grandes jatos
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