Vimos esta semana a interpretação dada à crônica “Universidade” escrita por Lima Barreto nos idos de 1.920, que tratava da questão do ensino no Brasil e que, por interessante, a retratamos.
Fazemos isto por entender que mesmo estando a obra com 89 anos, ela ainda é atualíssima e faz com que bem pensemos em nosso futuro, principalmente considerando o momento político em que vivemos, onde os candidatos, com as eleições que se aproximam, no que faz referência a saúde, segurança e educação, trazem vãs promessas e que sabem que não poderão cumpri-las.
Diz a crônica os problemas que ocorriam com os dirigentes políticos da época que tinham todos os tipos de preocupações que, no entanto, refugiam do foco principal: a educação.
Empenhavam-se os primeiros a construir prédios suntuosos e luxuosos sem que, porém, voltassem a atenção para a boa formação daqueles que iriam utilizá-los.
Isto se dá com a conhecida “Emenda Passos Porto”, que impõe a fixação de 25% do orçamento em favor da educação, sem que, no entanto, isto possa refletir sobre os ganhos dos professores que são os esteios da educação e que, como sabemos, são mal pagos. Parece bomba de nêutrons, cuida do material e esquece do humano.
Por sua vez os estudantes da época, em grande maioria, tal como ocorre agora, vão à escola simplesmente para “passarem de ano”, sem se esforçarem para ser bons na área que se dispuseram a seguir.
Buscam os títulos universitários como que, com eles nas mãos, pudessem ir a qualquer lugar e dar soluções fáceis para os problemas que lhes fossem apresentados.
Áreas específicas e que têm como objeto de seus trabalhos a vida e os destinos da pessoa humana já, naquela época, eram lidadas com o mesmo descuido que se tratam hoje o direito e a medicina, pois lá, como hoje, o governo empenhava em abrir faculdades sem cuidar, no entanto, de bem aparelhá-las.
Trata-se, pois de uma questão encravada em nosso meio já desde a década de 20, pois em nosso dia-a-dia tomamos conhecimento das agressões que os profissionais destas áreas causam aos seus contratantes, violando-lhes os direitos e mal lhes assistindo.
O mesmo texto faz referência também quanto o “lobby” que se desenvolve em favor de certos grupos de profissões, como no caso nela referido, o de engenheiros, que era a única que se aceitava para dirigir o Lloyd e os Correios.
Assim, o ensino hoje, como era naquela década, não se pode gerar a maioria de bons professores, o que faz com que se entre em uma espiral negativa, ou seja, não se produz bons profissionais por não se ter bons professores e não se tem bom professor por não se produzir bons profissionais.
Veja-se, por exemplo, a tal “progressão continuada”, implantada em nosso meio pelos governos atuais, que impõe que o aluno seja promovido para o ano escolar seguinte, independentemente do resultado prático que teve em seu aprendizado.
Isto, ao menos nos moldes que estão aí, é um absurdo tão grande que levou, inclusive uma mãe de aluno deste Estado de São Paulo a ingressar na justiça, donde obteve liminar, que impedia que seu filho fosse promovido para a série seguinte.
A busca, pelo que se vê desde 1.920, é a de “formar doutor”, independendo até mesmo da boa formação e cultura deixando, com isso transparecer que, como já ocorria há 89 anos, que nossos governos entendem que quanto menos letrados e cultos mais se pode manipular.
Cabe aqui, desta forma e desta situação, retratar o pensamento de um poeta nacional que sempre afirmava: “Deus de certa forma castiga os povos infiéis, o Egito com gafanhoto e o Brasil com bacharéis”.
Vamos refletir e agir de modo a mudar este (mal) estado de coisa.
Brasilino Alves de Oliveira Neto é acadêmico da ACL e articulista do Taiadablog
4 comentários:
Sr. Brasilino, o seu exercício de reflexão foi importante para o nosso processo de pensar a educação. Num período de desumanização da humanidade fica muito complicado tentar humanizá-la, mas...Vejo que com a educação que temos hoje, qualquer coisa não funcionará. Qualquer proposta que surja deveria, em primeiro lugar, ter a adesão de professores e gestores, no convencimento dos pais. É a necessária articulação para o sucesso de toda e qualquer proposta. O problema é que poucos propõem reais mudanças e muitos boicotam. Tem também o problema do alto custo de implantação, que seria resolvido se tivéssemos governos (municipal, estadual e federal), menos corruptos que, realmente, se preocupassem com a qualidade da educação de sua gente. Vou colocar mais algumas questões para se pensar, e parafraseando o senador Cristovam: “Que país é este”?
Há quanto tempo se diz que não há boa universidade sem bom ensino médio?
O piso salarial do professor esta quase 1 ano parado no STF, mas em dias o Congresso aprova aumento no teto do salario dos ministros do STF.
A liberdade de imprensa deve ser para escrever e ler. Não há liberdade de imprensa em um pais com 14 milhões de adultos analfabetos.
4º do mundo em número de setores com trabalho infantil e forçado.
As FFAA recebem 37 bi p aviões e submarinos e os quartéis fecham por falta de comida p os soldados?
Que país é este?
Me obrigo a aderir às palavras da "anônima" quanto ao artigo do Brasilino, uma vez que ele remete realmente à uma reflexão e nos faz perguntar "Que país é este ?" Nossos governantes não têm noção da gravidade da situação que atinge nossa educação, pois hoje os professores são por eles desrespeitados e massacrados pelos alunos, que respeito nenhum lhes devem. O presidente do Brasil faz uma chanchada quanto aos aviões e os quartéis, como vimos hoje no noticiário, dispensam seus soldados por não terem comida. Cabe aqui uma expressão bem brasileira mas adequada a tudo que vivemos: "É uma brincadeira !". Senhores ou aprimoramos a educação ou dentro de mais alguns anos (poucos) os massacrados seremos todos nós cidaãos ordeiros, trabalhadores e honestos.
A grande e lamentável verdade, é que até mesmo os políticos abandonaram a escola, no que diz respeito aos investimentos, tanto em obras civis quanto e principalmente no planejamento pedagógico vital para a evolução do ser humano.
A disciplina, o respeito, a humanização das relações entre alunos e professores, está intrinsicamente ligada à falta de investimentos no setor, obrigandio-nos a ver, diáriamente pelo noticiário televisivo, à completa e inexorável deterioração de todo o sistema, pilar do complexo que rege a evolução e o avanço das civilizações!
O que podemos esperar de geração tão despreparada como esta?
Acho que o complexo de mudanças necessárias ao reaparelhamento do sistema escolar e sua reinclusão como elemento de extrema grandeza, na recuperação das relações interpessoais, com alunos desmotivados e pouco interessados no sistema escolar, teria que se passar, necessáriamente, por integrais e profundas reformas nos conteúdos pedagógicos das universidades, além de serem desenvolvidas novas sistemáticas que favorecessem o (re)encontro harmônico de alunos, professores e a família, direcionados num só objetivo, como era antigamente, não é?
Á partir destas mudanças, estaria aberto o caminho para que exigências outras, pudessem encontrar resultados práticos mais efetivos dos que temos atualmente!
Concordo com o Brasilino, temos q melhorar a educação. Precisamos de mais doutores e menos conhecedores de tudo e sabedores de nada, com um oceano de conhecimento com um dedo de profundidade.
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