Na política, como em tudo na vida, vigora um princípio indefectível: tudo o que precisa de muita explicação boa coisa não é. Nos últimos dias, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), viu-se enredado numa série de episódios pendentes de esclarecimento.
Deputados estaduais de oposição fustigam Cabral por ter viajado com amigos para um passeio no Sul da Bahia nas asas de um jatinho de Eike Batista. Interrompida por uma tragédia, a viagem de Cabral resultou na morte de sete acompanhantes, entre eles a namorada do filho do governador.
E o Ministério Público Federal abriu inquérito, na Bahia, para apurar por que o traslado dos corpos para o Rio foi feito em aeronaves da FAB. Abalado pelo desastre, Cabral pediu licença de uma semana e refugiou-se na casa que mantém na cidade de Mangaratiba. Um imóvel também envolto em bruma de dúvidas!
Avaliada em R$ 1,5 milhão, a casa do governador fica num condomínio elegante, defronte para o mar. No período adquiriu a propriedade, Cabral adensou os modestos salários de político com “empréstimos” tomados junto a familiares e assessores. No intervalo de cinco anos, os “empréstimos” carrearam para a conta bancária de Cabral R$ 474.852,17. Chefe de gabinete de Cabral à época em que ele ainda era deputado estadual, Aloysio Neves Guedes repassou-lhe R$ 54 mil. Ganhava, então, R$ 5.400 mensais.
Outro assessor, Pedro Lino, contribuiu com R$ 46 mil. Recebia salario igual ao de Aloysio: R$ 5.400.
Subchefe de gabinete do ex-deputado estadual Cabral, Sérgio Castro Oliveira entrou com R$ 31 mil.
A empresa Araras Empreendimentos, de Suzana Neves, ex-mulher de Cabral, borrifou na conta dele R$ 79 mil.
Gastão Lobosque, ex-sogro de Cabral, compareceu com R$ 264 mil.
De resto, Cabral tomou R$ 150 mil emprestados da Sociedade Três Orelhas, administradora do condomínio onde a casa está assentada. Do ponto de vista fiscal, a compra do imóvel está recoberta pelo manto diáfano da prescrição. A assessoria do governador informa que o papelório foi “descartado”, já que são decorridos mais de cinco anos.
No campo da política, porém, casa é, ainda, uma transação imobiliária à espera de esclarecimentos. Cabral limita-se a informar que pagou os empréstimos. Aloysio Guedes, um dos financiadores do governador, virou conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Já nem se lembra do empréstimo: “Faz muito tempo. É coisa muito pequena para eu recordar”.
Pedro Lino, outro provedor, também é acometido de lapsos de memória:
“Se foi feito, está em meu Imposto de Renda”!
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