Taiadablog: Comandante Niltinho: A hemorragia !!!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Comandante Niltinho: A hemorragia !!!

Minha mãe sempre dizia que não existia coisa melhor para curar um soluço, do que um susto bem dado! E nisto ela era mestra, ela tinha a pachorra de ficar esperando atrás da porta e quando passávamos, ela caia em cima da gente,  pregando-nos tamanho susto que, as vezes, chegávamos a urinar nas calças! E assim o soluço passava, não tinha jeito!
É não é que um susto, também pode estancar uma hemorragia? Vocês acreditam nisto?
Não duvidem, caros amigos pois esta história prova que é  verdade, só não me perguntem como, pois não saberei explicar. São daquelas coisas que acontecem na Amazônia, pois se não existisse Deus, como iriam sobreviver os infelizes que por lá habitam!
Vocês poderiam indagar: e o Estado? o município? O que faz por este povo? Nada! respondo eu e, se não fosse pela bondade e pela solidariedade humana, muitos dos que moram por lá, provavelmente já estariam mortos!
E aqui eu faço uma homenagem, ao meu amigo “Zé Antonio” da Brazud, dono de umas das fazendas mais produtivas de São Felix do Xingu, homem de bom coração, nunca deixou de receber qualquer um que batesse em sua porta pedindo por um pouso, por comida, usar seu rádio, etc. Sua pista de pouso sempre estava aberta para quem dela necessitasse, e olha que muita gente nela se apoiou, e nesta história, foi fundamental para salvar a vida de um pobre coitado.
Era um domingo, e eu estava numa moleza danada, tinha bebido na véspera, e como o álcool nunca foi parceiro da aviação, eu tinha me prometido que não iria voar por decreto nenhum, iria dormir a tarde toda! Só que, de repente, quando toca o telefone, e imaginem quem era? O Fogoió, dono da estação de rádio! Ele fazia a conexão entre o povo da floresta com a cidade.
“ - Acorde Niltinho, que tem um vôo para você!”
- Hoje não dá, Fogoió, estou numa “ressaca” tremenda. Acho que vou morrer!
- Não, Niltinho você vai ter que ir. O homem está mal, trouxeram-no numa rede, de longe e está na pista da fazenda Brazud ! Se ninguém for tirá-lo de lá, vai morrer com certeza e só tem você na cidade hoje! Vai lá bicho, tira o homem!”

È isto que digo: A “solidariedade”, é mão que ajuda a salvar muita gente! Aqui entre nós, é um dos sentimentos mais importantes da natureza humana e em razão disto é que resolvi buscá-lo. Porém, tinha alguma coisa que me dizia que aquele vôo não seria normal!
Abasteci 60 litros apenas de avgas no CZC, talvez fosse necessário decolar lotado de lá, eu não ia querer passar um “sufoco”. Decolei com uma preguiça danada, a sorte era que meu avião sabia da rota e era só soltar o manche que ia sozinho, igual cavalo de pinguço.
Que vôo chato! Eu numa ressaca daquelas, o tempo meio embananado, tive que passar naquela garganta que existe na serra antes de chegar à fazenda, e teto baixo naquela região nunca foi agradável! Não demorou muito, lá estava eu pousando, minha vontade era virar para tráz, e voltar a dormir!
Parei na porta da fazenda, desci do avião e fui ver meus passageiros e quando entrei pela varanda, enxerguei um homem moreno claro! Sua pele estava muito branca, sua palidez impressionava!
Seus olhos indicavam, seguramente, o exato estado em que se encontrava! O homem, de fato, estava com o pé na cova, tinha levado um golpe de facão que lhe atingiu a perna, ao roçar um pasto, causando uma hemorragia que não parava! Tiveram que trazê-lo na rede para a única pista que havia por perto, a da Brazud, e ali estava ele, em seu segundo dia de sofrimento!
Aguardava-me, para levá-lo ao socorro! E neste momento senti pena dele, cansei de transportar gente a beira da morte, porém não igual aquele !
O interessante é que não reclamava, estava sempre sorrindo! Só mesmo aquele espírito abnegado do povo da Amazônia, para se comportar daquela maneira!
Minha vontade era tirá-lo dali rapidamente! Senti que o Fogoió não havia mentido pois o homem iria morrer se aquela hemorragia não fosse estancada e eu sabia que teria que chegar logo em Tucumã!
Tratei logo de acomodá-lo ao meu lado, dando espaço para sua perna ,junto com os pedais, e o resto do povo foi lá para trás.
“ - Como está, companheiro?
- Bem melhor agora que você chegou, comandante!
- Aguenta aí que em breve você vai estar no hospital. Viu?”
Senti que ele estava se acalmado!
Dei partida no CZC, e comecei a taxiar para outra cabeceira. A pista, para os padrões do Pará é boa, o único senão, era que a cerca que havia nos dois lados da pista eram muito juntas, tornando assim a pista um pouco apertada, não dando muito espaço, no caso de você precisar desviar de alguma coisa. E isto é muito ruim!
Quando estávamos, mais ou menos no meio da pista, havia um magote de gado, vacas, bezerros, novilhas, touro, parados, descansando na beira da cerca, uns deitados, remoendo, outros de pé!
Eram todos Nelore de boa qualidade, e vocês sabem que o gado desta raça, é muito agitado! Qualquer coisinha eles partem prá cima da gente! Ao observá-los, comentamos:
“ - Que gado bom tem o senhor Antonio, Heim?
- É mesmo! Respondeu. Você precisa ver os bois gordos Niltinho, são de tirar o chapéu!” respondeu o “enfermo”, que estava bem ao meu lado, de onde via tudo à nossa frente.
Acelerei mais o avião para chegarmos logo no final da pista e não notei que o barulho havia despertado aquele magote de gado!
Quando parei na cabeceira, chequei o avião, vi que tudo estava em ordem, segurei nos freios, deixei os flaps para acionar quando puxasse o manche, e acelerei tudo!
Esta era uma maneira que usávamos quando decolávamos com muito peso, de uma pista curta! Dava mais velocidade ao avião, só que este procedimento, produzia um barulhão danado!
E ai meus amigos, o gado assustou, e, quando já estava correndo pela pista, um bezerro que estava deitado justamente debaixo do ultimo fio de arame, ao invés de  correr junto com a mãe para o meio do pasto, passou por debaixo da cerca e correu na minha direção!
Vinha parecendo um cego, um doido e, quando o vi, dei um grito! O enfermo, do meu lado, também gritou:
” - Vai bater, comandante!”, presenciando toda aquela cena e como não dava ainda para decolar e passar por cima dele, pois não tinha velocidade suficiente, a única coisa que me restou fazer, foi livrar a hélice e oferecer o lado direito do avião para que ele batesse!
E ele bateu com tamanha força que o profundor (parte da cauda do avião) saiu do lugar amassando tudo!
Antes de ser jogado para cima, deu uma cambalhota e caiu esborrachado no chão, saindo correndo o desgraçado, todo assustado! Imaginem só, atropelei um avião! Estaria pensando ele naquele momento!
Abortei a decolagem, freei o avião, abri a porta e fomos  ver o estrago, todo mundo assustado! Olhei para cara do enfermo, ele estava branco, parecia que não havia mais uma gota de sangue em seu rosto tamanho foi o susto que  levou! Pudera, ele assistiu tudo, estava ali bem na frente ao meu lado!
Naquele momento pensei, e agora José? O que seria daquele homem? Eu não poderia mais sair dali, enquanto não consertasse a aeronave e não saberia quanto tempo isto levaria para acontecer!
Outro avião só no dia seguinte e olhe lá, imaginei comigo!
Como a vida é ingrata para certas pessoas, mais um segundo apenas teria dado tempo para decolar e todos estariam a salvo. E agora? Só restava a morte, para ele!
Que injustiça para com aquele pobre coitado! Onde estaria o bondoso Deus naquele momento? Onde estaria?
Sentei ali no chão e me deu vontade de chorar, estava muito revoltado!
Passado o sufoco, tratamos de transportar o enfermo de volta para casa. O avião? Iria cuidar dele mais tarde. Nada aconteceu com o bezerro, que voltou para sua mãe e foi mamar!
Instalamos, o enfermo (desculpem-me, não consigo lembrar seu nome), de volta na rede, e fui para o rádio, tentar avisar minha esposa e pedir socorro.
Olhando para a perna do moribundo, notei uma coisa estranha: a hemorragia havia cessado, o sangue não vazava como antes! Perguntei-lhe:
“ – O que aconteceu, companheiro, o sangue parou de vazar?
- É comandante, alguma coisa aconteceu, o sangue não corre mais!”
Meu Deus, o que havia acontecido? Não estava entendendo mais nada pois, momentos antes estava vendo aquele homem morrer e agora, estava se recuperando! Afinal o que havia acontecido? Seria o susto ou um milagre?
Dizem que quando o coração pressente que vai haver uma alteração e poderá ficar sem sangue, ele recolhe o máximo possível para si, e por isto que se fica pálido, isto é para protegê-lo! Aí pode estar a explicação para o estancamento do sangue que ocorreu!
Meus amigos até hoje não tenho explicação nenhuma para o ocorrido!
A única coisa que pensei, foi pedir a Deus o meu perdão, por Dele ter duvidado! Será que Ele quis me dizer alguma coisa, que na vida a gente não deve ficar julgando as coisas sem que de um tempo maior, para que entrem nos eixos novamente?
Ser mais confiante, acreditar mais nele, eu, que era um tanto descrente? Serviu de lição, hoje sou muito mais temente a Deus, e vejo o tanto que precisei Dele quando voava, pois não existe uma pessoa que passou maior sufoco na aviação! Se existe, eu duvido que seja igual. Somente com ajuda dele consegui sobreviver! Não tenho a menor dúvida.
No outro dia o Espanha apareceu, trazendo um chapeador que por milagre estava dando umas voltas por Tucumã, fez um reparo de emergência na cauda do CZC, ocasião em que ficamos na fazenda por uns três dias! O enfermo aproveitou o retorno do Espanha e foi passear em Tucumã, pois na realidade estava totalmente curado, não havia necessidade de hospital.
E assim termino este conto sem realmente ter compreendido tudo que ocorreu naqueles dias, mas, de hoje em diante, quero ficar sempre de bem para com Ele !

Comandante Niltinho
é piloto de garimpo


2 comentários:

Anônimo disse...

foto horrivel!!! depois vc critica a tv vanguarda pelas reportagens que veicula..olhe seu proprio rabo!!!

Zuzu disse...

Acho que o mané anônimo queria que fosse colocada a foto de uma linda moça de bikini, no lugar desta, não é mesmo? gatão!