É lamentável a espetacularização do câncer, vazada como cenas da vida doméstica, protagonizada por Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, não esperou muito tempo e acabou revelando certamente mais do que pretendia o partido. Segundo escreveu no Twitter, Lula fez barba e cabelo e deixou o bigode para as eleições de 2012. É indecente.
Estamos falando de propaganda. Assim como Toscani (Benetton”, by Oliviero Toscani) expunha um doente de Aids com a família chorando à sua volta para vender camiseta e moletom, Lula usa a sua doença para, como comprova Berzoini, conquistar votos para o seu partido.
Profissionais da fotografia teriam muito a falar a respeito. Um resultado como o divulgado requer ajuste de luz, muitas dezenas de fotografia, até que se escolham “aquelas”. Há tudo nas imagens divulgadas, menos aquilo que se tentou vender ao público: o flagrante e a espontaneidade.
Aquilo é uma cena preparada. O casal atua como modelo — ele, no seu papel predileto: Lula; ela, no dela: mulher de Lula. Por que isso? A parte mais chata da barba fica ali na fronteira do lábio inferior, área já raspada e escanhoada, como se nota. O mesmo se pode dizer da papada. Tudo lisinho. E há a questão óbvia: a assessoria de Lula deslocou Stuckert (fotógrafo oficial de Lula) até a casa do ex-presidente, mas não teve o bom senso de chamar uma profissional para lhe raspar cabeça e barba, operação que sempre comporta algum risco?
Lula torna o processo político refém de sua biografia — ou melhor: o processo político se deixa capturar por suas lendas pessoais. Na Presidência, suas batatadas não podiam ser criticadas sem que pesasse a sombra do preconceito. Agora, quando ele faz óbvia exploração política de sua doença, considera-se de mau gosto apontá-lo. É preciso que Ricardo Berzoini o faça. Até a recomendação, em tom de ironia, para que vá se tratar no SUS, ainda que a tanto ele não esteja obrigado, é tomada como grave ofensa, “baixaria”, um verdadeiro vilipêndio!
O processo político trata Lula como expressão do sagrado. Já ele próprio nunca se importou em ser bastante profano, como se vê mais uma vez.
Fonte:Blog do clovis cunha
O processo político trata Lula como expressão do sagrado. Já ele próprio nunca se importou em ser bastante profano, como se vê mais uma vez.
Fonte:Blog do clovis cunha
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