Taiadablog: O Homem de Lugar Nenhum: Será você ???

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Homem de Lugar Nenhum: Será você ???

Ele é um verdadeiro Homem de lugar nenhum 
Sentado em sua terra em lugar nenhum,
Fazendo todos os seus planos para lugar nenhum,
para ninguém.

Não possui um ponto de vista,
Não sabe para onde está indo,
Ele não é um pouco como você e eu?

Homem de lugar nenhum, por favor, ouça,
Você não sabe o que está perdendo,
Homem de lugar nenhum, o mundo está ao seu comando.

Ele é tão cego quanto pode ser,
Só vê o que quer ver,
Homem de lugar nenhum, você pode me ver?

Homem de lugar nenhum, não se preocupe,
Faça as coisas no seu devido tempo, não se apresse,
Deixe tudo até que alguém
lhe dê uma mão.

Não possui um ponto de vista,
Não sabe para onde está indo,
Ele não é um pouco como você e eu?

Homem de lugar nenhum, por favor, ouça,
Você não sabe o que está perdendo,
Homem de lugar nenhum, o mundo está ao seu comando.

Ele é um verdadeiro Homem de lugar nenhum,
Sentado em sua terra em lugar nenhum,
Fazendo todos os seus planos para lugar nenhum,
para ninguém.

Tradução da música Nowhere Man, dos Beatles 
Tradutor: João Luís de Almeida Machado

E você, é um homem [ou mulher] de lugar nenhum? Não? Será mesmo? Que garantias você tem quanto a isso? Sua casa? Seu automóvel? Seus discos? Família e amigos? Emprego? E se tudo isso for apenas fruto da sua imaginação? Já pensou que a história de Matrix [ou alguma variação da mesma] pode ser verdadeira e estarmos apenas sendo alimentados por algum sistema que a todo o momento precisa de nossos impulsos elétricos corporais para sobreviver? Sombrio e assustador, não acham?

Frederick Winslow Taylor, o célebre americano que estudou os métodos e processos industriais com o intuito de recriá-los dando-lhes maior velocidade e eficácia, com um melhor aproveitamento do tempo individual de trabalho de cada pessoa que participasse de uma linha de produção [criando as bases do famoso sistema de trabalho conhecido como taylorismo, em sua homenagem] chegou a afirmar, literalmente que, enquanto “no passado os homens vinham em primeiro lugar, no futuro o sistema deverá vir em primeiro lugar”. Será que Taylor já estava antevendo o que aconteceria no século XXI?


Nesse sentido, será que Paul, John, George e Ringo também não estavam prevendo o futuro quando criaram a letra de “Nowhere Man” [O homem de lugar nenhum]? Afinal de contas, se nos tornarmos apenas peças cambiáveis e descartáveis de um sistema em operação estaremos assumindo, definitivamente que somos “homens de lugar nenhum”, não acham? Se apenas reproduzimos o cotidiano, sem refletir a respeito daquilo que acontece ao nosso redor [tão cegos quanto pudermos ser, sem opinião formada a respeito das coisas, como dizem os Beatles na música], não iremos reagir, responder, retrucar, tomar o poder do mundo ou, ao menos de nossas vidas...

O que diferencia você das outras pessoas para que possa realmente assumir-se e dizer-se dono do seu nariz, do seu destino, do seu rumo? Ou será que, no final das contas, era Cypher [Joe Pantoliano, personagem do filme Matrix, que trai seus companheiros e escolhe a Pílula Azul, sujeitando-se ao sistema] quem tinha razão?

Quando começo a juntar as peças e penso na música dos Beatles, em Matrix ou no Taylorismo, não consigo me distanciar das imagens de outro clássico, “Tempos Modernos”, de Chaplin. Tanto na seqüência inicial, em que depois de um enorme relógio [que dita o tempo mecânico orientador de nossas vidas] surgem ovelhas correndo numa mesma direção e, em seguida, esses animais [metafóricas imagens de nós mesmos domesticados] são substituídos pelos homens, a caminho do trabalho, cruzando a rua para chegar a fábrica, onde mecanicamente dão continuidade ao fluxo das máquinas, como vemos na imortal figura de Carlitos...

Que diferença existe entre os “tempos modernos” de Chaplin e o presente [e futuro previsto] em que diariamente abastecemos sistemas eletrônicos como a internet? O sonho de Sergei Brin e Larry Page [os jovens criadores e donos do Google] é que a empresa que lhes pertence desenvolva uma Inteligência Artificial tão desenvolvida que resolva problemas que ainda não foram resolvidos pelos seres humanos... Não será isso a Matrix? Não seremos a partir de então [se já não formos] homens [e mulheres] de lugar nenhum?
 
Prof. Dr. João Luiz de Almeida Machado
é articulista e membro da Academia Caçapavense de Letras

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