Toda esta história em relação aos distúrbios entre os empregados das construtoras da Usina de Jirau, que está sendo construída no Rio Madeira em Rondônia, acabou por gerar um problema muito maior para os administradores, que é o atraso na conclusão e entrega das obras.
Certamente, os distúrbios tem a ver, com a distorção na interpretação dos códigos da “rádio Peão”, que podem não ter sidos levados a sério pelos administradores de pessoal da obra.
Por conta de minhas atividades profissionais nos anos 80, acabei sendo levado a administrar um acampamento (este era o nome na época!) de mineração de cassiterita, no local denominado Pista Nova de São Raimundo, na região Sul do estado do Pará, proximidades do Igarapé do Iriri e de vários conglomerados indígenas, além do super garimpo de Serra Pelada e de também estar localizado numa área repleta de conflitos entre madeireiros, indígenas, missões religiosas estrangeiras, etc.
A região era fervilhante, sob todos os aspectos!
Com nossas necessidades de pessoal aumentando, dia a dia, o quadro de empregados passou de 25 para 4.000 pessoas num piscar de olhos e, para evitar a concorrência de mão de obra com Serra Pelada, a empresa pagava salários muito acima do mercado, alimentação completa (café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar), uniforme completo (inclusive com calçados), além de oferecer cinco dias e passagens (navio e ônibus!) para a cidade de destino (na região) a cada 4 meses para os profissionais de operação e passagens aéreas e 3 dias a cada 30, para os profissionais de nível técnico e superior, com destino às duas cidades de apoio próximas (Altamira e São Felix do Xingu).
Pois bem, na intenção de proporcionar melhores condições de trabalho aos nossos empregados, resolvi contratar uma Nutricionista, para gerenciar a qualidade da alimentação servida em nossos cinco refeitórios e, depois de um recrutamento muito bem apurado (nível nacional), acabei contratando a Srta. Yeko (de origem japonesa).
Antes do início de suas atividades, fiz-lhe um briefing das necessidades nutricionais do acampamento além de apresentar-lhes as instalações todas. Tratei também, de apresentá-la à “arara”, que, na verdade, era o apelido dado àquelas latas de carne prensada, vendidas em supermercado.
Alertei-a que, embora nossos estoques contivessem absurda quantidade deste tipo de alimento (comprada equivocadamente!), nosso trabalhador não aceitava, de jeito nenhum, que os restaurantes servissem-na e, para evitar quaisquer tipo de problema, neste momento, alertei-a, proibindo-a de utilizar , até mesmo em pastéis!
Passado alguns dias, tive que viajar até Manaus, com aeronave da empresa e, prestes a pousar no Aeroporto Militar, recebi por rádio, a informação de que “o pau estava quebrando em nosso acampamento”!
Imediatamente arremetemos o pouso, retornando à Pista Nova e quando nos aproximávamos, já pude notar a desgraça, pelas colunas de fumaça no horizonte, constatando ao pousar: nossa Nutricionista tinha desprezado minha orientação, mandou servir Arara nos cinco refeitórios, os trabalhadores se revoltaram, começaram um quebra-quebra, tacaram fogo nos restaurantes e escritórios, enfim, foi uma quizumba só controlada, com a intervenção dos serviços internos de segurança, apoiados pela Polícia Federal.
Resultado: A mina teve parada total de quase 10 dias, prejuízos incalculáveis, máquinas e equipamentos destruídos, muitos empregados perdidos na floresta por quase uma semana, muita gente demitida por justa causa, e a nutricionista teve seu contrato de experiência encerrado, sendo retirada da área no mesmo dia, sob forte escolta!
Mas, o pior mesmo, foi a recuperação dos restaurantes pois, para evitar mais distúrbios, passamos a fazer as refeições, no mesmo dia, com materiais improvisados, até a completa reposição do material perdido! Levamos cerca de 3 dias para achar todos os cozinheiros que, assustados, esconderam-se na floresta temendo agressões!
Um comentário:
Fantastic !
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