Era lá, nos tempos da meninice que o garoto Alberto já mostrava ser diferente em suas visões do mundo. Na varada, as crianças se divertiam na brincadeira das prendas, onde cada um responde uma pergunta. Alguém pergunta: Voa o urubu? E todos gritam "Sim!". Voa o gato? E todos gritam "Não!". Voa o Homem? E quase todos gritam "Não!" Só Alberto é que fala "Sim!". Ao ser ironizado, responde: "Um dia o homem há de voar!"
O menino ficava ali, deitado no chão da fazenda a observar o céu e o vôo dos pássaros. Adorava os balões que as pessoas soltavam nas noites juninas e era devorador dos livros de Julio Verne. As experiências áreas de outras pessoas o levaram a conhecer as conquistas dos irmãos Montgolfier em 1783, feitas com balões de ar quente e também a travessia do Canal da Mancha em 1785, realizada por Jean Blanchard e John Jeffries.
Alberto Dumont não fez qualquer curso superior, apesar dos apelos de seu pai, mas dominava assuntos ligados à Mecânica, Física, Eletricidade e Química. Era um homem muito culto em quaisquer outros assuntos e falava vários idiomas, entre eles o francês, o inglês e o espanhol, além, claro, do português.
Depois que o pai sofreu um acidente de charrete em 1890, a família foi obrigada a vender a fazenda de café para cuidar do tratamento do engenheiro Henrique. Logo no ano seguinte, rumaram para Paris onde o futuro inventor teve contato pela primeira vez com um motor a gasolina. Até então, o brasileiro só conhecia os motores a vapor.
As proezas na França
Em 1992, portanto, com 19 anos, o rapaz conseguiria do pai a sua emancipação e com ela, uma boa parte da herança da família. Henrique Dumont ainda recomendou que Alberto estudasse engenharia, aproveitando que estava morando na França.
O jovem Alberto passou a buscar tudo o que envolvesse informação sobre motores a propulsão e dirigibilidade, mergulhando totalmente nas noções sobre Eletricidade, Química e Física. Logo, construiria em 1987 um motor a explosão de dois cilindros.
Dumont queria passar pela primeira sensação de se elevar pelos ares. Assim, procurou a empresa de Lachambre e Machuron, uma oficina de aerostação (navegação aérea em aparelhos mais leves que o ar). Acertou valores e definiu para o dia seguinte, 23 de março de 1898 a sua primeira ascensão, que seria no Parc d´Aerostatasion em Vaugirard, perto da Porte de Versailles.
Às 11h00 da manhã, subia o balão a cerca de 3.000 m, sobrevoando 100 km, inclusive dividindo uma refeição acima das nuvens. O pouso aconteceu no parque que pertencia ao Castelo de La Férriere.
Empolgado, Dumont resolveu construir seu próprio balão. No dia seguinte, estava novamente na oficina de Lachambre e Machuron. Um balão tradicional foi construído, sendo que o brasileiro acompanhou todos os detalhes.
Recomendou o uso de seda japonesa para diminuir o peso do balão que ganhou o nome de 'Brasil' . Os balões dessa época variavam entre 500m3 e 2000m3, e Santos Dumont apostou em um de apenas 100 m3 com um cesto para uma pessoa apenas. Também apostou no seu pouco peso e estatura: Era um homem de 1.65m e 50 kg apenas.
Santos Dumont põe o Brasil lá em cima
No dia 4 de julho de 1898, Alberto Santos Dumont surpreenderia Paris com um balão muito menor do que até então já se havia visto. O Balão Brasil subiria com as cores verde e amarelas e uma flâmula desfraldada, um delírio para a multidão parisiense e uma repercussão imensa na Europa. Naquele ano, o brasileiro ainda voaria mais umas trintas vezes.
Em 1899, após estudar exaustivamente a questão da dirigibilidade e propulsão, voou com os dirigíveis nº 2 e nº 3, e depois passou a se concentrar no nº4, até que o magnata Henry Deutsch de la Muerte ofereceu um prêmio àquele que, partindo de Saint Claude em um balão, chegasse a Paris e contornasse a Torre Eiffel em30 minutos. Dumont tentou com o dirigível nº 5 nos dias 13 de julho de 1901, mas sofreu um choque com o arvoredo do de Edmond de Rothschild..
Conseguiu vencer com o dirigível nº 6, em outubro daquele ano, sendo que doou o prêmio de cem mil francos entre as pessoas de sua equipe e as pessoas desempregadas de Paris. O inventor brasileiro ainda concebeu o dirigível nº 7, pulou o nº 8 (por superstição) e com o nº 9 tornou-se ainda mais popular, pois era um dirigível ainda menor que os demais.
Seu dirigível de nº 10 foi construído para levar 12 pessoas. Depois vieram o 11, com dois motores e asas, o 12 e o 13.
Em 1905 construiu o 14. E logo após ele, o famoso 14-Bis invento que já era o primeiro aeroplano da história, dotado de um motor à gasolina. Ganhou esse nome porque a principio, voava acoplado ao 14.
O primeiro artefato mais pesado que o ar
No dia 23 de outubro se 1906, vem a glória e o renome. O brasileiro Alberto Santos Dumont voaria pela primeira vez com um artefato mais pesado que o ar e ganhava com o 14-Bis a Taça Archdeacon (instituída para aparelhos mais pesados que o ar e de propulsão própria) por um vôo de 25 metros.Depois ganharia também do Aeroclube da França um prêmio de 1.500 francos após um vôo de 60 metros em Bagatelle, na França.
Passou a ser considerado o "Pai da Aviação" e esse passou a ser o Dia de Santos Dumont, mérito que também é reivindicado para os americanos irmãos Wright. Com o fim da fase dos balões e início das aeronaves, Dumont presta uma homenagem à mulher francesa e idealiza o Demoiselle, aeronave elegante e ainda mais leve que chega a incríveis 77 km e faz acrobacias inimagináveis.
A partir daí, os países avançados darão início a Era da Aviação, construindo pistas de decolagem, hangares e fábricas de aeronaves. Dumont ainda construiria o dirigível 15 (dotado de asa de madeira), o 16, (misto de avião e dirigível), o 18, mas os projetos não foram satisfatórios. Passou então a aprimorar o Demoiselles (senhoritas em francês) fabricando os números 19, 20, 21 e 22. Resolveu não patentear seus inventos para motivar os demais inventores e engenheiros a criarem novos projetos e inovações.
O último voo do inventor brasileiro
Fez um último e glorioso vôo sobre Paris, visto por uma multidão, em 18 de setembro de 1909 quando dirigia uma de suas aeronaves e acenava com um lenço em cada mão para a emocionada e encantada população parisiense lá em baixo.
O inventor brasileiro foi o primeiro a receber o brevê de aviador, fornecido pelo Aeroclube da França. No ano seguinte, uma esclerose múltipla começou a afetar a vida do brasileiro que ficou debilitado. Cansado teve que encerrar as atividades de sua oficina em 1910 e se afastou de todos.
Com a Primeira Guerra Mundial, aeroplanos começaram a ser usados na guerra. As tropas alemães invadiram a França em agosto de 1914 e Santos Dumont ficou a assistir, decepcionado, sua invenção ser usada para a morte de pessoas. Um sonho virou pesadelo, embora tenha quase implorado para as autoridades o não uso dos aparelhos.
Em 1915, com a saúde ainda mais debilitada, Alberto Santos Dumont voltaria para o Brasil. No 11º Congresso Científico Panamericano nos Estados Unidos, Dumont defendeu o uso de aviões para facilitar as relações dos países americanos, mas a invenção já estava sendo usada para fins militares, Os Estados Unidos já fabricavam 16 aeronaves por dia, para finalidades bélicas.
Na figura desta belíssima aeronave, Cessna 172 Skyline, na época da foto, de propriedade de nosso grande amigo Comandante Niltinho que, enfrentando a saga dos aviadores da região amazônica, jamais se esqueceu de homenagear
este grande brasileiro que foi Santos Dumont!
Ao Comandante Niltinho e à todos os demais aviadores deste mundão de Meu Deus, os nossos cumprimentos, pelo Dia do Aviador!
Um comentário:
Obrigado, JC,não mereço tanto, Santos Dumont sim, linda homenagem que você fez a ele, me surprendeu mano (confeço que levei um susto vendo o CZC no final) você ainda me mata do coração.
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