Esta foi a primeira e a última vez que fiz um vôo para transportar defunto pois, diziam os velhos amigos da aviação, estes, eram sempre carregados de mistérios, relatando-me várias histórias que mostravam como eram diferentes dos demais!
A história mais interessante foi aquela em que o piloto Azeitona (das pretas, por que ele era bem negro e careca), foi contratado para buscar um engenheiro que havia falecido, de para cardíaca, num vilarejo lá pelas bandas de Araguaína!
Quando chegou ao vilarejo, os habitantes do local haviam acabado de encontrá-lo morto e como não tinha nenhuma urna funerária, enrolaram-no num lençol, ficando na pista no aguardo do avião chegar.
Para surpresa, não havia ninguém para acompanhar o defunto, que era totalmente desconhecido no local, Azeitona convidou um “Mudinho”, meio ruim da cabeça para ir com ele, convite aceito na hora pois o pobre, que nunca havia voado, não ia deixar passar uma oportunidade como aquela, embarcando, todo alegre, junto com o piloto e o defunto.
Como o avião estava sem os bancos de passageiros, estenderam o morto com a cabeça para o fundo do avião e os pés para frente, quase encostados no Mudinho e no piloto!
A decolagem foi normal, Azeitona mais tranquilo, seu companheiro de voo era um tanto calado, não sabia falar direito, porém era melhor que nada, sozinho ele não queria ficar com o defunto, afinal nunca se sentia bem em velório!
Quando criança, as histórias que sua avó contava, de “assombração”, ainda perambulavam em sua mente, e sempre se assustava, ficando com os olhos arregalados! Portanto, o Mudinho foi um achado, e não que seja difícil encontrar estes piolhos de aeroporto querendo voar, tem muitos que ficam perambulando por ali só aguardando alguém chamar, e logo já estão dentro do avião sem nenhuma noção do perigo!
Tenho um amigo que gostava de fazer manobras no ar e, que, quando pegava um companheiro de voo destes, fazia tantas piruetas, que o pobre nunca mais voltava a beirar o aeroporto, chegando mesmo a molharem as calças!
Interceptaram a Belém-Brasília, e prosseguiram por cima dela, rumo a Araguaína! A estrada, na verdade, servia como um VOR, naquele mundão sem apoio, era uma grande referencia para todos os pilotos que voavam na região!
Em certo momento, quando os dois estavam entretidos com o vôo, especialmente o Mudinho que nunca tinha voado, o engenheiro acordou de seu sonho mortal, e vendo-se metido naquela situação, deduziu que havia tido um daqueles ataques em que a pessoa fica aparentemente morta, podendo acordar a qualquer momento, só que acordar sendo transportado de avião, não seria nada legal pois poderia assustar o piloto! Tratou então, de traçar um plano!
Deu um cutucão com o pé, na bunda do Mudinho!
Quando o pobre coitado virou para trás, olhando assustado, ele fez um sinal de psiu, com o dedo em riste nos lábios, voltando a fechar os olhos!
Nesta altura, o Mudinho, muitíssimo assustado entrou em pane e, agarrando o braço do Azeitona, apontava para o defunto tentando dizer que estava vivo!
Azeitona, sem entender o que o Mudinho falava, olhou para trás e não viu nada de anormal e acabou dando-lhe um safanão para que se acalmasse e o deixasse pilotar o avião em paz!
Só que o Mudinho, com os olhos arregalados, queria sair dali de qualquer jeito, e tentava abrir a porta, gesticulando que iria pular! Foi preciso que Azeitona ralhasse violentamente, para que ele sossegasse!
Passou um tempo, as coisas se acalmaram um pouco, e lá vão os dois, um olhando para o outro, meio desconfiados um do outro!
Quando o Azeitona sentiu que alguma coisa havia encostado em sua bunda, voltou-se rapidamente para o falecido e não é que o morto não estava morto?
Lá estava ele com os olhos bem abertos, sorrindo, fazendo Azeitona tomar um baita susto, puxando a manete para trás e meteu o nariz do avião para baixo, despencando rumo à estrada e não deu outra, pousou na Belém Brasília, abriu a porta e saiu correndo para um lado, e o Mudinho para outro!
E lá ficou o engenheiro a gritar, pedindo que voltassem! Parece que até hoje o Azeitona e o Mudinho não pararam de correr!
Vocês estão pensando que é uma piada? Quando passarem por Araguaína, perguntem pelo piloto Azeitona!
E tem também, aquela história de um colega, trazendo um defunto acompanhado do irmão que vinha chorando o tempo inteiro, de Brasília para ser enterrado em Porto Nacional , acabaram se perderam e foram parar lá pelas bandas do Jalapão, quando escureceu e como naquela época não tinha GPS, foram obrigados a pousar numa clareira, naquele campos arenosos do Tocantins.
Até aí tudo bem, só que no outro dia, viram que o espaço era curto, para decolarem os dois mais o caixão com o defunto. Não dava! Então o piloto sugeriu:
“ - Vamos deixar seu irmão aqui, porque não dá para decolar com ele, e como ele já está morto mesmo, não vai fazer tanta diferença! Salvemos nós que ainda estamos vivos e deixemos ele que já morreu!
- Que conversa é esta Comandante, ou saímos todos juntos daqui ou ninguém sai! Respondeu muito brabo o irmão do falecido. Nunca vou abandonar meu irmãozinho neste fim de mundo, como eu volto aqui para buscá-lo?”
Meu amigo coçou a cabeça, tentou convencê-lo de todas as maneiras possíveis, implorou, quase chorou, mas não teve jeito pois o cabra não arredava pé: sem o irmão nada feito!
Cansado de tanto implorar, louco para jogar fora aquele caixão com o defunto, (se estivesse sozinho, aquele caixão já era, pensava!), mediu os passos que tinha disponíveis, retirou os paus e cavacos no eixo da pista improvisada e tratou de decolar com o defunto, porém tinha uma árvore não muito distante, a qual teriam que passar por cima! Por sorte as árvores do cerrado não eram de tamanho grande, mas iria atrapalhar mesmo assim! Machado que era bom não tinha! O jeito era confiar no seu taco!
Deu partida, deixou esquentar bem o motor, não deu flap, e deixou a porta aberta, no caso de imprevistos, e “arrochou as periquitas”!
Conta ele que foi aquela bagaceira: a hélice roçando o mato, e a danada da areia freando a aeronave, a árvore chegando, enfim, uma loucura! Então, arrastou o manche todo para trás, deixou o avião sair do chão, comandou vinte graus de flap, e sentiu que flutuava, porém sem chance de desviar da árvore, enroscando a cara na galhada, pensando que o manche iria quebrar!
Mas, que surpresa, acabou dando se livrando da árvore e, já sem muita velocidade, afundou o nariz do avião rumo ao chão aproveitando um espaço livre e foi ganhando velocidade até sentir que estava na hora de levá-lo para cima, conseguindo assim decolar!
Só quando pousou em Porto Nacional , é que foi ver o estado que ficou o bordo de ataque das asas do Skyline! Toda amassada! Porém vivo! E tudo isto por causa de um defunto!
E sabendo de tudo isto, não é que ainda fui contratado para um voo até Goiânia, trazendo de volta uma mocinha que havia morrido, e estava aguardando no IML! Cara, juro que pensei nestas histórias, mas já viram piloto folgado de dinheiro?
Junto comigo foi o pai e o cunhado, um baita gauchão de quase dois metros de altura!
O voo na ida foi muito bem, decolei cedinho de Tucumã, parei em Gurupi para abastecer e mais duas horas e trinta minutos chegamos ao aeroporto da Escolinha, em Goiânia.
O pai da menina foi se inteirar do ocorrido com sua filha e tomou um susto ao descobrir que o namorado dela, havia lhe dado um chá de “buchinha”, para que ela abortasse e, sem controle, a dose foi excessiva, provocando a morte da namorada! Os fatos estavam sendo apurados pela polícia, em sindicância!
Vocês não imaginam o trabalho que deu para tirarmos o corpo do IML, liberando-o para viagem! Levou mais de três dias e eu, doido para retornar, tive que ajudar meu amigo a negociar com o pai do namorado, a polícia, com o hospital, uma loucura! Coitado, meu amigo era um simples homem do campo, não tinha como sair daquela enroscada sozinho, e além de tudo, sofrendo pela perda da filha! Não tinha cabeça para nada!
No dia que acabamos de arrumar tudo, entrou uma frente fria que foi mudando o tempo em todo Goiás , Tocantins e Pará.
Logo cedo no aeroporto da Escolinha, já com o caixão dentro do avião, pressenti que seria melhor deixar passar aquelas formações de chuva porém, quando sugeri para meu passageiro, ele entrou em desespero!
“ - Imagine Comandante, o que vai acontecer lá em Tucumã se nós não partirmos agora, minha esposa acaba de avisar que já tem mais de cem pessoas esperando no aeroporto!”
Aquilo me deixou numa sinuca de bico pois, quatro dias já haviam se passado, o povo nos esperando, eu já tinha que ter voltado, por ter deixado muitas coisa para serem resolvidas, enfim juntou tudo aquilo e então resolvi meter a cara! Não tinha perdão, acomodei os dois passageiros, um sob o caixão e o outro maior lá atrás, num cantinho!
Decolei sabendo que estava fazendo merda! Voo visual, subtende que se está enxergando tudo, vôo por instrumento, você não enxerga nada, pois os instrumentos passarão para você, o que seus olhos não conseguem ver!
Estou dizendo isto para aqueles que não são pilotos, e eu sabia que aquele voo seria o tempo todo por instrumento e, para azar, eu e meu avião não estávamos preparados para este tipo de vôo! Mas, como não ir? Minha vida inteira era assim, sempre arriscando tudo!
Solicitei, para o controle de Anápolis, a devida permissão para decolagem e parti rumo a Gurupi! Até próximo de Jaraguá o tempo estava melhor mas, daí para a frente, já se via que a “cobra ia fumar”!
- Aqui é o controle Anápolis, Charlie Zulu Charlie na escuta?
- Prossiga, CZC na escuta!
- O senhor esta ciente do METAR (Serviço de meteorologia) para seu destino?
- Ciente , Controle Anápolis!
- Temos informações que o senhor irá encontrar pesadas formações meteorológicas e ainda assim pretende prosseguir?
Virei para meus passageiros, e disse:
- Estão ouvindo? É melhor nós voltarmos, não acham?
Não vi em nenhuma deles a intenção de voltar, aqueles pobres coitados não tinham a mínima noção do que teríamos que passar para chegarmos ao nosso destino! O jeito foi prosseguir!
- Controle Anápolis, CZC informa que irá prosseguir!
- Então informe para que lado irá, no caso de um desvio de rota.
- Para o lado do Rio Araguaia, respondi, (por lá não havia serra), já preocupado com aquela insistência do controle em me proteger!, vi que até o controle estava vendo a “merda” que eu estava fazendo?
E fui entrando no meio daquela pauleira procurando desviar dos caroços mais feios! Tinha hora que a chuva apertava tanto que começou a entrar água pelo pára-brisa, e a coisa cada vez mais feia, a chuva não passava, só que agora não tinha como voltar o certo mesmo era seguir em frente. Logo teria que passar aquelas formações, sempre foi assim!
O que mais me preocupava, era que uma vez, voando de Gurupi para Posse, junto com meu amigo e piloto Pilau, dentro de uma chuva pesada, o CZC acabou “engolindo o caroço”, apagou e foi um sufoco para o fazermos ele pegar novamente, quase não dando conta de contarmos, pela perda de potencia registrada! Ao chegamos em Gurupi, o filtro de ar havia sido destruído por completo e retiramos mais de vinte litros de água que havia dentro dele.
E parecia que agora, estava na mesma situação! O certo era sair o quanto mais cedo possível de dentro daquela chuva porém, para todo lado era a mesma coisa, chuva e mais chuva!
Aí irmãos, vem aquela vontade louca de abandonar aquela vida, de voar em avião velho, sem bons instrumentos, só na cara e coragem, tudo isto é para doido, minha vontade naquela hora, era chutar o balde, pegar uma vara de pescar e ir para o Rio Iriri (que é muito bom de peixe!), enfim, sumir do mapa!
Mas como? Fui inventar de casar de novo, arranjar esposa nova e, pior, filhos! Agora só me restava continuar agarrado no manche e tratar logo de sair daquela enroscada!
Eram dez horas da manhã e eu só conseguia localizar a Belém- Brasília, quando saía das camadas, e isto, porque os carros estavam com os faróis acessos, de tão escuro estava!
Meus passageiros com os olhos arregalados, segurando nas alças do caixão, não davam um piu! E lá vai o “Niltinho piloto”, naquele sufoco, com o corpo todo dolorido, pedir a Deus que me ajudasse novamente a sair de uma enroscada! Acho que minha conta para com Ele, estava mais alta que a conta no Supermercado!
Isto porque não foi logo me ajudando não, parecia querer mdar-me alguma lição! Só pode! Eu que sofresse mais um pouco e o pior ainda estava por vir, irmão!
No meio daquela chuva que nunca parava, e sem ter noção da altura em que estava, sabendo apenas que a Belém Brasília deveria estar abaixo de mim quando, pela segunda vez em minha vida de piloto, senti aquela terrível sensação de que o motor do avião estava prestes a apagar! Cara, que sensação ruim! Duas vezes da mesma maneira, dentro de uma chuva braba, e agora sozinho, com aquele gosto de medo na boca!
Infelizmente não tinha mais a companhia do comandante Pilau, como da outra vez (cabra experiente, ajudou-me demais a sair daquela pane), fui obrigado a me virar sozinho e, o pior, é que não se tem muito o que fazer!
A potência do motor que é de 230 kV, suficiente para carregar até 600 quilos, como fazíamos na época dos garimpos, mas agora, mal dava para carregar um carrinho de pipoca, até o ronco havia mudado, só restava agora colocar o nariz da aeronave para baixo e escolher o melhor lugar para cair! Olha que a situação que nos encontrávamos, eu e meus dois passageiros e a defunta!
Ninguém sabe o dia que vai morrer mas, a sensação é que tinha chegado a minha vez, a coisa estava preta, o avião apagando, e eu dentro daquela camada, sem enxergar nada de nada, o que restava fazer?
Pensei rápido, vou procurar a Belém-Brasília e pousar nela, não é possível que não vão me dar uma “beiradinha” na pista. Parece que lá em cima, a defunta, que tinha dado tanta tristeza para o pai, resolveu nos ajudar afinal, todo o perigo que estávamos passando, era por culpa dela! E não é que ajudou mesmo?
Bateu um arrepio, ao sentir que alguma coisa havia me atingido, e imediatamente senti confiança, parecia que alguém estava de meu lado! Pilau não era, só devia ser ela! De repente, saímos em vôo visual e lá está a estrada, bem à nossa frente! Só que tinha muito carro transitando, o que acabou me assustando porém, não tinha outra saída: era ali mesmo!
Gritei para meus passageiros segurem firme, alertando que ia descer na estrada, e observei que gaucho, estava de olhos fechados com a cara mais feia do mundo, e o outro, calado, quase arrancando a alça do caixão, não dava um píu!
Fui descendo sem muito enxergar, até que comecei a ver umas casas: Caramba, não é que estava chegando a Mara Rosa? Aí irmãos, veio aquela alegria! Estamos salvos, pensei! Logo avistei a pista e pousei! Cara, como é bom pisar em terra firme!
“ - Agora vamos para um hotel, que hoje eu não vôo mais, chega de sufoco, desculpem!”
Não é que vi meus passageiros ficarem contrariados! Quase morremos e eles queriam continuar!
Peguei um quarto num hotelzinho e, com aquela chuva batendo no telhado, cai no sono. Queria aliviar aquela tensão que vivia!
Acredito que não passou nem uma hora, quando acordo com alguém batendo na porta:
“ - Comandante, comandante, acorda, acorda!
- Quem é? Perguntei, irritado!
- Sou eu comandante, (era o pai da defunta), o tempo melhorou, e já podemos ir embora, venha ver comandante!
- Velho era doido! Pensei.”
Já que tinham me acordado mesmo, o jeito era levantar, dar uma espiada no tempo, e não é que havia melhorado mesmo! Resolvi então, voltar para o avião e prosseguir com o voo.
Só que fomos “espantando macaco” (voando baixo), como se diz por aqui, o tempo ainda não tinha dissipado por completo e com muito custo chegamos à Gurupi! Como já estava tarde e o tempo ainda continuava embananado, resolvi pousar!
Foi muito difícil convencer meu amigo a deixar o caixão da defunta dentro do avião sozinho! Queria levar para o hotel de toda maneira!
“ - Meu amigo, dizia eu, como é que vamos convencer o dono do hotel a aceitar sua filha, deste jeito? Vai espantar os hóspedes!
- Mas comandante, o que é que tem demais, nós colocamos o caixão debaixo da cama, ninguém vai ver!
- Meu amigo, garanto que ninguém vai roubar o caixão com sua filha, fique sossegado pois trancarei as portas e você vai ver que amanhã, ela vai estar aqui do jeito que estamos deixando!”
Lembrei-me da história do meu amigo que tinha pousado no cerrado, e pensei: “Será que não vou dar conta de convencer este velho?”
“- Vou fazer uma coisa, vou pedir para o guarda do aeroporto passar a noite ao lado de sua filha, está bem assim?
- Assim pelo menos a minha filhinha vai dormir em paz! Então está bom!”
O pai da moça parecia não acreditar que ela estava morta, dava a impressão que o espírito dela pairava dentro do avião! Dizem que muitas vezes o espírito da pessoa, demora para se desprender do corpo, e eu já estava começando a acreditar, porém tive mais sorte que meu amigo, e levei todos para dormir no hotel, que alívio!
A noite foi de chuva, e pensava: “tomara que chova tudo que tem que chover esta noite, para que amanhã amanheça limpo!”
Só que a natureza não queria assim, e acabou amanhecendo novamente, com muito jeito de chuva! Se existe uma matéria a qual você não aprende nada na escola, é Meteorologia, porém quando começa a voar, é que se fica mais “safo”, de tanto observar o tempo! Em meus 25 anos de aviação, nunca tinha visto uma frente tão grande e duradoura como aquela, parecia que o dilúvio tinha começado, e eu estava bem dentro dele, que droga, justamente com o CZC, que não gostava de chuva!
Tratamos de ir cedo para o aeroporto, e decolamos rumo ao “Parásão”, só que, quando chego no Rio Araguaia, o tempo novamente forçou-me a pousar em Campo Alegre , e de lá para frente meus passageiros se arrepiaram, e quem disse que os convenci a entrarem novamente no avião?
“ - Nem morto, dizia o gaucho, piso dentro deste avião, de novo, nem morto tchê!”
Meus amigos, olha só que enroscada me meti: se chegasse ao destino, sem meus passageiros, como ia ficar minha moral de piloto? Quem iria pagar meu vôo?
Não tinha jeito, teria que colocar aquele gaucho de novo e na marra, dentro do avião! Algum dia, um de voces já bajularam um macho? Pois é, naquele dia, só faltei ajoelhar nos pés daquele bruto, e dar umas “bicóquinhas” para, só depois de muito blá blá blá, o danado entrar, com a promessa de não descer mais!
Agora sim, nem que o CZC “engolisse o caroço”, de novo, eu não pousaria mais, fosse o que Deus quisesse! E assim fiz, varei aquele aguaceiro e só fui parar em Tucumã!
Que alegria quando coloquei o avião no chão, parecia que tinha mais de duzentas pessoas nos esperando, que alivio, meu camarada! Ainda dizem que a vida de piloto é cheia de glamour!
Peguei minha malinha e fui para casa, dando graças a Deus quando encontrei minha família, numa felicidade enorme, enquanto a família daquele amigo, curtiam a maior tristeza, e comecei a pensar o que leva uma jovem a fazer tudo aquilo! Será que não estão preparados para viverem sozinhos? Pensei então, como seria a vida de minha filhinha, quando chegasse a hora de sair para estudar!
Parei de pensar naquilo e tratei de imaginar uma maneira de ganhar bastante dinheiro, para sair deste pequeno lugar, ou então torcer para que descobrissem uma mina de ouro grande o suficiente para trazer toda a infra-estrutura que as capitais têm!
Vejam só como é o destino: poucos meses após, a Vale confirmou a descoberta de uma das maiores jazidas de níquel do mundo, onde está investindo dois bilhões de dólares, justamente onde? Em Ourilândia do Norte, onde moro hoje! Parece que vamos ter todos os benefícios de uma cidade grande! Isto eu espero, graças a Deus!
OBS:
1 - Alerto a todos os proprietários de Cessna 182, que ainda possuem motor a carburador, para tomarem cuidado em uma chuva mais pesada, porque pode fechar o Cooflap, e o fechamento do ar quente, não é suficiente para eventuais bruscas perda de potencia!
2 - O dono da aeronave que pousou na clareira com o caixão de defunto, era o Geraldo de Freitas, de Gurupi, proprietário da fazenda Cajamurum, e o piloto se Chamava Alípio!
é piloto de garimpo
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