Taiadablog: Pequenos e aconchegantes ou grandes e poderosos ???

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pequenos e aconchegantes ou grandes e poderosos ???

Aeroporto Charles De Gaulle
Aeroportos grandes são fantásticos! Heathrow, Schiphol, Charles de Gaulle e JFK são alguns destes aeroportos. São enormes com vários terminais, múltiplas pistas e taxiways com chegadas e saídas de aviões para o mundo inteiro. Estes aeroportos, ainda que sejam afastados dos centros urbanos, possuem procedimentos específicos de “noise abatement”, ou seja, redução de ruídos, para que as aeronaves executem nas chegadas e principalmente nas saídas.
 
A menos que ocorra uma pane após a decolagem que comprometa a performance do avião, os procedimentos de subida devem ser rigorosamente cumpridos. Ângulos ou razões de subida, altitudes específicas para redução de potência e curvas em pontos precisos devem ser realizadas pelos pilotos. Muitos destes aeroportos possuem sensores de ruídos espalhados nas proximidades, sob a trajetória dos procedimentos de subida. Um pequeno descuido dos pilotos quanto à execução do “noise abatement” pode ser detectado pelos “pick-ups” de ruído, e em poucos dias a notificação da ocorrência será enviada a empresa aérea que devera informar o ocorrido. Caso não tenha havido uma pane que possa justificar um abandono do procedimento de atenuação de ruídos, a empresa recebe uma multa.

Assegurar que nenhum pick-up de ruído será “estourado” não é difícil, basta inserir nos computadores de bordo e conferir cuidadosamente os dados do procedimento de subida a ser executada após a decolagem. Efetuar um bom briefing e após a decolagem executar a parte mais importante: ligar o piloto automático e apertar os botões corretos, ou seja, LNAV e VNAV, para que a navegação Lateral e Vertical seja seguida!

Certa vez, decolando de Madri no B-767, o comandante do voo (eu era o cmt mais novo e estava sentado no jump-seat, que é o assento extra na cabine) ligou o piloto automático, mas não no modo correto e a curva imediata a direita foi iniciada com um pequeno atraso. Não deu outra, e duas semanas após, recebi uma solicitação da chefia para relatar o ocorrido.

Aeroportos grandes são legais, mas o que eu gosto mesmo é dos pequenos, apertados e encravados nas regiões centrais das cidades. Congonhas e Santos Dumont são dois clássicos que eu sempre adorei pousar e decolar. Outro aeroporto que é especial, mas que atualmente as grandes empresas não estão podendo operar, é o aeroporto da Pampulha em Belo Horizonte. Junto à lagoa da Pampulha, dentro na cidade, é uma “mão na roda” para os passageiros e para os tripulantes quando em programação de pernoite. Na aproximação final para pouso, voamos baixo sobre a lagoa e mais baixo ainda sobre a avenida próxima à cabeceira da pista. O pátio de estacionamento é pequeno e o saguão de passageiros fica a poucos metros da escada do avião. Não há pontes de embarque e os pousos e decolagens acontecem muito próximos das aeronaves ali estacionadas.

Já em Buenos Aires, depois de décadas operando no aeroporto de Ezeiza, que fica afastado do centro da cidade, as empresas receberam autorização para utilizar o Aeroporto Internacional Jorge Newbery, mais conhecido por Aeroparque. É o “Congonhas de Buenos Aires”, beirando o Rio da Prata e ao lado de Palermo, que é um bairro nobre da capital Portenha. A cinco ou dez minutos da região da Avenida Nove de Julho, Porto Madero e Recoleta, chegar e sair pelo Aeroparque facilita muito a vida dos passageiros.
Há um detalhe que faz com que o Aeroparque seja especial. É que Congonhas está localizado num platô, e por isso a pista fica acima das ruas e prédios da região. Já na Pampulha, a área de sobrevoo quando na aproximação para pouso não é o que se pode chamar de uma região bonita. No Santos Dumont, quando voamos baixinho próximo à pista, estamos sobre o mar. Agora, na chegada ao Aeroparque há o sobrevoo de uma área muito bacana de Buenos Aires, além disso, a pista está situada ao nível do mar, ou ao nível do rio, a pouquíssimos metros das avenidas e edificações. Uma chegada espetacular, que se pudesse, puxava o freio de mão para poder admirar melhor o visual da cidade.

Após o pouso há mais um aspecto que eu gosto muito, que é taxiar até o local de estacionamento. Lá, as taxiways e pátios são extremamente apertados e movimentados. A asa de um avião pode passar a apenas quatro metros de outro avião, o que é muito pouco. Há posições de estacionamento em que a calçada junto à avenida está a poucos passos do avião. Carros passando, pedestres caminhando, árvores próximas e o Rio da Prata logo ali.

Ao término do desembarque dos passageiros, costuma haver tempo suficiente para que os tripulantes dêem uma passada no freeshop do aeroporto, que dependendo da posição de parada, fica a menos de 2 minutos de caminhada. Além disso, ao contrário de alguns aeroportos aqui no Brasil, lá no Aeroparque os tripulantes não são vistos com desconfiança pelo pessoal da segurança e da administração aeroportuária. De uniforme e crachá, caminhamos pelo pátio, acessamos o saguão de embarque, compramos um vinho ou qualquer outra coisa e regressamos ao avião na maior tranquilidade.
 
Comandante Beto Carvalho
é aviador e piloto dos grandes jatos

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