Porto Nacional foi a cidade que mais forneceu pilotos para o norte do Brasil, em função de ter sido uma das cidades mais importantes do norte do extinto estado de Goiás, hoje Tocantins, e porque ali passavam as rotas aéreas (cansei de sair de Gurupi, para pegar o Avro para Goiânia)!
Talvez fosse por causa desta influência, ou pelo pioneirismo de pessoas como Vicentão, que foi buscar um avião na America, ou ainda o Queridão pai, que além de piloto, era um grande mecânico, enfim, alguma coisa deve ter acontecido, pois se for numerar todos aqueles pilotos que conheci de Porto Nacional, esta história não seria suficiente! Vou citar alguns ases.
Para mim o mais importante deles sem dúvida, foi o Adi, este sim fez historia! Se um dia resolvesse contá-las seria interessante. Recordo-me de um dia, fazendo um vôo por sobre uma boiada, querendo ver se o gado estava em condições de ser enviado ao Pará, e ele não abaixava o suficiente para que eu examinasse melhor os animais!
Talvez fosse por causa desta influência, ou pelo pioneirismo de pessoas como Vicentão, que foi buscar um avião na America, ou ainda o Queridão pai, que além de piloto, era um grande mecânico, enfim, alguma coisa deve ter acontecido, pois se for numerar todos aqueles pilotos que conheci de Porto Nacional, esta história não seria suficiente! Vou citar alguns ases.
Para mim o mais importante deles sem dúvida, foi o Adi, este sim fez historia! Se um dia resolvesse contá-las seria interessante. Recordo-me de um dia, fazendo um vôo por sobre uma boiada, querendo ver se o gado estava em condições de ser enviado ao Pará, e ele não abaixava o suficiente para que eu examinasse melhor os animais!
“ - Adi, assim não dá: abaixa este avião, bicho!” E olha que estávamos voando na copa das árvores! Foi quando ele me disse:
“ - Segura então, Niltinho, que você vai passar a mão no chifre do gado!”
“ - Segura então, Niltinho, que você vai passar a mão no chifre do gado!”
Estávamo-nos voando sobre a fazenda do Milton (meu irmão) na beira do rio Tocantins, justamente em uma área de varjão de árvores espalhadas e, quando vi, ele baixou o avião até as rodas tocarem no capim, e foi desviando das árvores, dos bois, eu sem querer mostrar medo, fui ficando branco, e tratei logo de dar um grito e pedir para parar pois estava para me borrar todo!
“ - Suba, suba seu desgraçado, quer me matar, quer seu doido?” E ele deu uma gargalhada:
“ - Você não queria voar baixo, Niltinho?
- Quero mais não, já vi o que queria ver, vamos embora! E tratei de ir curar meu susto com uma cerveja “geladaaaa”, no barzinho do aeroporto!
Assim, era o Adi, um dos pioneiros da nossa aviação, talvez, o melhor de todos!
Vicentinho, hoje deputado, já foi prefeito de Porto Nacional, marcou época no início dos garimpos de Tucumã, onde ganhou muito dinheiro, chegando a comprar vários aviões, inclusive um belo Bonanza, que ele dizia ser um “senhor” avião!
Tive um amigo que fazia uns voozinhos lá meios suspeitos, pelas bandas da fronteira da Bolívia, que dizia:
“ - Niltinho, se você aguentar o tranco, ele aguenta, eu “guardava” e não desviava não, tinha hora que a pauleira era demais que eu achava que ia rachar no meio, para mim era assim “tempo é tempo, rumo é rumo”. Porém só fazia isto com o Bonança! Avião é “Bonanza” Niltinho, o resto é coisa que voa.
Do Baylon, lembro-me quando voava com Jacinto Nunes, ele acabou se desorientando e pousou na rodovia Belém/Brasília! Pudera, naquela época não existia GPS, Bicho, e nos perdíamos com tal facilidade que, uma vez me perdi em cima de minha fazenda. Na época das queimadas então, era um sufoco, só se via gente chorando na fonia:
“ - Onde estou companheiro?” e lá íamos nós ajudar o azarado!
Do Gere, irmão do Vicentinho, tenho lembrança da época em que ele ainda estava aprendendo a voar! Numa carona que ele e Ranufo me deram para Goiânia, topamos com um “paredão” de chuva e fomos obrigados a desviar, porém a formação era grande demais e a coisa foi ficando preta, e aí o Ranufo disse:
“ - Gere, acho melhor procurarmos uma pista e pousar, se não aguardarmos, voce não vai dar conta dessa pauleira!”
Por sorte encontramos uma pista de fazenda e pousamos, o vento era tão forte que fomos obrigado a segurar no montante do avião para ele ficar no chão, caso contrário, o vento levava!
Recordo-me também do acidente que sofreu, em que estavam três pilotos dentro do avião, ele, Ranufo, e o que estava voando, o qual não recordo seu nome, também de Porto Nacional! Morreu o piloto, Ranufo ficou muito queimado, e Gere sobreviveu sem um arranhão.
Estavam os três fazendo graça, tentando passar por cima de uma serra, após terem decolado de uma pista em um garimpo aqui em Tucumã, e não deu outra, e acabaram batendo numas pedras! Já não disse a vocês que mais de um piloto no avião é um perigo?
Neste dia, Gere teve que andar pela margem de um rio por dento da mata, até encontrar socorro para salvar os companheiros que ficaram para trás.
Dizem que quando o avião caiu, foi logo pegando fogo, e só tinha a porta do bagageiro para saírem.
Gere saiu primeiro e correu, Ranufo ficou entalado, era gordo demais! Gritava:
“ - Gere volta aqui e me puxa, pelo amor de Deus!” Enquanto Gere ajudava o Ranufo a desentalar, o outro companheiro, o piloto, acabou se queimando demais e terminou morrendo nos braços dos companheiros durante a noite! Somente no outro dia é que alguns garimpeiros puderam tirá-lo da mata!
Cabano, este sim tem historia! Até hoje ele é uma graça, quem não o conhece pensa que é um doido! Acidentes? Já perdeu a conta, sendo que o último o deixou muito queimado, fazendo-o parar de voar!
Conta que uma vez, para dar um susto nos passageiros, botou um comprimido efervescente na boca, que logo espumou, simulando ataque epilético,o que provocou uma loucura dentro do avião, tinha gente querendo pular fora, foi duro para acalmar a todos!
Esse é o “nosso” Cabano! Este infeliz mora aqui conosco, na mesma cidade, e não é que o desgraçado está rico? Fortuna feita nos garimpos, irmão!
Alguns pilotos, foram voar em grandes companhias, como os filhos do senhor Nilton da Farmácia. Se não me engano um deles chamava Elton, os outros, não recordo.
Um deles faleceu acidentado em Tucumã, fazendo lançamento de mercadoria para os exploradores de mogno, dentro da floresta, aonde não existia pista! Bateu numa castanheira!
Uma vez, ele me contou que seu companheiro de lançamento de mercadoria, sem querer lançou também o ajudante! Levou um baita susto quando olhou para trás e, homem de Deus, cadê o rapaz? Havia caído junto com a mercadoria! isto deu um bode, moço!
E no meio dessas feras, lá estava eu com meu aviãozinho, tentando fazer o que eles faziam, longe, no entanto de me igualar a qualquer um deles, talvez pelo fato de eu ter iniciado com quase trinta anos de idade, e eles, certamente, desde a juventude e como sabemos que jovem é jovem, eu acabava me surpreendendo com sua audácia e coragem!
A minha aviação era de muita cautela, procurava me manter dentro das regras de vôo visual, pois logo cedo após ter passado alguns sufocos, como ver, por duas vezes o motor apagar dento da chuva, ficar voando por muito tempo acima da camada e a gasolina acabando, procurando um buraco para passar por baixo e outras coisas mais, vi que tinha que manter-me dentro das regras tão bem feitas, para não morrer!
Faço aqui, uma advertência para todos aqueles que queiram se tornar piloto e mais tarde se aposentar: sigam estas regras de vôo tanto visual como as por instrumento, pois, como nos voamos aqui na Amazônia desrespeitando todas elas, é muito risco! Imaginem vocês que abastecíamos as aeronaves com 500 quilos de carga fora o piloto, bem acima do recomendado pelo Manual de Instruções da Cessna, que recomendava o máximo de 360 quilos, com o piloto! Estes excessos, só podiam mesmo terminar, como de fato terminou, na morte de muitos colegas e amigos!
E agradeço a Deus por ter atingido esta maturidade na aviação, contando um episódio, acontecido quando voava na Bahia, e que me deu a força e a convicção que seria bem melhor continuar respeitando as regras, do que fazer as minhas próprias!
Estava em Posse, cidadezinha na divisa de Goiás com a Bahia e precisava ir para Gurupi, no Tocantins, quando entrou uma frente fria e embananou o tempo de tal forma, que resolvi deixar o vôo para o dia seguinte, até ai tudo bem, tinha perdido somente um dia! Só que no outro dia, amanheceu do mesmo jeito, e aí me bateu um desespero de partir assim mesmo!
Preocupado, porém resolvido a decolar, encontrei um colega que havia pousado, vindo da divisa do Maranhão, que avisou-me:
“ - Daqui pra frente eu não vou mais, e se você tiver juízo Niltinho, volte para seu hotel e vá dormir que você ganha mais, falei com uns pilotos que estavam na rota e me disseram que a coisa está prá lá de feia!”
Ó meu Deus, mais um dia aqui não aquento, que merda de piloto é você Niltinho, pensei eu! Pega este avião e vai embora! Só que a cautela falando mais alto, resolvi voltar para o hotel.
No outro dia a mesma coisa, liguei para Gurupi, falei com Betão e ele:
“ – Niltinho, o tempo aqui continua o mesmo, chuva, e o teto baixo, não se esqueça que na sua rota tem muita serra! Só se você vir por instrumento! Vôo visual você não vem, é melhor decolar amanhã, não se preocupe não, ninguém vai voar mesmo, Pilau está no Hotel tomando uns whiskys!”
Moço, aí me deu um desespero maior do mundo, queria morrer, imagine só um piloto com tantos anos de experiência, com medo daquele tempo? Seria melhor parar de voar, ou voltar para escola e tratar de fazer um curso de vôo por instrumento, não é? Por outro lado pensava, para que? Se meu avião não era homologado, e se por onde eu voava raramente possuía aeroporto com condições de pousar aeronaves voando por instrumento?
Tratei de me acalmar e fiquei no hotel, neste dia nem jantei, fiquei por ali aguardando o noticiário, que assisti até o final quando, de repente, entra uma notícia de última hora:
“ - Acabamos de ser informados de um acidente de avião no estado de Tocantins, onde faleceram todos os ocupantes. O avião havia decolado de Porto Nacional para Goiânia e nas imediações da cidade de Peixe, se espatifou no solo! Desconfia-se que foi o mau tempo que provocou o acidente, vindo a falecer o piloto Gere, irmão do prefeito de Porto Nacional, juntamente com sua família!
Que susto que levei ouvindo aquela notícia, levantei do sofá e fui para fora do Hotel tentando me acalmar! Um milhão de coisas passaram pela minha mente, primeiro o pesar de ter perdido meu amigo Gere, pela sua família, pelo avião, que era um Bonanza, justamente um avião para o qual não tinha tempo ruim! No comando havia um experiente piloto, o que será que havia acontecido? Meu Deus, para ter derrubado o Gere, talvez uma pane?
Não, foi mesmo o mau tempo, ele deva ter entrado num CB “nuvens com muita turbulência” e o avião foi jogado rumo ao solo, justamente no local aonde eu ia cruzar.
Havia uma igreja perto do hotel, para onde me dirigi, para rezar pelo amigo que se foi, e para agradecer a Deus por ter me mantido no solo!
Deste dia em diante, se for preciso ficarei no hotel por uma semana, não estou nem aí para o que vão dizer de mim, o importante é permanecer vivo!
Conhecer as limitações do avião, e o mais importante conhecer suas próprias limitações. Só assim você permanecerá vivo, como eu, para lhes contar esta história!
No outro dia o tempo amanheceu limpo, e fiz uma bela viagem até Gurupi, não foi melhor assim?
“ - Suba, suba seu desgraçado, quer me matar, quer seu doido?” E ele deu uma gargalhada:
“ - Você não queria voar baixo, Niltinho?
- Quero mais não, já vi o que queria ver, vamos embora! E tratei de ir curar meu susto com uma cerveja “geladaaaa”, no barzinho do aeroporto!
Assim, era o Adi, um dos pioneiros da nossa aviação, talvez, o melhor de todos!
Vicentinho, hoje deputado, já foi prefeito de Porto Nacional, marcou época no início dos garimpos de Tucumã, onde ganhou muito dinheiro, chegando a comprar vários aviões, inclusive um belo Bonanza, que ele dizia ser um “senhor” avião!
Tive um amigo que fazia uns voozinhos lá meios suspeitos, pelas bandas da fronteira da Bolívia, que dizia:
“ - Niltinho, se você aguentar o tranco, ele aguenta, eu “guardava” e não desviava não, tinha hora que a pauleira era demais que eu achava que ia rachar no meio, para mim era assim “tempo é tempo, rumo é rumo”. Porém só fazia isto com o Bonança! Avião é “Bonanza” Niltinho, o resto é coisa que voa.
Do Baylon, lembro-me quando voava com Jacinto Nunes, ele acabou se desorientando e pousou na rodovia Belém/Brasília! Pudera, naquela época não existia GPS, Bicho, e nos perdíamos com tal facilidade que, uma vez me perdi em cima de minha fazenda. Na época das queimadas então, era um sufoco, só se via gente chorando na fonia:
“ - Onde estou companheiro?” e lá íamos nós ajudar o azarado!
Do Gere, irmão do Vicentinho, tenho lembrança da época em que ele ainda estava aprendendo a voar! Numa carona que ele e Ranufo me deram para Goiânia, topamos com um “paredão” de chuva e fomos obrigados a desviar, porém a formação era grande demais e a coisa foi ficando preta, e aí o Ranufo disse:
“ - Gere, acho melhor procurarmos uma pista e pousar, se não aguardarmos, voce não vai dar conta dessa pauleira!”
Por sorte encontramos uma pista de fazenda e pousamos, o vento era tão forte que fomos obrigado a segurar no montante do avião para ele ficar no chão, caso contrário, o vento levava!
Recordo-me também do acidente que sofreu, em que estavam três pilotos dentro do avião, ele, Ranufo, e o que estava voando, o qual não recordo seu nome, também de Porto Nacional! Morreu o piloto, Ranufo ficou muito queimado, e Gere sobreviveu sem um arranhão.
Estavam os três fazendo graça, tentando passar por cima de uma serra, após terem decolado de uma pista em um garimpo aqui em Tucumã, e não deu outra, e acabaram batendo numas pedras! Já não disse a vocês que mais de um piloto no avião é um perigo?
Neste dia, Gere teve que andar pela margem de um rio por dento da mata, até encontrar socorro para salvar os companheiros que ficaram para trás.
Dizem que quando o avião caiu, foi logo pegando fogo, e só tinha a porta do bagageiro para saírem.
Gere saiu primeiro e correu, Ranufo ficou entalado, era gordo demais! Gritava:
“ - Gere volta aqui e me puxa, pelo amor de Deus!” Enquanto Gere ajudava o Ranufo a desentalar, o outro companheiro, o piloto, acabou se queimando demais e terminou morrendo nos braços dos companheiros durante a noite! Somente no outro dia é que alguns garimpeiros puderam tirá-lo da mata!
Cabano, este sim tem historia! Até hoje ele é uma graça, quem não o conhece pensa que é um doido! Acidentes? Já perdeu a conta, sendo que o último o deixou muito queimado, fazendo-o parar de voar!
Conta que uma vez, para dar um susto nos passageiros, botou um comprimido efervescente na boca, que logo espumou, simulando ataque epilético,o que provocou uma loucura dentro do avião, tinha gente querendo pular fora, foi duro para acalmar a todos!
Esse é o “nosso” Cabano! Este infeliz mora aqui conosco, na mesma cidade, e não é que o desgraçado está rico? Fortuna feita nos garimpos, irmão!
Alguns pilotos, foram voar em grandes companhias, como os filhos do senhor Nilton da Farmácia. Se não me engano um deles chamava Elton, os outros, não recordo.
Um deles faleceu acidentado em Tucumã, fazendo lançamento de mercadoria para os exploradores de mogno, dentro da floresta, aonde não existia pista! Bateu numa castanheira!
Uma vez, ele me contou que seu companheiro de lançamento de mercadoria, sem querer lançou também o ajudante! Levou um baita susto quando olhou para trás e, homem de Deus, cadê o rapaz? Havia caído junto com a mercadoria! isto deu um bode, moço!
E no meio dessas feras, lá estava eu com meu aviãozinho, tentando fazer o que eles faziam, longe, no entanto de me igualar a qualquer um deles, talvez pelo fato de eu ter iniciado com quase trinta anos de idade, e eles, certamente, desde a juventude e como sabemos que jovem é jovem, eu acabava me surpreendendo com sua audácia e coragem!
A minha aviação era de muita cautela, procurava me manter dentro das regras de vôo visual, pois logo cedo após ter passado alguns sufocos, como ver, por duas vezes o motor apagar dento da chuva, ficar voando por muito tempo acima da camada e a gasolina acabando, procurando um buraco para passar por baixo e outras coisas mais, vi que tinha que manter-me dentro das regras tão bem feitas, para não morrer!
Faço aqui, uma advertência para todos aqueles que queiram se tornar piloto e mais tarde se aposentar: sigam estas regras de vôo tanto visual como as por instrumento, pois, como nos voamos aqui na Amazônia desrespeitando todas elas, é muito risco! Imaginem vocês que abastecíamos as aeronaves com 500 quilos de carga fora o piloto, bem acima do recomendado pelo Manual de Instruções da Cessna, que recomendava o máximo de 360 quilos, com o piloto! Estes excessos, só podiam mesmo terminar, como de fato terminou, na morte de muitos colegas e amigos!
E agradeço a Deus por ter atingido esta maturidade na aviação, contando um episódio, acontecido quando voava na Bahia, e que me deu a força e a convicção que seria bem melhor continuar respeitando as regras, do que fazer as minhas próprias!
Estava em Posse, cidadezinha na divisa de Goiás com a Bahia e precisava ir para Gurupi, no Tocantins, quando entrou uma frente fria e embananou o tempo de tal forma, que resolvi deixar o vôo para o dia seguinte, até ai tudo bem, tinha perdido somente um dia! Só que no outro dia, amanheceu do mesmo jeito, e aí me bateu um desespero de partir assim mesmo!
Preocupado, porém resolvido a decolar, encontrei um colega que havia pousado, vindo da divisa do Maranhão, que avisou-me:
“ - Daqui pra frente eu não vou mais, e se você tiver juízo Niltinho, volte para seu hotel e vá dormir que você ganha mais, falei com uns pilotos que estavam na rota e me disseram que a coisa está prá lá de feia!”
Ó meu Deus, mais um dia aqui não aquento, que merda de piloto é você Niltinho, pensei eu! Pega este avião e vai embora! Só que a cautela falando mais alto, resolvi voltar para o hotel.
No outro dia a mesma coisa, liguei para Gurupi, falei com Betão e ele:
“ – Niltinho, o tempo aqui continua o mesmo, chuva, e o teto baixo, não se esqueça que na sua rota tem muita serra! Só se você vir por instrumento! Vôo visual você não vem, é melhor decolar amanhã, não se preocupe não, ninguém vai voar mesmo, Pilau está no Hotel tomando uns whiskys!”
Moço, aí me deu um desespero maior do mundo, queria morrer, imagine só um piloto com tantos anos de experiência, com medo daquele tempo? Seria melhor parar de voar, ou voltar para escola e tratar de fazer um curso de vôo por instrumento, não é? Por outro lado pensava, para que? Se meu avião não era homologado, e se por onde eu voava raramente possuía aeroporto com condições de pousar aeronaves voando por instrumento?
Tratei de me acalmar e fiquei no hotel, neste dia nem jantei, fiquei por ali aguardando o noticiário, que assisti até o final quando, de repente, entra uma notícia de última hora:
“ - Acabamos de ser informados de um acidente de avião no estado de Tocantins, onde faleceram todos os ocupantes. O avião havia decolado de Porto Nacional para Goiânia e nas imediações da cidade de Peixe, se espatifou no solo! Desconfia-se que foi o mau tempo que provocou o acidente, vindo a falecer o piloto Gere, irmão do prefeito de Porto Nacional, juntamente com sua família!
Que susto que levei ouvindo aquela notícia, levantei do sofá e fui para fora do Hotel tentando me acalmar! Um milhão de coisas passaram pela minha mente, primeiro o pesar de ter perdido meu amigo Gere, pela sua família, pelo avião, que era um Bonanza, justamente um avião para o qual não tinha tempo ruim! No comando havia um experiente piloto, o que será que havia acontecido? Meu Deus, para ter derrubado o Gere, talvez uma pane?
Não, foi mesmo o mau tempo, ele deva ter entrado num CB “nuvens com muita turbulência” e o avião foi jogado rumo ao solo, justamente no local aonde eu ia cruzar.
Havia uma igreja perto do hotel, para onde me dirigi, para rezar pelo amigo que se foi, e para agradecer a Deus por ter me mantido no solo!
Deste dia em diante, se for preciso ficarei no hotel por uma semana, não estou nem aí para o que vão dizer de mim, o importante é permanecer vivo!
Conhecer as limitações do avião, e o mais importante conhecer suas próprias limitações. Só assim você permanecerá vivo, como eu, para lhes contar esta história!
No outro dia o tempo amanheceu limpo, e fiz uma bela viagem até Gurupi, não foi melhor assim?
Comandante Niltinho
é piloto de garimpo
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