A corrupção, não é de hoje, empurra a política brasileira em direção a um metafórico fundo do poço. A cada novo escândalo, o brasileiro se pergunta: será que chegamos, finalmente, ao fundo do poço?
Logo surge outro escândalo para informar que a viagem às profundezas terá novas escalas. Pense no que já sucedeu em poucos meses de gestão Dilma. O fundo do poço da fortuna do Palocci foi seguido pelo fundo do poço da roubalheira dos Transportes...
...Que foi superado pelo fundo do poço da Agricultura dominada por “bandidos”, que foi suplantado pelo Turismo convertido em centro de torrefação de verbas...
A imagem do ministro octagenário espetando na bolsa da Viúva do salário da governanta à conta da festinha no motel tinha cara de fundo do poço. Súbito, o inacreditável é ultrapassado pelo inaceitável. Escala as manchetes o caso do ministro que recebeu propina no subsolo.
“Por um dos operadores do esquema, eu soube na ocasião que o ministro recebia o dinheiro na garagem”, relata o denunciante.
Ele dá nome ao repassador da verba, que, ouvido, capricha nos detalhes: “Eu recolhi o dinheiro com representantes de quatro entidades aqui do Distrito Federal…”
“[…]…Entreguei ao ministro, dentro da garagem, numa caixa de papelão. Eram maços de notas de 50 e 100 reais.”
O entregador prossegue: “[…] O ministro estava sentado no banco de trás do carro oficial. Ele abriu o vidro e me cumprimentou…”
“…O motorista dele foi quem pegou a caixa com o dinheiro e colocou no porta-malas do carro.”
Abalroado pelos relatos, o ministro com nome de cantor, Orlando Silva (Esportes), entoa um canto usual e algo desafinado. Declara-se “chocado”, “estupefato, “perplexo”. Chama o denunciante, seu camarada de PCdoB, de “bandido”. Ao mesmo tempo, admite tê-lo recebido em audiência.
Pespega no detrator a pecha de chantagista: “Durante um ano esse sujeito procurou gente do ministério e fez ameaça, insinuação. E qual foi a nossa posição?...” “…Amigo, denuncie, fale o que você quiser. Por quê? Porque, como nós temos convicção de que o que foi feito foi o correto, nós não tememos.”
Submetido a uma pergunta trivial –por que não denunciou o chantagista à polícia? –o ministro se enrola. Orlando Silva afirma que “imaginou” que um de seus subordinados pudesse ter levado o assunto às autoridades competentes. “Chegamos a falar sobre essa hipótese.”
O ministro sugere aos repórteres: “Vale a pena olhar qual é a minha declaração de renda, qual é meu patrimônio, qual é minha conta bancária e qual é a dele.”
Enigmático, Orlando Silva indaga: “Qual é a [conta] dele e de outras pessoas que têm relação [com ele]?”
Ficam boiando na atmosfera outras interrogações incômodas: por que diabos o “bandido”, dono de ONG, beliscou verbas do Ministério dos Esportes? Se o próprio ministro suspeita que a conta de seu companheiro de partido engordou além do razoável, por que não o denunciou?
Esse penúltimo escândalo ainda não leva a política brasileira ao fundo do poço. Mas chega mais perto. Já estamos no subsolo, na garagem. Aos pouquinhos, vai-se dissipando aquela esperança de que o fundo do poço possa ser, brasileiramente, adiado ao infinito.
O modelo que expõe os governos ao canibalismo dos partidos morreu. O cadáver fede à beira do abismo eterno. Nesse interminável adiamento do encontro da política com o fundo do poço, o brasileiro, antes habituado a conviver com o inaceitável, esboça sinais de reação.
Organizando-se pela internet, à margem de partidos e entidades, a rapaziada já produziu um par de marchas anticorrupção. Diz-se que 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios é pouca gente. Tolice. Todo grande movimento começa pequenininho. A ficha da garotada começou a cair. A turma percebeu que quem está cavando o poço é a sociedade. Como? Com a enxada da inércia.
Ao ganhar o meio-fio, um pedaço da sociedade informa que prefere o cabo da vassoura ao cabo da enxada. Quem não perceber a importância do gesto arrisca-se a perder a beleza do movimento!
Um comentário:
Desejo que isto influa no andamento das conversações com a fifa e que a copa vá para outro país. Apuração plena !
Postar um comentário