Trinta anos atrás, o dia amanheceu ensolarado. Era feriado religioso, aqui na capital federal. As redações de jornal funcionariam à meia carga, em regime de plantão.
Também, naqueles idos, com a ditadura militar em pleno vapor, pouco adiantaria saber que Câmara e Senado não se reuniriam, que os tribunais superiores, aproveitando o recesso, continuavam impedidos de julgar atos do Poder Executivo, e que ainda vivíamos o impacto do pacote de abril daquele ano, um truculento conjunto de medidas institucionais responsáveis por criar os senadores biônicos, o voto vinculado, a proporcionalidade do número de deputados favorável aos estados do Norte e Nordeste e outras abomináveis regras destinadas a fazer com que a Arena, o partido do governo, não perdesse para o partido da oposição, o MDB, nas eleições do ano seguinte, como havia perdido em 1974.
Rumores, no entanto, começavam a circular desde cedo. Em vez de gozar a folga, todos os funcionários civis e militares do Palácio do Planalto estavam convocados para o trabalho. Na sede do Executivo, foram substituídos os contingentes e sentinelas do Batalhão de Guardas pelos soldados, aliás reforçados, do Regimento de Cavalaria.
Por volta de oito da manhã, o presidente Ernesto Geisel já se encontrava no Palácio, junto com seus principais auxiliares, o chefe do Gabinete Civil, general Golbery do Couto e Silva, o chefe do Gabinete Militar, general Hugo Abreu, o chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, o secretário particular, major Heitor de Aquino, e até o secretário de imprensa, economista Humberto Barreto.
Um bissexto repórter credenciado no Planalto, Evandro Paranaguá, de O Estado de S. Paulo, por acaso passava de carro pela Praça dos Três Poderes quando estranhou a entrada, no Palácio do Planalto, pela garagem, de quatro carros negros em comitiva, três da segurança e o do meio, com o ministro do Exército, general Silvio Frota, fardado e, como sempre, de cenho fechado no banco de trás.
Frota não despachava com o presidente Geisel há semanas, os rumores eram de estremecimento entre eles, já que o ministro do Exército, se não estimulava, ao menos aceitava seguidos pronunciamentos de parlamentares em favor de sua candidatura à presidência da República, em nome da linha dura, grupo militar infenso às esperanças de que um dia Geisel desenvolveria a abertura política, atenuando as tenazes da ditadura.
Rumores, no entanto, começavam a circular desde cedo. Em vez de gozar a folga, todos os funcionários civis e militares do Palácio do Planalto estavam convocados para o trabalho. Na sede do Executivo, foram substituídos os contingentes e sentinelas do Batalhão de Guardas pelos soldados, aliás reforçados, do Regimento de Cavalaria.
Por volta de oito da manhã, o presidente Ernesto Geisel já se encontrava no Palácio, junto com seus principais auxiliares, o chefe do Gabinete Civil, general Golbery do Couto e Silva, o chefe do Gabinete Militar, general Hugo Abreu, o chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, o secretário particular, major Heitor de Aquino, e até o secretário de imprensa, economista Humberto Barreto.
Um bissexto repórter credenciado no Planalto, Evandro Paranaguá, de O Estado de S. Paulo, por acaso passava de carro pela Praça dos Três Poderes quando estranhou a entrada, no Palácio do Planalto, pela garagem, de quatro carros negros em comitiva, três da segurança e o do meio, com o ministro do Exército, general Silvio Frota, fardado e, como sempre, de cenho fechado no banco de trás.
Frota não despachava com o presidente Geisel há semanas, os rumores eram de estremecimento entre eles, já que o ministro do Exército, se não estimulava, ao menos aceitava seguidos pronunciamentos de parlamentares em favor de sua candidatura à presidência da República, em nome da linha dura, grupo militar infenso às esperanças de que um dia Geisel desenvolveria a abertura política, atenuando as tenazes da ditadura.
Frota via comunistas na imprensa, no Congresso, no Judiciário e até no governo. Havia sido mordido pela mosca azul e estava pronto a atender seguidos e anunciados convites para pronunciar conferências por todo o país, em nome da pureza revolucionária!
Apenas os dois generais sentaram-se à mesa de reuniões do gabinete presidencial. As versões depois divulgadas deveram-se obviamente a um deles, no caso, o presidente Geisel. O tonitruante chefe do governo foi logo ao assunto:
" - Frota, nós não nos entendemos mesmo! Quero que você se demita!
Apenas os dois generais sentaram-se à mesa de reuniões do gabinete presidencial. As versões depois divulgadas deveram-se obviamente a um deles, no caso, o presidente Geisel. O tonitruante chefe do governo foi logo ao assunto:
" - Frota, nós não nos entendemos mesmo! Quero que você se demita!
- Não tenho a menor intenção de demitir-me! Sou o chefe do Exército!
- Então você está demitido, porque o cargo me pertence!
- Você não tem força para isso e eu não me demito!"
Seguiram-se adjetivos pouco vernaculares referentes às genitoras de ambos e, depois, a saída do ministro do Exército, batendo a porta.
O general Silvio Frota seguiu para o seu gabinete no Setor Militar Urbano, o Forte Apache, como era chamado, verificando-se um episódio até hoje não contado, por falta de provas: quando a comitiva entrava no túnel privativo do ministro, no Quartel-General, rumo ao elevador que levava ao seu gabinete, ouviu-se um estampido.
Seguiram-se adjetivos pouco vernaculares referentes às genitoras de ambos e, depois, a saída do ministro do Exército, batendo a porta.
O general Silvio Frota seguiu para o seu gabinete no Setor Militar Urbano, o Forte Apache, como era chamado, verificando-se um episódio até hoje não contado, por falta de provas: quando a comitiva entrava no túnel privativo do ministro, no Quartel-General, rumo ao elevador que levava ao seu gabinete, ouviu-se um estampido.
O carro que vinha atrás do carro do ministro, com os seguranças, é abalado por forte explosão. As portas se desprendem e saem feridos dois sargentos, ainda que sem gravidade. Mais tarde, será verificado que uma granada de tempo fora colocada no piso do túnel, certamente destinada a estourar quando a viatura de Frota estivesse passando.
Os responsáveis? Certamente que não os oficiais do gabinete do ministro, mas, ao contrário, gente da presidência da República lá infiltrada.
Em sua sala, surpreendido pela iniciativa de Geisel ao demiti-lo, coisa que não esperava, Frota começa a reunir suas forças! Não aceitaria a demissão e manda telefonar para os comandantes dos quatro Exércitos (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife), além do comandante militar da Amazônia.
Em sua sala, surpreendido pela iniciativa de Geisel ao demiti-lo, coisa que não esperava, Frota começa a reunir suas forças! Não aceitaria a demissão e manda telefonar para os comandantes dos quatro Exércitos (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife), além do comandante militar da Amazônia.
Participa-lhes da eclosão de uma crise, fala da humilhação a que o presidente da República estava submetendo o Exército e pede que se dirijam imediatamente a Brasília, indo do aeroporto diretamente para o Quartel-General.
Pobre estrategista, o ministro, porque desde a véspera os comandantes militares haviam sido avisados por coronéis do Gabinete Militar da presidência da República que algo de grave aconteceria em Brasília, mantendo-se preparados para vir à capital federal, dirigindo-se imediatamente ao Palácio do Planalto.
Pobre estrategista, o ministro, porque desde a véspera os comandantes militares haviam sido avisados por coronéis do Gabinete Militar da presidência da República que algo de grave aconteceria em Brasília, mantendo-se preparados para vir à capital federal, dirigindo-se imediatamente ao Palácio do Planalto.
O comandante do III Exército, general Belford Betlem, encontrava-se de férias, no Rio, e recebera mensagem suplementar: deveria trazer a farda, pois talvez lhe coubesse missão específica. No caso, assumir o ministério do Exército.
Ele também pertencia à linha dura, dias atrás havia expedido nota verberando o comunismo. Foi a primeira surpresa de muitas que o general Silvio Frota receberia naquele dia!
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