Taiadablog: Comandante Niltinho: O hangar e a pista do Fim do Mundo !!! – Parte 1

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Comandante Niltinho: O hangar e a pista do Fim do Mundo !!! – Parte 1

 O Hangar, em Tucumã, onde aparece o leme do CZC !


Existem momentos na vida em que, se você não tiver um pouco de ousadia, coragem, e sobretudo um pouco de esperteza, não vai para frente! E foi isto que aconteceu comigo quando cheguei em Tucumã.

Há muitos anos atrás, havia escolhido viver aqui  pois tinha feito um vôo  com um amigo na região e me encantei de tal forma, que acabei selando um compromisso de vir e jamais sair daqui.

Recém chegado de Goiânia e atravessando uma fase muito difícil, em primeiro lugar, por ter saído de uma região em que era muito fácil voar, pois não haviam preocupações com tamanho de pista, peso excessivo, etc. o que representava, certamente, preocupações a menos!

Além disto, existiam vários aviões no pátio, fazendo o passageiro escolher com quem queria voar, com opções para o piloto mais velho, o mais novo, avião com revisão em dia, avião sem revisão, e assim por diante!.

E, com a safra de mogno já iniciando, como sempre as madeireiras eram a grande locomotiva que arrastava um bando de vagões, por nós representados, tendo todo o restante comércio, pequenas industrias, a igreja, as prostitutas (em grande quantidade!), a policia, enfim todos de uma certa maneira atrelado ao sistema, e lá estava eu com cinquenta anos de idade, um pouco velho para conviver com aquela moçada boa de manche, e como morador na região, conhecedor das pistas de pouso dos madeireiros, senti-me um panaca em meio às feras!

Imaginem vocês se ia sobrar algum vôo para mim? Lógico que não! O que um piloto blefado, tendo que alimentar sua família, poderia  fazer?

E foi ai que tive a maior reação de gênio em toda a minha vida: estava sentado em frente ao todo poderoso senhor Darci da Perach um jovem empresário que movimentava uns “par” de milhões de dólares, rápido de raciocínio,  respeitado pelo dinheiro, pela coragem, e pelos  colaboradores (!?).

Pedia eu encarecidamente, uns voozinhos pois já estava gostando de morar aqui, e não pretendia voltar a Goiânia.

Foi a maior choradeira, mas não suficiente para tocar seu coração, e ele me respondeu:

“- Não tenho vôo para você ,meu esquema  para esta safra já estão todo montado,quem vai voar será o Rochinha e o Gilmarzinho, portanto me desculpe!”

Naquela hora se levantou, como querendo me dizer que meu tempo havia se acabado! Hora de vazar!

Permaneci sentado, como querendo dizer a ele que eu ainda não estava nocauteado, que iria lutar por uma vaga,  custasse o que custasse!

E foi aí, meus amigos que, morando de favor na casa do piloto Bosquinho, dei o maior blefe da minha vida:  perguntei-lhe, de queima bucha:

“- Voce quer vender seu hangar?” (o hangar ficava no centro da cidade e eu havia escutado que ele queria vende-lo). Passava todo dia por lá e pensava que, se esta cidade um dia crescer, este lote vai valer uma fortuna!

Aquela pergunta pegou-o desprevenido, imaginem, momentos antes eu mendigava uns vôos e agora eu estava fazendo uma proposta de compra! Notei que ele ficou surpreso, porém respondeu:

“- Quero vender sim!
- Quanto você quer?
- Quero 20 mil cruzeiros!”

Na bucha, ofereci 10 mil cruzeiros, ao que ele mandou-me fazer o cheque.

“- Mas não é assim não, Darci! Você não tem os vôos para fazer?  É só passá-los para mim que eu te pagarei com os vôos: para os outros você terá que pagar em dinheiro e para mim você empurra aquele hangar já caindo aos pedaços! Não é um bom negocio para você?”

Moço, não é que eu acertei na mosca, na mesma hora ele chamou seu contador e disse:

“- Abra uma conta corrente para o Niltinho pois, de agora em diante vai voar para nós e dê a ele as coordenadas da pista do Fim do Mundo.

Gelei, pois sabia que aquela pista ainda não estava totalmente limpa,  juro que tive vontade de “quiabar” (recusar)  na hora, mas como?

Estava sendo convidado para sair da sala, pois já tinha tomado tempo demais do empresário e fila era grande!

Quando sai da sala, sentia uma grande alegria: tinha entrado na sala do homem “pelado” e estava saindo rico pois não demorou alguns anos e vendi o Hangar pela bagatela de 250 mil Cruzeiros!

Só não sabia, prezados amigos, o que me esperava na tal pista do Fim do Mundo.

Continua 

Comandante Niltinho
é piloto de garimpo

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